A Infraestruturas de Portugal (IP) disse hoje estar disponível para avaliar a colocação de sinais de perigo de anfíbios em todo o país, caso existam estudos científicos que sustentem “grande incidência” de atropelamentos na rede viária gerida pela empresa.
“Existe a disponibilidade para aplicar esses sinais e outras medidas preventivas se existirem estudos, de politécnicos ou universidades, que comprovem que, em determinadas zonas, existe uma grande incidência de atropelamentos de anfíbios por estarem situadas rotas destas espécies”, afirmou hoje à agência Lusa Graça Garcia, responsável pelas questões relacionadas com biodiversidade da IP.
A bióloga explicou que falava a propósito do Projeto LIFE LINES, implementado no distrito de Évora pela Rede de Infraestruturas Lineares com Soluções Ecológicas e coordenado pela Universidade de Évora (UE), explicou que “se houver fundamento para a aplicação de sinais de perigo de anfíbios (..), essa decisão terá sempre de ser tomada com a autorização da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR)”.
“Em Évora a universidade desenvolve um projeto de monitorização da mortalidade dos animais e, através desse trabalho, feito há mais de dez anos, estão identificadas as zonas problemáticas onde, em articulação com a ANSR foram aplicadas, a título experimental, alguns sinais verticais em estradas nacionais daquele distrito para alertar o condutor para zonas de atravessamento de anfíbios, como rãs, sapos e salamandras”, especificou Graça Garcia, responsável na IP pela gestão do Projeto LIFE LINES.
A colocação de novos sinais de perigo de anfíbios não será feita ao abrigo deste projeto, que se destinou apenas ao destrito de Évora, mas a IP mostra-se disponível para encontrar soluções de financiamento se a situação for comprovada em outras regiões do país.
O Projeto LIFE LINES, que conta com cofinanciamento comunitário, decorre no Alentejo Central e visa ensaiar e avaliar medidas que mitiguem efeitos negativos de infraestruturas lineares (como ferrovias, estradas e linhas de transporte de energia) em várias espécies de fauna, assim como promover a criação, ao longo das mesmas, de uma Infraestrutura Verde, com habitats propícios para abrigo e alimentação dos animais.
Anteriormente à Lusa, António Mira, professor do Departamento de Biologia da UE e coordenador do LIFE LINES, vincou que os sinais de perigo com anfíbios “foram colocados, no passado verão, nos três sítios” onde foram detetados “mais atropelamentos daquelas espécies animais” e “foram autorizados a nível experimental pela ANSR”, depois de “mais de dois anos de espera”.
“E porque é que há aquele sinal de perigo? Porque há ali um perigo para os condutores e um perigo para os anfíbios. Servem para alertar os condutores por uma questão de segurança rodoviária e também para proteger aquelas espécies”, argumentou.
Os locais onde os sinais estão colocados, explicou o professor, são “zonas de passagem daqueles animais nas estradas” e, em noites com visibilidade baixa e com chuva, muita humidade e temperaturas amenas, “quando os anfíbios ali passam em grandes concentrações, há condutores que ficam surpreendidos e tentam travar ou mudar de direção”.
“E quando os animais acabam por ser esmagados, fica uma película fina na estrada que é perigosa em caso de travagem, porque os carros podem derrapar. Por isso, os sinais funcionam como um alerta para os condutores, está tudo justificado à luz da lei e fazemos a respetiva monitorização, para ver se esta e outras medidas do LIFE LINES são eficazes e se contribuem para reduzir a mortalidade dos animais e os acidentes rodoviários”, frisou António Mira.