O incêndio que deflagrou no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), no passado dia 15 de agosto, destruiu dois ninhos de abutre-preto (Aegypius monachus), afetou outros seis e uma cria foi encontrada morta.
“Não morreu no incêndio propriamente dito, mas provavelmente por intoxicação pelo fumo e cinzas, numa morte lenta e agónica. O cadáver foi recolhido para ser necropsiado no Hospital veterinário da UTAD”, explica a nota enviada a O MINHO pelo LIFE Aegypius Return.

De acordo com o projeto de conservação da espécie, este foi um “duro golpe para a pequena colónia desta espécie ameaçada em Portugal”.
O abutre-preto é uma das aves de rapina mais raras da Europa e a pequena colónia no PNDI contava apenas com oito casais reprodutores antes do incêndio, dos quais dois ficaram com o ninho totalmente destruído e outros dois com o ninho severamente afetado pelas chamas.
O fogo queimou também infraestruturas do projeto LIFE Aegypius Return, incluindo o campo de alimentação e o contentor de apoio à estação de aclimatação, “essenciais ao programa de conservação”.


Graças a uma “operação rápida e coordenada” pela Palombar, ICNF, Vulture Conservation Foundation, Faia Brava, Hospital Veterinário da UTAD e Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA), foram resgatados os seis abutres-pretos que se encontravam em aclimatação, evitando a “perda total deste programa de conservação”.
“A colónia do Douro Internacional é a mais pequena e isolada do país, mas tem valor estratégico para a recuperação da espécie. A perda de ninhos e de habitat reverte anos de esforços de conservação e pode levar ao abandono da área pelos casais reprodutores”, explica ainda.
Os parceiros LIFE Aegypius Return apelam agora à “solidariedade da sociedade civil”. Foi lançada uma campanha de recolha de donativos para apoiar a reposição urgente dos equipamentos destruídos e a recuperação do habitat. Mais informações e donativos aqui.
Oito casais reprodutores
A colónia de abutres-pretos do Douro Internacional contou este ano com oito casais reprodutores, cinco em Portugal e três do lado espanhol. Um total de cinco crias desenvolveram-se e estavam a ser monitorizadas pela Palombar, com apoio do ICNF.
“Quatro crias tinham já saído do ninho, mas uma era ainda jovem e não voava. No entanto, atendendo à idade desta cria, esperava-se que abandonasse o ninho nos dias seguintes. Quando o fogo e o fumo permitiram o acesso aos locais, foi possível verificar que o ninho da cria não voadora foi impactado por chamas muito próximas, e que a cria já não se encontrava nele”, explica o projeto.
E conclui: “Sendo a colónia de tão pequena dimensão, este é um enorme retrocesso na sua conservação, e pode suceder que os adultos – mesmo que tenham sobrevivido – abandonem este território, revertendo vários anos de esforços para restaurar a colónia”.
O PNDI inclui áreas dos municípios de Mogadouro, Miranda do Douro, Freixo de Espada à Cinta (distrito de Bragança) e Figueira de Castelo Rodrigo (distrito da Guarda).