Grandes marcas de calçado trocam produção na Ásia por Guimarães

Economia

As grandes marcas de calçado desportivo estão a trocar a produção no mercado asiático pelo português, face ao aumento de custos com a energia e com os transportes, havendo mesmo empresas de Guimarães que estão a produzir aquilo que até agora era confecionado maioritariamente na China.

A consideração é feita pelo presidente da Associação Portuguesa Indústria de Calçado e Componentes Artigos Pele Sucedâneos (APICCAPS) ao jornal Eco, adiantando que a procura desses gigantes europeus e americanos pelo mercado português tem sido “brutal”, notando uma “deslocalização nítida da China e de outros países asiáticos”.

Um dos exemplos citados pelo jornal é a Darita, com sede em Guimarães. Atualmente, exporta 90% dos artigos para o mercado europeu, e registou um aumento de produção superior ao que era conseguido antes da pandemia, revelando que a empresa está no bom caminho. Filipe Mora, CEO da empresa, deu o exemplo de clientes “que faziam cá 10% e 90% no outro lado, e agora estão a passar para cá 50%”, sobretudo por causa do custo dos transportes.

Mora relembra que a escolha destas grandes marcas pelo mercado asiático prende-se, sobretudo, pelo preço conseguido, algo que não tem tanta força nos dias de hoje por causa do aumento dos custos de produção nesses mercados, levando a que as grandes marcas apostem na qualidade – e essa está nas fábricas portuguesas.

Com mais de cem funcionários, a Darita foi fundada há 31 anos por uma família de Guimarães, e featurou cerca de cinco milhões de euros em 2021 através da produção de calçado para homem e mulher.

Porém, há um revés, que até está a afetar todos os segmentos industriais e comerciais de Portugal – a falta de mão de obra. “Precisávamos de mão-de-obra qualificada, que isso não existe, para trabalhar o calçado no dia-a-dia. E quando aparecem mais encomendas, como é o caso, temos de meter mais gente. Algumas pessoas saem por idade [para a reforma] e temos de contratar novas. Essas pessoas que fomos obrigados a admitir vão aprender, mas demora o seu tempo”, disse Filipe Mora ao Eco.

Outra empresa de Guimarães também tem conseguido aproveitar a ‘onda’ da troca da Ásia por Portugal levada a cabo pelas grandes empresas de calçado desportivo e, com quase 200 colaboradores e uma faturação de 18 milhões ao ano, a Celita tem aumentado a carteira de clientes, não só em tamanho, mas sobretudo em qualidade.

O CEO, Paulo Martins, em declarações ao Eco, revela que alguns dos novos clientes “estavam com alguns problemas em termos logísticos e com o custo dos transportes [da Ásia para a Europa] que disparou de forma incrível”. Explica que, nesta altura, essas empresas correm menos riscos se avançarem com a produção em Portugal, do que se o fizessem na China.

Contudo, Paulo Martins alerta: “Este aumento da procura em Portugal pode eventualmente ser passageiro, para resolver alguns problemas de momento e, as coisas estabilizando, voltar ao normal”

E adianta: “(…) temos a nossa clientela que temos de satisfazer primeiro e só depois os outros. Planos para expandir a produção? Neste momento não. Sempre tivemos alguma prudência nos investimentos”.

Já José Moura, da Calsuave, de Guimarães, afirma, ao mesmo jornal, que esta situação é passageira e aconselha prudência aos colegas da indústria do calçado: “As marcas viraram-se para a Europa, mas isso é volátil, não é por aí que se deve ir. Encheram as fábricas de trabalho porque não têm hipótese de fazer noutro lado, mas quando tiverem hipótese, voltam para lá”.

 
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