Torcato Meira, da Escola de Medicina da Universidade do Minho, venceu a 6.ª edição do Prémio MSD de Investigação em Saúde, por um projeto pioneiro para compreender como o envelhecimento afeta a nossa memória social. A distinção tem o valor de 10 mil euros e foi atribuída pelo grupo farmacêutico MSD Portugal, que reconhece anualmente projetos inovadores com potencial impacto nos cuidados de saúde do país.
Torcato Meira concorreu com o trabalho “Memória social e respetivo substrato neural no envelhecimento”.
Em comunicado, a academia minhota adianta que a investigação vai colocar, pela primeira vez, os seniores participantes numa tarefa de interação com personagens num ambiente virtual, enquanto o seu cérebro é monitorizado por imagens de ressonância magnética – em particular, pretende-se avaliar nos idosos o volume e a atividade do hipocampo, que fica nas laterais do cérebro e está sobretudo associado à memória, aprendizagem e regulação emocional, e também avaliar alterações na substância branca no cérebro, importante para múltiplas funções cognitivas.
“A hipótese central é que a memória social se deteriora com o envelhecimento, o que por sua vez se poderá associar à disfunção do hipocampo e a lesões da substância branca”, diz Torcato Meira, citado no comunicado.
Memória social é a capacidade de formarmos memórias de outras pessoas e as recordarmos, o que é fundamental na interação social e na manutenção de relações interpessoais.
“O impacto do envelhecimento na memória social ainda não foi devidamente estudado no mundo, logo este trabalho é especialmente relevante numa sociedade ocidental em progressivo envelhecimento e onde a cognição é crítica para a independência funcional dos idosos”, salienta a UMinho.
Preencher uma lacuna na ciência
O estudo destaca-se pelo uso de uma tarefa única, adaptada à população portuguesa, que avalia a memória social de forma dinâmica e envolvente. Isso permite a análise mais detalhada de como os seniores processam e retêm informações sociais, o que é crucial para compreender o seu funcionamento cognitivo. Torcato Meira vai ainda pesquisar se o uso de um grupo específico de antidepressivos pode mitigar a perda da função de memória social e, assim, contribuir para futuras intervenções terapêuticas.
“Os resultados deste projeto podem preencher uma lacuna crítica no conhecimento científico, mas também fornecer bases para novas terapias e práticas clínicas focadas no envelhecimento saudável e na manutenção das capacidades cognitivas, como a identificação precoce de alterações na memória social e novas abordagens de prevenção, particularmente em cuidados de saúde primários, potencialmente gerando um impacto substancial no bem-estar mental e social das populações seniores”, explica o investigador.
Torcato Meira tem 32 anos e é de Viana do Castelo. Fez o doutoramento em Medicina nas universidades do Minho e de Columbia (EUA) e uma pós-graduação na Escola Médica de Harvard (EUA).
Tem vários prémios científicos e artigos em revistas ímpares, como “Nature” e “The New England Journal of Medicine”.
É professor de Neuroanatomia e investigador na Escola de Medicina da UMinho, além de médico neurorradiologista no Hospital de Braga.