“Apaixonada pelas origens”, Gisela João, fadista natural de Barcelos, afirma que, nos últimos tempos, tem “sofrido muito pelas festas populares” do nosso país e teme que muitos dos que trabalham nas feiras e romarias não resistam à pandemia de covid-19.
“Para além de crescer com a feira de Barcelos todas as quintas da minha vida, cresci também com as Festas das Cruzes, a Senhora D’Agonia, o Sê da Pedra ou o São Bentinho da Porta Aberta e por aí fora”, começa por realça a cantora, numa publicação na sua página de Facebook.
“Cresci no meio disto tudo, e muito mais, e isso deu-me o super poder de ser livre. Livre de vida. Livre de sonhos e gostos. Sempre dei uso à minha liberdade nas escolhas e, caramba, como é poderoso e libertador assumirmos o que gostamos verdadeiramente e fazer uso disso”, acrescenta Gisela João.
“Sempre fiz e faço questão de ter presente no meu dia a dia marcas fortes dessa cultura das terras, seja em minha casa, na minha forma de vestir, de viver, de falar e sempre, sempre desde o dia primeiro da minha carreira, que fiz este voto quase promessa/obrigação de não deixar de ser quem me fez”, refere a cantora, que se estreou a solo em 2013, com disco homónimo, lembrando todos os que vivem das feiras e romarias por esse país fora e que, atualmente, se encontram sem trabalho.
“Vejo um apoderar constante destas coisas [tradicionais] ultimamente. Umas de forma honesta outras totalmente sem propriedade e como dizem alguns, porque está na moda. Não quero estar desse lado, dos que só se queixam, mas entendo-vos e ora vejam: é fixe que haja mais pessoas a conhecer a nossa cultura, os nossos tesouros. Mais fixe ainda era que todos nos uníssemos para lembrar todas as estruturas que estão paradas este verão desde os senhores que montam palcos, às bancas de bolos, das tendas de roupa às roulottes de farturas, dos carrinhos de choque ao carrossel dos cavalos mágicos, da banca discoteca à senhora que lê a sina”, enumera a artista de 36 anos.
“Tenho medo que alguns não sobrevivam e que com o tempo os bailaricos sejam cada vez mais despidos de tradição, de vida”, lamenta Gisela João.