A rotura de um veio foi a causa direta da queda do motor de um comboio registada em janeiro em Afife, Viana do Castelo, segundo o relatório da investigação, esta quarta-feira, divulgado, que aponta críticas aos responsáveis pela manutenção.
O relatório, divulgado pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), refere que a peritagem identificou que o veio cardan tinha uma fissura mal reparada, “originada, muito provavelmente, por uma incorreta soldadura de um contrapeso no processo de calibragem”.
Por isso, o GIAAF alude a “lacunas” nos processos de manutenção do comboio.
A empresa responsável pela manutenção é a espanhola Renfe Fabricación y Mantenimiento, que contrata as operações de recondicionamento e equilibragem dos veios cardan a prestadores de serviços.
Para o GIAAF, a ocorrência de Afife evidencia não só “deficientes” processos de trabalho e de inspeção por parte do prestador de serviços, mas também “lacunas” da Renfe quanto à monitorização e controlo da qualidade dos trabalhos contratados externamente.
Segundo aquele gabinete, a Renfe não foi eficaz na identificação das debilidades dos procedimentos utilizados pelo contratado na execução de soldaduras.
A queda do motor registou-se na noite de 31 de janeiro de 2019, em Afife, no distrito de Viana do Castelo, numa automotora que ligava o Porto a Valença.
O GIAAF concluiu que resultou da “fratura completa” de um veio cardan, tendo essa rotura provocado a propagação de uma fissura existente no aço, originada pela incorreta reparação de uma fissura mais antiga.
Diz ainda que a fissura que veio a dar origem à rotura estava oculta sob um contrapeso de equilibragem dinâmica do veio, o que não permitiu a sua deteção aquando das operações de manutenção.
O comboio em causa é propriedade da Renfe mas está alugado pela CP. Integra uma série que foi construída entre 1981 e 1984.
Segundo o relatório do GIAAF, a queda do motor obrigou a uma paragem na circulação na Linha do Minho entre Viana do Castelo e Valença, acarretando custos diretos superiores a 68 mil euros, relacionados com a reparação e imobilização do comboio e com as despesas com pessoal.
O GIAAF acrescenta que, na sequência do acidente, foi penalizada a circulação de quatro comboios, totalizando um atraso de 696 minutos.
Esta penalização, e considerando o custo estatístico associado ao tempo de atraso devido a acidentes, representa um valor de 11.572 euros.
O gabinete responsável pela investigação sublinha que, após o acidente, a Renfe alterou os procedimentos de inspeção e monitorização, pelo que entendeu não ser necessário emitir recomendações de segurança.
As investigações de segurança realizadas pelo GPIAAF têm como único objetivo contribuir para a melhoria da segurança, não visando o apuramento de culpas ou responsabilidades de pessoas ou organizações.