Seco e sem data para ter água. É este o prognóstico do recentemente construído regadio de Cabanelas, em Vila Verde, um investimento de oito milhões de euros levado a cabo pelo Ministério da Agricultura inserido no Plano Nacional de Regadios.
Fernando Xavier, presidente da Associação de Beneficiários do Regadio de Cabanelas, que gere o a área afeta ao novo aproveitamento hidroagrícola, deixou esta sexta-feira o alerta, durante uma visita do recentemente eleito deputado pelo PSD, Carlos Cação, também ele de Vila Verde.
A O MINHO, o responsável pela associação que vai gerir esta infraestrutura denunciou atrasos na obtenção de licenças devido a uma alegada falha de segurança da obra. Contudo, afirma, essa “falha” nunca foi comunicada à empresa que a construiu (grupodst, de Braga). Trata-se, pois, da falta de construção de um muro de proteção ao lado de um autoclave que, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, é necessário para proteger os utentes de eventuais incidentes.
Mas Fernando Xavier não vê lógica na construção do muro, que terá cerca de 7 metros de altura, e apelida-o de “mamarracho”. “Estamos numa zona que é considerada Reserva Ecológica Nacional, onde se deve construir o mínimo possível por causa do impacte ambiental, mas querem construir este muro não se percebe bem porquê”, disse.
Questionado por O MINHO sobre se não será importante aguardar até que a segurança não esteja comprometida, Fernando Xavier discorda, e dá o exemplo de postos transformadores da EDP. “Estou agora aqui ao lado de um PT. Se vem um carro em despiste e o deitar abaixo, e me cair na cabeça, também não se deveria ter erguido um muro à sua volta?”, perguntou, retoricamente.
Xavier diz que os utentes começam a desesperar com a falta de água, sobretudo os produtores de kiwi que ali montaram estufas precisamente porque achavam que o regadio já estaria em funcionamento durante este ano, mas tal não se confirmou.
“Isto é insólito e caso único no país. Nós precisamos de testar o regadio, por causa das pressões, e não o podemos fazer porque não está a puxar água, não está a funcionar, e já foi entregue assim pela empresa. Que eu saiba, não se entrega uma obra sem estar acabada”, lamenta.
Xavier afirma ainda que ninguém se pronunciou sobre o assunto, embora já tenha sido feita uma exposição ao Ministério. “O Estado devia ter acautelado esta situação, porque agora os agricultores vêm perguntar-nos sobre a água, e não sabemos muito bem o que lhes dizer”, expõe.
“Nós não podemos fazer nada, o que queremos é que as entidades públicas metam a mão à consciência e que percebam que não é por causa de um muro que não se certifica, porque é preciso que nos deixem testar as estruturas, porque as máquinas que temos são de alta pressão, gastam muito caudal, e vai haver limitações e reorganização em termos de bars de pressão e caudal de água e temos de, atempadamente, perceber a situação. Se não acontecer isso, vamos chegar a altura da rega e não estamos servidos”, conclui.
PSD preocupado
O recém-eleito deputado Carlos Cação, juntamente com a Junta de Freguesia e o Município de Vila Verde (todos PSD), asseguraram hoje que “vão concertar esforços para resolver” os problemas “que persistem e impedem a utilização do novo sistema de aproveitamento hidroagrícola daquela zona sul do concelho”.
Em comunicado, o PSD de Vila Verde dá conta que “a estação elevatória foi recentemente inaugurada, mas continua sem poder funcionar”, ou seja, não ‘puxa’ água.
“São intervenções que estavam previstas no programa geral de investimento superior a 8 milhões de euros no sistema de regadio”, lembra o PSD, lamentando o “emaranhado de empecilhos burocráticos e logísticos” que “tem impedido a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) de avançar com as intervenções que estavam programadas”.
Carlos Cação disponibilizou-se para intervir junto das entidades envolvidas, sublinhando o “elevado valor de um investimento público que está a ser desperdiçado e em risco de se deteriorar, antes mesmo de poder ter qualquer utilização”.
“O sistema de regadio ganha ainda uma particular importância face ao atual período de seca, com riscos elevados de impactos negativos nos próximos períodos de primavera e verão”, conclui a nota de imprensa.