Há um tesouro escondido em Esposende que nos lembra como é bom ser criança

Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

A rua de São Cláudio, em Curvos, Esposende, parece em tudo igual a qualquer outra das redondezas. Mas, como que escondido, num cantinho bem tratado à face da estrada, há algo que a distingue. Parece um local mágico no qual ao entrarmos viajamos no tempo, até à infância. Como se fôssemos personagens numa das aventuras do Tom Sawyer. O “Canto da Cabana” foi construído nos anos 80 por três amigos, o Zé Manel, o Chico e o Toni, que ali fizeram o “quartel-general” para as suas brincadeiras. Agora, são crescidos. Mas um deles, Zé Manel, recuperou a cabana e abriu-a ao público para que os pais possam levar lá os filhos, contar-lhes histórias e, sobretudo, mostrar-lhes como se brincava antigamente. E como é bom ser criança.

Há um jardim relvado a rodear duas cabanas. Uma mais pequena, térrea. Outra, maior, com dois pisos. À entrada temos logo a informação: “Este espaço foi construído pelo Zé, Chico e Toni. Atualmente este espaço pertence ao Zé e pretende dar a conhecer como eles brincavam na década de 80 e 90 do século passado”.

Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

A cabana mais pequena foi “a segunda a ser construída”. A cabana maior está no sítio da original. “Aí existia uma cabana feita com árvores conhecidas vulgarmente por mimosas e na primavera ficava coberta por flores amarelas. Mas devido à pouca exposição solar, as mimosas morreram e só posteriormente foi construída a cabana com dois andares”, lê-se na história afixada à porta.

A cabana mais pequena. Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

Na cabana maior, entra-se e, logo no rés-do-chão, vemos fotografias penduradas na parede que recordam a infância do trio criador daquele templo de brincadeiras. Como era o antes e o depois de os primos Zé Manel e Chico e o amigo Toni terem construído o Canto da Cabana no terreno da avó dos dois primeiros, Laurinda da Silva Lima, conhecida como avó Laurinda de Vilar.

Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

Umas estreitas escadas de madeira dão acesso ao piso superior. Uma janela deixa o sol iluminar o espaço. Há uma mesa, cadeiras e muitos livros infantis. E mais fotografias que documentam as muitas atividades ali realizadas antigamente.

“A imaginação era a base de todas as brincadeiras. Estivesse o calor mais abrasador ou a chover, a diversão neste espaço estava sempre garantida. Todos os dias no final da escola era uma nova experiência de vida. Consistia em ir ao monte cortar mais mimosas/austrálias, trazê-las às costas, cortar e pregar para continuar a construção”, lê-se na história do “Canto da Cabana”.

E continua: “Também se juntavam ali para fazerem carrinhos de rolamentos, bolas de trapos, arcos com flecha, fisgas, etc. A construção dos próprios brinquedos proporcionou a estas crianças uma aprendizagem pelo cumprimento de regras e organização de trabalho”.

Além das brincadeiras diárias, ali também se realizaram “festas que marcaram as pessoas desta freguesia de Curvos, como a via sacra, a visita pascal, o sermão do mês de Maria, o Carnaval com concurso de máscaras, o São João com sardinha assada e broa de milho, o São Martinho com castanhas assadas na fogueira, jogos tradicionais com lançamento de bolas de trapo às latas, tiro ao alvo, corrida de sacos, etc”.

Espaço exterior. Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO
Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO
Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

“Hoje, o Canto da Cabana, depois de um pequeno restauro, pode ser visitado, possuindo uma pequena exposição fotográfica e um acervo documental infanto-juvenil que podem ser consultados por adultos, crianças e onde estas também podem brincar”, conclui a história.

“Entrou no roteiro de Curvos”

Atualmente, o espaço que era da avó Laurinda de Vilar é de Zé Manel, que restaurou o Canto da Cabana.

Os tempos de infância já lá vão. José Manuel Souto tem 48 anos. O primo Chico, 45. E o amigo Toni, 50. “Agora é mais raro” juntarem no Canto da Cabana, conta a O MINHO o professor de Educação Física.

José Manuel Souto no Canto da Cabana. Foto: DR

Depois de ter estado a trabalhar nos Açores, regressou e começou a trabalhar mais a sério no restauro das cabanas. Reconhece que o Canto da Cabana ainda é um tesouro escondido, que pouca gente conhece, apesar de já estar aberto ao público todos os dias, pois ainda quer melhorar o restauro. Mas está a pensar, brevemente, dar uma “festa” para dar a conhecer o espaço.

José Manuel mora ao lado do Canto da Cabana e trata da sua manutenção. Quem visita o local, garante, é respeitador e até hoje houve quaisquer problemas.

É um espaço privado, mas a Junta manifestou total disponibilidade para colaborar com o Canto da Cabana, que é uma mais-valia para a freguesia.

“Entrou no roteiro de Curvos, qualquer pessoa que visite a freguesia faz questão de visitar o Canto da Cabana”, vinca a O MINHHO o presidente da União de Freguesias de Palmeira de Faro e Curvos, Mário Fernandes, acrescentando que o espaço é muito visitado por crianças das escolas.

Mário Fernandes, presidente da Junta, com José Manuel, dentro da cabana maior. Foto: DR

O objetivo é precisamente chegar às crianças, mostrar-lhes como se brincava há umas décadas, sem telemóveis.

“As crianças hoje acabam por brincar pouco. Nós tivemos uma infância muito feliz porque brincámos muito, andámos na rua, no campo. E o objetivo fundamentalmente é esse: dar a conhecer o Canto da Cabana aos pais para que possam levar lá os filhos, sentar-se lá com eles, contar-lhes uma história, e mostrar às crianças como brincávamos antigamente”, explica José Manuel.

E também podem brincar como o Zé, o Chico e o Toni brincaram nas décadas de 80 e 90.

 
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