A Polícia Judiciária (PJ) fez buscas, em Barcelos, Famalicão e Amarante, na passada quinta-feira, relacionadas com o homicídio de “Pirinhos”, cujo cadáver foi encontrado em Braga, há um ano e meio, depois de ter sido baleado na cabeça, num “ajuste de contas” por tráfico de droga.
Inspetores da Diretoria do Norte da PJ e o Ministério Público consideram ter esclarecido o assassínio de “Pirinhos”, empresário da noite do Porto, tendo realizado buscas aos dois principais suspeitos, em moradias e stands de automóveis, em Barcelos, Famalicão e Amarante.
Quem terá ajudado a esconder o cadáver de “Pirinhos”, segundo admite a PJ e o Ministério Público, é um empresário de compra e venda de automóveis, morador em Famalicão, estabelecido em Barcelos, que esteve preso oito anos, em Braga, por crimes de tráfico de droga, em Ponte de Lima.
Este empresário terá sido, segundo a tese da PJ e do MP, por sua vez, procurado por um comerciante do mesmo ramo, mas residente e com stand em Amarante, que se suspeita ter sido quem assassinou José Pires (“Pirinhos”), a quem tinha convidado para almoçar, também em Amarante.
Este empresário do comércio de automóveis, de Amarante, tal como o empresário de Famalicão, com stand aberto em Barcelos, também esteve preso, por tráfico de droga, no Estabelecimento Prisional de Braga, bem perto de onde o cadáver foi encontrado.
Ambos negaram à PJ qualquer tipo de envolvimento no homicídio de “Pirinhos”, ou que tivessem sequer algo a ver com o desaparecimento, durante três semanas, em 2023, acabando por ser encontrado morto, em Braga.
O cadáver de José Pires, empresário ligado ao caso “Noite Branca”, residente em Gondomar, foi encontrado na Rua do Abade da Loureira, na freguesia de São Vicente, por debaixo do viaduto da Circular Norte de Braga.
“Pirinhos” esteve desaparecido durante cerca de três semanas, desde o dia 26 de maio de 2023, levando os seus familiares em desespero de causa, a lançar apelos, através das redes sociais, até que o cadáver foi encontrado, já no dia 18 de junho de 2023.
José Manuel Barbosa Pires, de 52 anos, nascido em 30 de maio de 1971, na freguesia de Campanhã, Porto, era comerciante de automóveis, residia em Valbom, Gondomar, quando foi assassinado, alegadamente no dia 26 de maio de 2023.
Um tiro na cabeça de cima para baixo
A autópsia aponta como causa direta da morte um tiro na cabeça, disparado de cima para baixo, com uma pistola de calibre 6.35 milímetros, segundo a perícia realizada no Gabinete Médico-Legal e Forense do Cávado, em Braga.
A tese da Polícia Judiciária e do MP aponta já como móbil do assassínio de “Pirinhos” negócios com tráfico de drogas duras, que teriam corrido mal, admitindo-se que aquando do crime possa ter desaparecido uma grande quantidade de estupefacientes.
Sabe-se haver imagens de videovigilância captando o empresário de Amarante a almoçar com “Pirinhos”, período durante o qual não esteve ligado o telemóvel do principal suspeito, assim como estaria desligado o telemóvel da vítima, José “Pirinhos”.
A investigação é da Secção Regional de Combate ao Terrorismo e Banditismo, da Diretoria do Norte da PJ, que fez as buscas, presididas pelo juiz de instrução criminal, Pedro Miguel Vieira, com a participação de uma magistrada do Ministério Público.
Pedro Miguel Vieira, que foi até há dois anos atrás juiz de instrução criminal em Guimarães, abrangendo os crimes mais graves contra a vida em sociedade, no distrito de Braga, estando agora colocado já no Porto, presidiu diretamente às buscas policiais.
O caso encontra-se no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional do Porto do Ministério Público, enquanto as investigações criminais estando já desde o início a cargo da referida subunidade da Diretoria do Norte da Polícia Judiciária.
As buscas decorreram na última quinta-feira, numa residência e num stand de automóveis em Amarante, que é propriedade do principal suspeito de assassinar “Pirinhos”, bem como na casa em Famalicão e no stand em Barcelos do seu alegado cúmplice.
“Pirinhos” já tinha problemas antigos
Em 2007, José Pires terá sido alvo de extorsão, numa discoteca, em Matosinhos, o que terá desencadeado a luta sem quartel pelo controlo da segurança privada ilegal nas casas noturnas do Porto, levando depois à operação Noite Branca, da PJ do Porto.
Dois anos depois, no ano de 2009, quando se dirigia para uma casa de alterne, nos arredores de Vigo, José Pires foi alvo de uma emboscada, tendo sido torturado, enquanto conduzido para Vidago, deixando-o ficar então enterrado quase até ao pescoço.
Nessa ocasião, o automóvel de “Pirinhos”, da marca BMW, foi queimado, na zona de Chaves, o que terá sido um sinal para o intimidar, assim como a todos aqueles que estavam mais ligados a José Pires, alegadamente nos negócios de tráfico de droga.
Já nesta década, “Pirinhos” foi julgado, em Lisboa, por ligações com o narcotraficante Franklim Lobo, por tráfico de droga, tendo sido absolvido, já em 2021, assim como saiu depois absolvido, aquando da repetição parcial do mesmo julgamento, em Lisboa.
No currículo policial de “Pirinhos” consta apenas uma condenação, em pena suspensa, por tráfico de droga, tendo passado ao lado de grandes processos, onde só surgia como testemunha ou vítima, mas desta vez terá sido vítima de um “ajuste de contas”.
José Pires tinha na ocasião uma namorada, de nacionalidade brasileira, Carine Cardozo, que fugiu do Porto, alegadamente por medo de eventuais represálias, após protagonizar uma acesa cena de ciúmes, no Porto, com outra mulher ao lado de “Pirinhos”.