Cerca de 200 alunos da Escola Básica Rosa Ramalho criaram um mural com 1.179 azulejos, na freguesia de Barcelinhos, concelho de Barcelos, em pleno Caminho de Santiago.
O mural de azulejos, realizado no âmbito do projeto cultural “Do Húmus da Terra à Espiritualidade”, uma iniciativa promovida pela Junta de Freguesia de Barcelinhos com o apoio da Câmara de Barcelos, é apresentado publicamente esta sexta-feira.
Erguido num ponto de passagem emblemático em Barcelinhos, o mural “é mais do que uma intervenção artística: é um testemunho coletivo feito de barro, tinta e dedicação”, refere a Junta de Barcelinhos em comunicado enviado a O MINHO.

Sob a coordenação dos professores Alice Fonseca e Nuno Mendanha, os alunos criaram um painel que une tradição cerâmica, espiritualidade e comunidade, num gesto que pretende resistir ao tempo e inspirar quem por ali passa.
O mural, onde se destacam elementos visuais como o Galo de Barcelos, mãos de oleiros, rostos e símbolos peregrinos, dialoga com o território e com o próprio espírito do Caminho.
“Este projeto é, assim, uma homenagem à memória coletiva, à arte feita em comunidade e à força educativa da escola pública. Um gesto simples mas duradouro, que ficará no caminho – e na história – de Barcelinhos”, salienta o comunicado.

A obra tem as dimensões de 3,15m de altura por 8,55m de comprimento.
Os professores Alice Fonseca e Nuno Mendanha nota que “o mural não nasceu de uma só vez, tal como não nasce de repente uma árvore ou a fé. Foi crescendo devagar, com mãos pequenas e olhos atentos”.
“Foram quase duzentos alunos da Escola Rosa Ramalho que deram vida a este mural, mesmo sem saberem ao certo o que estavam a deixar para o futuro. Criaram um conjunto de azulejos que se ergueu sem pressa, com a vontade silenciosa de permanecer. Porque há coisas que não se dizem com palavras; dizem-se com pincel, com barro, com gestos. E depois deixam-se secar ao sol, à vista da Terra, que tudo vê, tudo ouve e tudo guarda.
Este muro é também um livro aberto. Conta um pouco da história de Barcelinhos. Não a dos grandes nomes nem das datas importantes, mas a outra história: a do barro que ganhou forma, da roda de oleiro que girou o vazio até lhe dar sentido, do forno que devolveu à terra a sua memória feita cerâmica. Isso não surpreende, pois Barcelinhos é lugar de húmus, de barro e de mãos antigas que nunca desistiram de transformar o informe em palavra. Porque na arte habita o que persiste”, escrevem os docentes.
E concluem: “No meio das cores, figuras e traços que parecem querer sair dos azulejos e andar por si, há também espaço para quem passa. Para os peregrinos de Compostela, que deixam ali a poeira da viagem e, talvez, uma oração sem nome. E recebem, mesmo sem se aperceberem, um olhar fixo, um aceno silencioso do mural, como se ele dissesse, em voz baixa, que a viagem continua, mesmo quando os pés param. Como escreveu Saramago: ‘A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. Mesmo esses continuam em memória, em lembrança, em narrativa'”.