A GNR de Braga deixou fugir um dos três assaltantes de uma quadrilha albanesa, durante a abordagem dos suspeitos, em Vila Nova de Cerveira, por os militares pensarem tratar-se de um colega, deixando-o assim escapar num carro da própria GNR com armas de guerra das mais sofisticadas de que a GNR dispõe, tendo conseguido fugir para Espanha carregado com o armamento.
A revelação partiu de um dos militares do Destacamento Territorial da GNR de Braga envolvidos na operação, quando prestava declarações no julgamento do grupo de assaltantes, dois dos quais já foram apanhados, encontrando-se ambos em prisão preventiva, enquanto o terceiro continua a monte, abandonando o carro em Espanha, com o armamento de guerra intacto.
Tal como O MINHO então noticiou em primeira mão, aquela falha operacional permitiu que as armas, segundo o mesmo militar da GNR de Braga, só as tinha “visto em filmes”, passassem de Portugal para Espanha, sendo armamento só utilizado para situações de terrorismo, de banditismo e de criminalidade altamente violenta.
As armas eram uma pistola-metralhadora MfG&Thomet AG 9mm e uma shot-gun Fabarm 12mm, recuperadas depois em Tui, na Galiza, na sequência da operação “Gerbera-Arvoredo”, a cargo da GNR e da Guarda Civil, após uma Ordem Europeia de Investigação, entre Espanha e Portugal.
O “profissionalismo” da quadrilha albanesa, que residia na Galiza e se deslocava ao Minho para cometer furtos em residências de luxo, em Braga, Esposende e Famalicão, tem vindo a ser enaltecido pelos investigadores criminais da GNR, que atá agora nunca se tinham deparado com uma estrutura tão bem organizada como aquela que foi então desmantelada pela Guarda de Braga.
A forma como um dos três suspeitos fugiu da GNR de Braga e do Grupo de Intervenção e de Operações Especiais (GIOE) da Guarda Nacional Republicana, que está sediado em Lisboa, é uma das evidências mais claras desse mesmo “profissionalismo” e “a começar pela forma calma e despreocupada como entrou no carro do GIOE”, segundo as declarações do membro da GNR.
Segundo o mesmo militar da GNR, aquando da abordagem aos suspeitos, na noite de 25 de fevereiro de 2022, num local ermo da localidade de Candemil, em Vila Nova de Cerveira, ao aperceber-se que um dos militares de uma unidade especial da GNR, o GIOE, “o suspeito entrou no carro policial, com uma grande descontração, como também se tratasse de um militar da GNR”.
“Eu naquela altura, não desconfiando de quem se tratava, até desviei o carro onde estava, para ele passar, mas aí ele já seguia a alta velocidade, até me ia passando por cima dos pés e tive de me desviar, fiquei admirado de tanta pressa por parte daquele que pensava ser um colega meu, quando só depois me apercebi que era um dos suspeitos em fuga”, explicou o militar da GNR.
GNR do Sameiro também os deixou fugir
O guarda Altino Ferreira, patrulheiro da GNR do Sameiro, disse ao Tribunal Coletivo, assim como o colega, Bruno Fernandes, como foram cometidos os dois furtos consecutivos, ambos na freguesia de Nogueiró, próximo do Monte de Bom Jesus, sendo uma das casas de um procurador do Ministério Público, segundo confirmaram já no julgamento dois outros militares.
Nessa mesma altura os assaltantes albaneses também conseguiram fugir numa carrinha A4 escura, tendo-se refugiado logo na Galiza, voltando noutras ocasiões, para cometerem novos furtos, em Braga, Esposende e Famalicão, tendo o grupo sido desmantelado em fevereiro de 2022 pelo Núcleo de Investigação Criminal (NIC) do Comando Territorial da GNR de Braga.
Ao grupo são atribuídos diversos furtos em residências, cujo valor total oscilará em cerca de meio milhão de euros, sendo que os três elementos da quadrilha albanesa deixavam sempre escondidas, em Vila Nova de Cerveira, as ferramentas para cometer os crimes, onde trocavam as matrículas portuguesas pelas espanholas, todas falsas. Residiam numa quinta arrendada, em Tui. Estão a ser julgados Edi Gjonaj e Artur Zisko por associação criminosa, furto qualificado e ainda falsificação de documentos.