Os dois irmãos do homem que está a ser julgado no Tribunal de Braga por ter asfixiado a mulher, até à morte, a 08 de março de 2019, no restaurante pertença de ambos, em Salamonde, Vieira do Minho, negaram, hoje, perante os juízes que o casal se desse mal, durante os 17 anos em que viveu em Inglaterra.
Falando através do skype, a partir do Reino Unido, as duas testemunhas contaram que, no período em que o casal ali viveu, antes de regressar a Salamonde, era notório o carinho existente entre ambos. Um deles até declarou que se tratavam por “amor” e por outras expressões de meiguice.
De acordo com o relato do advogado de defesa, Luís Correia, do escritório de João Magalhães, os dois irmãos contaram que o mesmo carinho existia entre o arguido Manuel António Fidalgo, de 45 anos, e os dois filhos do casal.
A defesa questionou-os acerca de um alegado “esbajamento de dinheiro” que o arguido terá protagonizado, já em Vieira do Minho, e ambos disseram que tal “é inverosímel”, dado que o Manuel Fidalgo sempre foi um homem trabalhador, do estilo “casa/trabalho”. Um deles terá afirmado que, quando o convidavam para “beber um copo com os amigos” em Inglaterra, na maioria das vezes, o arguido escusava-se com o trabalho e os deveres familiares.
“Pediu-nos dinheiro emprestado para obras em Portugal, mas pagou tudo , certinho”, sublinharam.
A tese dos gastos excessivos foi afirmada em Tribunal pelo pai da vítima, ex-sogro do arguido, mas foi logo contestada pela defesa.
Amante?
Na ocasião, João Magalhães perguntou aos dois irmãos se sabiam ou tinham tido conhecimento de que a vítima, Ana Paula, mantinha uma relação amorosa com um homem de nome Jorge – testemunha no processo – e que “ajudava” graciosamente” no café/restaurante de Salamonde.
Os dois – ainda segundo a versão daquele advogado – terão dito que nunca viram nada, embora salientassem que, quando vinham de férias a Portugal, notavam que havia “grande cumplicidade entre os dois”.
Em julgamento, o Jorge negou ter sido amante da vítima, embora admitisse que gostava “muito dela”.
De seguida, foi ouvido um militar da GNR, que estava de serviço no Comando de Braga quando o arguido ali se foi entregar tendo dito, apenas, que “estava muito nervoso” e tinha “alguns arranhões na cara”.
O julgamento foi interrompido por volta do meio-dia, devido a uma falta de luz, a qual, embora tenha durado apenas três minutos, obrigaria ao recomeço do processo informático, o que seria moroso. Prossegue, assim, em maio.
Fica em preventiva
Entretanto, o Tribunal rejeitou, ontem, o pedido de passagem de prisão preventiva para domiciliária, com pulseira eletrónica, feito pela defesa de Manuel Fidalgo. O juiz escreveu que, atendendo ao tipo de crime, perpetrado no interior de um casal, a alteração da medida de coação traria “risco de perturbação da ordem e tranquilidade públicas”. Sobre a necessidade de Manuel António Fidalgo ajudar os filhos, lembra que estes disseram em julgamento que já nada têm a ver com o pai.
“Mantém-se igualmente o perigo de fuga”, sublinha o juiz, lembrando que trabalhou 17 anos em Inglaterra, onde ainda tem família.
Apertou-lhe o pescoço
A pronúncia diz que o arguido, motorista de profissão, terá “apertado o pescoço” da mulher, Ana Paula, de 41 anos, “com o que lhe causou a morte por asfixia”. O alegado crime ocorreu, supostamente por razões amorosas, no dia 07 de março de 2019, pelas 21 horas, na lavandaria da pensão/restaurante que ambos exploravam no local.
A morte da mulher ocorreu um dia antes de o casal assinar escrituras sobre bens que possuíam em conjunto, um ato preparatório do divórcio. O Ministério Público especifica que, ao fim da tarde, o arguido chegou ao restaurante e encontrou, atrás do balcão, um homem de nome Jorge, que pensava ser amante da mulher, e que é testemunha no processo. Pelas 20:00, numa discussão – na lavandaria – sobre as desavenças que mantinham por causa dele, o arguido, desagradado, e com ciúmes, “colocou-lhe as mãos no pescoço, e apertou-o com força, impedindo-a de respirar. Até lhe tirar a vida”. O alegado homicida casou com a vítima em Agosto de 1998.