O Governo respondeu hoje às associações comunitárias que se queixaram de ficar fora de uma reunião com o Governo justificando que o executivo não podia convidar todos porque seria inviável, mas sublinhou que o objetivo é “dar voz”.
“É uma reunião de inclusão para dar voz. É evidente que num país com 10 milhões, de cada vez que o Governo faz uma reunião há uns tantos que participam e muitos que não participam porque senão a reunião era inviável”, disse o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros de hoje.
O governante explicou que o critério para o convite às associações das comunidades dos bairros da área metropolitana de Lisboa foi definido pelos serviços do Governo que lidam com estas estruturas e que escolheram as associações mais ativas.
“Convidámo-las, estamos muito contentes que participem. Têm uma oportunidade histórica de falar e ter voz junto do Governo. Esse exercício só em si já faz toda a diferença: ter voz”, afirmou Leitão Amaro.
O governante lembrou que é muitas vezes a necessidade de ter voz que “leva as pessoas a manifestarem-se nas redes sociais e nas ruas: quando sentem revolta ou desconforto ou quando tem uma aspiração que querem ver servida”.
No entanto, reiterou, “tem de falar um de cada vez, não todos ao mesmo tempo”.
“Haver alguém que diz que ainda não falou é algo que nos merece o maior respeito. Significa que também querem participar e nós queremos ouvir e estamos atentos”, afirmou.
Ressalvando que ouvir não significa “concordar com tudo” ou “chegar a acordo sobre tudo”, o ministro reiterou que o Governo “ouve e respeita a diversidade”.
“Senão é que criamos espaço para os extremos, para as intervenções desesperadas, para os protestos radicais e, em alguns casos intoleráveis, para a violência”, alertou.
Questionado sobre as declarações de segunda-feira do primeiro-ministro, que disse que Portugal não é um país “onde ódio e questões raciais tenham natureza de preocupação”, o ministro da Presidência recusou que tenha sido uma desvalorização.
“Não há nenhuma desvalorização relativamente à importância de um fenómeno que é errado”, disse, assegurando que todo o Governo se revê nas afirmações de Luís Montenegro.
Leitão Amarão defendeu que, em termos de expressão global da criminalidade, esses crimes de ódio “tem um peso relativo” em relação a outros.
“Se nós não prestássemos muita importância a esse fenómeno, desde logo também não estaríamos a ter a reunião que vamos ter a seguir”, afirmou.
A iniciativa do Governo – agendada para as 14:30 no Campus XXI, em Lisboa – surge na sequência dos incidentes que se seguiram à morte de Odair Moniz, cabo-verdiano de 43 anos, morador no bairro do Zambujal, na Amadora, que há uma semana foi baleado por um agente da PSP, no bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho.
Pelo menos três associações comunitárias da Grande Lisboa queixaram-se de não terem sido convidadas para a reunião, incluindo o movimento Vida Justa, que disse só ter sido incluído depois de pedir explicações.
Na lista de convites para a reunião de hoje estão: Moinho da Juventude, Mundo Nôbu, Afrolink, Movimento Nu Sta Djuntu – Estamos Juntos, Associação Caboverdeana, Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu, Academia do Johnson, Associação Helpo, Semear o Futuro, Djass – Associação de Afrodescendentes, Femafro – Associação de mulheres negras, africanas e afrodescendentes em Portugal, SOS Racismo, Plataforma Gueto, Associação para a Mudança e Representação Transcultural, Associação Filhos e Amigos de Farim, Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e Associação Kamba.
Ao longo da última semana registaram-se tumultos em vários bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.