A venda foi anunciada em 13 de abril deste ano. A Impetus, grupo sediado em Barqueiros, Barcelos, que já detinha 40% da Edaetech, comprava a totalidade da empresa de engenharia localizada em Fão, Esposende.
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O que não estava no anúncio da Impetus é que o processo foi tudo menos pacífico. O então sócio maioritário, Ventura Belinho, acusa agora, em declarações ao Jornal de Negócios, a família Figueiredo, dona da Impetus, de “assalto ao poder”. E há até queixas no Conselho Superior de Magistratura e na Ordem dos Advogados.
No ano de 2022, Ventura Belinho desafiou Alberto Figueiredo, fundador do grupo Impetus, a criarem a Edaetech – Engenharia e Tecnologia, dedicada à mecânica de precisão, sobretudo para o setor automóvel.
Ventura Belinho tinha 60% do capital e Figueiredo os restantes 40%.
Mas a relação acabou por esfriar.
“Só vendi porque não quis reparar o que os outros estragaram”
“Terá de haver alguma justificação para o mentor, fundador, detentor do ‘know-how’ do negócio e acionista maioritário preferir vender os seus 60%”, começa por dizer Ventura Belinho ao Jornal de Negócios, considerando que foi “vítima de assalto ao poder, num enredo digno de telenovela”.
“Só vendi a empresa porque não quis comprar os 40% e reparar o que os outros estragaram”, garante, em declarações explosivas contra o ex-sócio.
Ventura Belinho conta que, já em 2009, a Impetus lhe tinha “comunicado para arranjar outro parceiro”.
E acrescenta: “[Em 2011], com a troika em Portugal e a desalavancagem da banca, fui o único acionista que investiu em prestações suplementares para capitalizar a empresa e evitar o não cumprimento do contrato de investimento contratualizado com o IAPMEI e evitar o seu cancelamento, o que seria o colapso da empresa”.
“Começou a dar milhões” e “veio a remontada e o apetite”
Só que depois a empresa “começou a dar milhões, sobretudo entre 2012 e 2017, chegando em 2016 a dar um resultado líquido de 2,8 milhões de euros”. E foi aí, assinala, que “veio a remontada e o apetite”.
Lamenta, ainda, que “o terreno contíguo, pertença do acionista minoritário”, tenha sido vendido “sem avisar a sociedade nem o acionista maioritário, hipotecando a expansão futura da empresa”.
E prossegue: “Muitos problemas de governação [culminaram] contra a minha vontade e à revelia da deliberação da assembleia geral de 2016 no cancelamento do projeto de investimento”
A “guerra” entre as partes foi tribunal sendo que, em agosto de 2019, Ventura Belinho julgava que tinha “supostamente” avançado com o pedido de destituição judicial dos administradores da família Figueiredo na empresa.
Queixa no Conselho Superior de Magistratura e na Ordem dos Advogados
Só que – continua – veio a a descobrir que o seu advogado não o fez, pelo que admite “pedir desculpa ao Conselho Superior de Magistratura” por esse lapso.
Na queixa que apresentou ao CSM, no ano passado, acusa os magistrados envolvidos nos processos em causa de deixarem “em claro” o que classifica de “fraude processual” e “conluio entre partes”.
Antes, conta ainda o Jornal de Negócios, Ventura Belinho tinha já apresentado queixa disciplinar na Ordem dos Advogados contra o comportamento de dois causídicos, enquanto representantes do acionista minoritário e da Edaetech.
Considerava que tinham tido “postura incorreta, abusiva e desleal”.
O empresário mudou de advogado em outubro passado.
Impetus não reage às acusações
E diz que “o administrador judicial renunciou ao cargo, alegando que a Edaetech não era um problema dele” e “agora continua na nova estrutura acionista”.
“Analisando que se se demorasse numa decisão, preferi vender, uma vez que iria ter muitas dificuldades e poucas ajudas para recuperar a empresa”, justifica, assim, a venda da maioria do capital.
Questionado pelo Negócios acerca destas acusações, a Impetus responde que “não tem nada a acrescentar ao comunicado de imprensa enviado a 13 de abril”.