Gerês: Enquanto as obras não começam, centenas continuam a refrescar-se na “Cascata do Tahiti”

Eram para ter começado há duas semanas
Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

A “Cascata do Tahiti”, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, continua todos os dias a abarrotar de gente, enquanto não se iniciam as obras que a Câmara de Terras de Bouro tinha anunciado para começarem já há duas semanas.

Enquanto as obras não começam, todos os dias centenas de pessoas, geralmente famílias, vão à “Cascata do Tahiti”.

Há famílias que levam bebés de poucas semanas, assim como cães, para a zona mais escorregadia dos penedos muito lisinhos da “Cascata do Tahiti”, bem como quem perturbe o ecossistema, com a música muito alta através de colunas de som que levam.

As necessidades fisiológicas são feitas nas imediações da “Cascata do Tahiti” ou mesmo nos seus penedos mais afastados, com papel higiénico espalhado no fundo da penedia, porque ali urinam e defecam novos e velhos, num ambiente de insalubridade.

O ambiente, conforme O MINHO tem vindo a constatar, mesmo em dias úteis, como sucedeu ontem, quarta-feira, é sempre de uma autêntica “romaria”, apenas se vendo no local, em permanência, a circular, várias forças da GNR.

Como os dois parques de estacionamento pago, que custam dois euros por dia de aparcamento, em cada um deles, ficam muito cedo lotados, há dezenas de automóveis estacionados nas bermas e até dentro das áreas florestais, em Ermida, Terras de Bouro.

Com automóveis estacionados uns encostados aos outros, naquela estrada municipal terrabourense, a Rua da Ponte da Várzeas, da freguesia de Vilar da Veiga, no concelho de Terras de Bouro, o ambiente torna-se caótico, especialmente da parte da tarde.

A situação da estrada florestal estar muito condicionada, segundo fontes das forças de socorro e de salvamento contactadas por O MINHO, compromete a eficiência de resgate de feridos e até de fogo florestal, com tantos carros parados.

A agravar a situação, segundo as mesmas fontes, sob anonimato, este ano foram já suprimidos todos os lugares de estacionamento prioritário das viaturas de socorro junto da “Cascata do Tahiti”.

Coro de protestos e impasse no início da obra

Depois de O MINHO noticiar em primeira mão o avanço das obras, seguiu-se um coro de protestos, de partidos políticos e associações ambientalistas.

A Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), que foi a primeira organização não governamental a manifestar-se contra as obras, alertou para a possibilidade de o Parque Nacional da Peneda-Gerês poder perder esse estatuto.

A FAPAS, através do seu presidente, o biólogo Nuno Gomes Oliveira, não tem arreado pé desta questão das obras, que iriam “artificializar” o espaço e dar-lhe “caraterísticas urbanas”, quando afinal “o que se pretende é manter o espaço natural e rural”.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês, quase a completar 55 anos da sua criação, ainda no Estado Novo e em plena Primavera Marcelista, inaugurado já por Américo Tomás, foi a primeira reserva natural portuguesa e é o único parque nacional português.

O primeiro partido político a pronunciar-se foi o PCP, que numa delegação com o deputado Alfredo Maia, manifestou grandes preocupações, até de eventual incêndio, naquela zona de vale “encaixado” do tipo chaminé, que poderia causar uma tragédia.

Já a presidente do Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), Inês Sousa Real, pronunciou-se publicamente, afirmando que as obras “não respeitam a natureza”, tendo interpelado, igualmente, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho.

O MINHO contactou o presidente da Câmara de Terras de Bouro, Manuel Tibo, para obter uma reação acerca do impasse para o início das obras, mas sem sucesso.

 
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