Habitantes do bairro social de Arcozelo, em Ponte de Lima, estão revoltados com a Águas do Alto Minho (AdAM) por lhes cobrar taxa de saneamento nas faturas relativas às horas urbanas. Porém, contando só a tarifa da água, há valores que quase triplicaram em relação a quando o serviço era prestado pelo município.
Questionada por O MINHO, a empresa afirma que as cobranças indevidas de taxa de saneamento serão corrigidas. Em relação ao aumento geral das faturas, assume que houve uma “harmonização” dos preços, mas que “nunca poderão traduzir aumentos percentuais” tão grandes.
“Normalmente pagava entre 2 a 3 euros; agora pago de 10 a 12 euros”, afirma a O MINHO uma consumidora, dos onze que têm contador para as hortas urbanas. “Saneamento na água das hortas? Nunca outra vi”, acrescenta.
Outra consumidora, Rosa Soares, considera que “não é justo saneamento nas hortas” e realça que esta água já é mais barata porque “não é de consumo, não dá para beber”. “O máximo que pagávamos no verão era cinco euros, e depois ainda recebíamos dinheiro para trás, e agora há quem tenha faturas de 22 euros. Assim, quando chegar o verão, então compram-se os produtos”, critica.
Nas respostas enviadas a O MINHO, a AdAM esclarece que “a faturação de serviço de saneamento a clientes que não dispõem do serviço resultou do processo de integração e transferência de ficheiros de clientes e afetou alguns clientes em dois municípios. Os casos identificados e relativos à primeira fatura já foram objeto de correção e os restantes acertos serão realizados aquando da emissão da próxima fatura”. E garante que “todas as situações estão a ser analisadas” e “nos casos em que exista alguma cobrança indevida, esta será brevemente regularizada e ressarcida junto dos consumidores”.
Consumidores queixam-se de aumentos
Nas faturas de abastecimento das hortas a que O MINHO teve acesso, de dois consumidores, verifica-se que, só na tarifa de água, há valores que quase triplicam.
A AdAM explica que a empresa “resulta da parceria entre o Estado e sete Municípios da região do Alto Minho, os quais praticavam diferentes valores para as tarifas fixa e variável, tanto para abastecimento como para saneamento. Com a agregação dos municípios houve uma harmonização dos valores dessas mesmas tarifas. Não obstante os aumentos que resultaram dessa harmonização, as tarifas aprovadas para 2020, para consumos médios equivalentes e a mesma tipologia de clientes, nunca poderão traduzir aumentos percentuais dessa natureza”. A empresa assegura que “promoverá a análise detalhada do assunto, sendo certo que só perante o contexto da situação se pode dar uma resposta adequada”.
Contudo, são muitas as queixas relativamente aos preços praticados pela AdAM e não só na águas para as hortas urbanas, mas também na de consumo doméstico. “Tenho um T1, o máximo que paguei foi 13 euros e agora vem-uma conta de 44 euros”, aponta Rosa Soares, acrescentando que “há pessoas que têm faturas de 125 euros”. “Isto é um bairro social, não se admite”, sentencia.
Já esta semana, recorde-se, um grupo de cerca de 170 consumidores subscreve uma reclamação à AdAM a contestar o que classifica de “verdadeiro saque” aos bolsos dos munícipes do distrito de Viana do Castelo.
Grupo de consumidores contesta “saque” praticado pela Águas do Alto Minho
Já hoje a loja da empresa em Caminha foi vandalizada.
AdAM assume demora no atendimento
Outra queixa recorrente é a de que a empresa, cujo atendimento ao público está encerrado por causa da pandemia de covid-19, não atende os telefonemas dos consumidores que pretendem apresentar reclamações quanto ao serviço prestado.
“Em virtude da situação de pandemia, a AdAM encerrou as suas lojas de atendimento ao público, reduzindo assim a sua capacidade de atendimento ao cliente e divulgação de informação. Apesar do ter reforçado os canais alternativos, o número elevado de contatos não tem permitido dar uma resposta célere a todos”, assume a empresa, deixando, todavia, a garantia de que, “não obstante alguma demora no atendimento, todas as solicitações estão a ser devidamente acompanhadas e respondidas”.
A AdAM é detida em 51% pela Águas de Portugal (AdP) e em 49% por sete municípios do distrito de Viana do Castelo (Arcos de Valdevez, Caminha, Paredes de Coura, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira), que compõem a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho.
Três concelhos do distrito – Ponte da Barca, Monção e Melgaço – reprovaram a constituição daquela parceria.
A nova empresa começou a operar em janeiro, “dimensionada para fornecer mais de nove milhões de metros cúbicos de água potável, por ano, a cerca de 100 mil clientes e para recolher e tratar mais de seis milhões de metros cúbicos de água residual, por ano, a cerca de 70 mil clientes”.