Investigadora de Ponte de Lima ganha bolsa para desenvolver nova terapia para doenças autoimunes

Ângela Fernandes é doutorada pela Universidade do Minho

Ângela Fernandes, investigadora natural de Ponte de Lima, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), ganhou recentemente uma bolsa bilateral de investigação, no valor de três mil euros, que lhe permitirá trabalhar numa nova estratégia terapêutica a ser aplicada em doenças autoimunes e, futuramente, em cancro.

A bolsa foi-lhe atribuída pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), pela Embaixada Britânica Lisboa – UK Science and Innovation Network e pela Associação Portuguesa de Investigadores e Estudantes no Reino Unido (PARSUK).

“É uma enorme honra ver reconhecido este projeto por parte de associações de elevado prestígio, como a PARSUK, a Fundação para a Ciência e Tecnologia e a British Embassy Lisbon – UK Science and Innovation Network“, afirma a investigadora, de 32 anos, em declarações a O MINHO.

E acrescenta: “A atribuição desta bolsa representa não só a valorização e reconhecimento da investigação científica do meu grupo de investigação no i3S, mas também a importância e o impacto do estudo na área da autoimunidade, sendo de uma enorme satisfação perceber que este projeto poderá ajudar um elevado número de pessoas que vivem com estas patologias complexas a terem um dia a dia melhor e menos incapacitante. É com este intuito que os investigadores na nossa área trabalham arduamente”.

“Sendo eu uma investigadora júnior, a oportunidade de liderar este projeto de investigação inovador com uma equipa multidisciplinar e internacional representa um desafio extremamente motivante e impulsionador dos próximos passos na minha carreira científica”, sublinha Ângela Fernandes, natural da freguesia de Calvelo e atualmente a residir no Porto.

Do fascínio pelas enciclopédias dos pais à investigação

A investigadora frequentou o Ensino Básico e Secundário nas escolas de Ponte de Lima (Escolas António Feijó e Secundária de Ponte de Lima). Fez a licenciatura em Biologia Aplicada na Universidade do Minho e de seguida Mestrado e Doutoramento na área das Ciências da Saúde também na Universidade do Minho.

Nos primeiros trabalhos de escola baseava-se nas enciclopédias dos pais e aí – ainda que só o viesse a perceber mais tarde – começou a paixão pela investigação.

“Sempre fui extremamente curiosa e apaixonada pela área da saúde mas não sabia bem a vertente que queria seguir dentro desta. Lembro-me de ter um fascínio pelas enciclopédias que os meus pais tinham em casa e de fazer os primeiros trabalhos da escola baseados nestas, isto quando a internet ainda não era de uso comum. Penso que começou aí a crescer a paixão pela pesquisa/investigação, mas só na idade adulta é que consegui perceber isso”, recorda.

“A oportunidade que os investigadores têm de orientar e ensinar alunos é também um dos pontos que me fascina nesta profissão, algo pelo qual tenho gosto desde muito nova”, completa.

Sobre o projeto

O projeto premiado visa “desvendar o impacto de linfócitos T reguladores que apresentam modificações nas cadeias de açucares na regulação da resposta imune em doenças autoimunes”. Em particular, acrescenta Ângela Fernandes, citada no jornal da Universidade do Porto, irá “estudar o impacto da reprogramação da glicosilação das células T reguladoras numa doença autoimune especifica que é a Miastenia Gravis (MG)”.

A MG afeta as junções neuromusculares, levando a fraqueza muscular generalizada e fadiga, com consequente restrição crónica e gradual das funções diárias dos doentes podendo levar à morte.

“Os nossos dados preliminares demonstraram que as células T reguladoras de doentes com MG apresentam uma composição de açúcares alterada, caracterizada por défices de estruturas especificas de glicanos, quando comparados com as células T reguladoras de indivíduos saudáveis. Estas evidências constituíram a base deste projeto, que conta com a participação do serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto e com a colaboração do Departamento de Neurologia Clínica do Hospital John Radcliffe, em Oxford, no qual planeámos reprogramar a glicosilação das células T reguladoras antevendo o controlo da resposta imune”, explica Ângela Fernandes.

Os resultados obtidos com este projeto, sublinha a investigadora, “serão cruciais para clarificar o impacto dos glicanos na modulação das atividades das células T reguladoras na autoimunidade e propor a reprogramação destas células como uma potencial estratégia terapêutica para controlar e prevenir doenças autoimunes e mesmo, num espectro diferente, o cancro”.

O projeto de Ângela Fernandes será desenvolvido no grupo “Immunology, Cancer & Glycomedicine” do i3S, liderado por Salomé Pinho, em colaboração com a neurologista Maria Isabel Leite, do Departamento de Neurologia Clínica do Hospital John Radcliffe, em Oxford, no Reino Unido.

O financiamento permitirá à investigadora aceder a um número elevado de amostras humanas de pacientes com MG disponíveis no Hospital John Radcliffe e caracterizar o seu perfil de glicanos. Por outro lado, “irá também fortalecer as relações/colaborações entre as duas instituições envolvidas”.

 
Total
0
Partilhas
Artigo Anterior

“Passamos de uma época de pandemia para uma época de pandemónio”

Próximo Artigo

Casal apanhado pelos proprietários a furtar gasóleo de retroescavadora em Barcelos

Artigos Relacionados
x