Investigadora da UMinho põe alunos de Braga a pensarem na escola do futuro

Projeto da investigadora Elisabete Barros, integrado na tese de doutoramento: “Sabe-se o que pensam os governos, os professores, os académicos mas não se sabe o que pensam os alunos”
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Poucas mesas e cadeiras; puffs e sofás; quadros interativos; há quem queira cantinhos de leitura e outros substituem os livros por tablets; janelas grandes para entrar muita luz. Estas são algumas das ideias defendidas pelos alunos das Escolas Básicas do primeiro e segundo ciclos de Gualtar. Um projeto universitário, desenvolvido pela investigadora Elisabete Barros, da UMinho, pôs os alunos a pensar na escola do futuro.

A ideia mais arrojada é defendida pelo Rodrigo do quarto ano: uma piscina de bolas dentro da sala de aulas. “Podia ser uma ideia para os dias de chuva”. A verdade é que quanto mais velhos, mais as novas tecnologias estão presentes na sala de aulas do futuro.

“Não há livros porque há tablets e quadros interativos”, defende Tiago que logo acrescenta: “os professores podem colocar os exercícios no quadro, cada um de nós resolvia nos tablets e eram logo corrigidos”.

Também há diferenças entre o pensamento feminino e masculino: mais ‘românticas’, as meninas, como a Teresa e a Leonor, juntam o cantinho da leitura, “com puffs e uma estante de livros como separação”, às novas tecnologias. “Cada um poderia estar na sala a estudar o que lhe apetecesse: se quisesse ler um livro, lia; se quisesse fazer um exercício de matemática, fazia”.

Mas todos são unânimes numa coisa: a professora continuaria a ter uma secretária e os intervalos não deixariam de existir. Aliás, é na questão do mobiliário que o pensamento é mais tradicional: todas as salas construídas por eles têm mesas e cadeiras (algumas rotativas e móveis) ainda que em menor número e substituídas por puffs e sofás.

Projeto

Fotos: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

O projeto está integrado numa tese de doutoramento, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e em desenvolvimento no Instituto de Educação da UMinho. A investigadora Elisabete Barros, especialista em Tecnologia Educativa, quis perceber quais são as perspetivas, ideias e tendências da escola do futuro.

“As escolas não estão adaptadas ao século XXI, aos nativos digitais, nem têm evoluído continuando com as mesmas práticas e metodologias de há 100 anos atrás, como nos refere a literatura”, começa por enquadrar a O MINHO.

“As escolas precisam de se atualizar indo ao encontro das crianças que desde o berço estão em contato com as tecnologias”. Por isso, “as crianças têm outras necessidades que as escolas não lhes proporcionam”.

Uma das lacunas identificadas pela investigadora era a falta de voz dos alunos na definição da escola do futuro: “sabe-se o que pensam os governos, os professores, os académicos mas não se sabe o que pensam os alunos”.

A escolha recaiu em alunos do primeiro e segundo ciclos entre os 08 e os 15 anos. “Tentei uma abordagem diferente, usando várias atividades onde eles pudessem refletir sobre a escola, dando-lhes voz e quem sabe, no futuro, as coisas possam mudar”.

Metodologia

Fotos: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Com o apoio dos coordenadores, foram escolhidos 15 alunos do primeiro ciclo e 20 estudantes do segundo, que uma vez por semana, se juntavam para abordar diferentes assuntos. O projeto apresenta um modelo de análise composto por quatro elementos: pedagogia, tecnologia, relações sociais e arquitetura.

Entre as atividades propostas, foram conhecidos exemplos de outras escolas espalhadas pelo mundo para que “tivessem uma perspetiva diferente do seu quotidiano”. Depois, deu para perceber que “as novas tecnologias ainda não são muito usadas em contexto de sala de aulas” e finalmente foi-lhes pedido que idealizassem uma sala de aula do futuro.

Resultados

Fotos: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Ainda que a tese só tenha que estar concluída em Março do próximo ano, Elisabete Barros já fez “uma análise muito superficial” dos dados destacando “as diferentes perspetivas conforme as idades: até ao 5º ano muito ligados à brincadeira; nos anos seguintes, são um pouco mais reflexivos, mais críticos, mais reivindicativos. O currículo muito extenso e muitas horas na escola, as atividades são maioritariamente orientadas por adultos e de repetição. Não sentindo que possam opinar sobre determinados assuntos, desejam coisas simples como espaços modernos de convívio e brincadeira”.

A investigadora refere ainda que “quer alunos, quer professores têm abertura para a mudança mas é um processo complexo e difícil. O conhecimento de outras realidades poderá ajudar a perceber, por exemplo, como resolveriam a introdução das novas tecnologias indo além do ‘não se pode utilizar na sala de aula’”.

Elisabete Barros defende que “a mudança é possível mas a comunidade educativa precisa de tempo para refletir, para experimentar e errar. Não se pode ter uma escola virada para as provas de aferição que ocupam as prioridades dos professores ficando sem tempo, também eles, para implementarem mudanças”.

 
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