Gerês: Antigos habitantes de Vilarinho da Furna recuperam tradição do linho artesanal

Vai ser lançado novo curso
Foto: O MINHO

A Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna (AFURNA) está a recuperar a tradição do fabrico de linho artesanal, cumprindo o seu projeto que em 2021, entre 68 candidaturas, foi um dos dez vencedores da quarta edição do Programa Tradições EDP. Foram “superadas as expectativas até ao momento”, revelou a O MINHO a gestora dos trabalhos no terreno, Luciana Castelli.

É que perante a realidade concreta, o grupo constatou “não estar assegurado, de montante a jusante, inicialmente, todo o ciclo de produção artesanal, por então haver pouca matéria-prima, do chamado linho galego, que é o nosso típico linho desde sempre, pelo que construímos um campo de cultivo exclusivo para nós, garantindo-nos termos agora material suficiente”.

A oficina do Centro de Artes e Ofícios de Seixos Brancos. Foto: O MINHO

Apesar das limitações impostas pela pandemia, Luciana Castelli explicou que vai ser lançado “um novo curso de fabrico artesanal de linho, esperando ter agora adesões, não só de Terras de Bouro, como dos concelhos envolventes, incluindo Braga, para constituir na retaguarda uma linha de produção que crie postos de trabalho e lhes proporcione ainda bom rendimento financeiro”.

Algumas das peças já construídas graças ao prémio EDP. Foto. O MINHO

O projeto saiu do papel para a execução no Centro de Artes e Ofícios de Seixos Brancos, que é uma estrutura gerida pelo Centro Paroquial de Covide, que por sua vez promove igualmente a preservação do linho e das outras artes tradicionais, com uma oficina já fundada por Maria Adelaide, a mulher de garra que tem dedicado toda a sua vida à comunidade.

O campo da Associação AFURNA, onde já cresce o linho. Foto: O MINHO

“Aqui na nossa região já houve cerca de meia centena de mulheres a trabalhar exclusivamente no fabrico do linho, graças ao empenho, principalmente, de Maria Adelaide. Temos bons equipamentos, uma máquina feita à medida e adquirida em Itália, mas de momento só uma pessoa trabalha a tempo inteiro no fabrico do linho e precisamos de mais mão de obra, daí o curso em 2023”, diz Luciana Castelli.

Luciana Castelli recebeu O MINHO, em Covide, no concelho de Terras de Bouro, começando por destacar “o êxito dos dois desfiles, ambos realizados no Museu de Vilarinho da Furna, com apoio logístico da Câmara Municipal de Terras de Bouro, que promoveu a linha de produtos desta nossa marca, que é a ‘Lindo Linho’, constituída por vestuário, calçado, artigos de decoração e outras peças”.

A oficina do Centro de Artes e Ofícios de Seixos Brancos. Foto: O MINHO

Para a gestora do projeto vencedor da EDP, “uma das mais-valias do trabalho artesanal é que as nossa peças são únicas, algumas já adicionadas com ouro, inserindo-nos na rota do ouro e do linho, trabalhando em rede, com os saberes dos mais antigos e as inovações dos mais novos, produzindo todo o tipo de produtos, como por exemplo bonecas tradicionais, realizando trabalhos por encomenda”.

AFURNA congratula-se com o trabalho

AFURNA foi criada em 1985 para “defender, valorizar e promover o património cultural do antigo povo da aldeia de Vilarinho da Furna, inserindo-se a sua estratégia numa tentativa de combater o desaparecimento de culturas e tradições, devido ao envelhecimento da população”. A associação “está a requalificar e a fazer renascer o linho artesanal, um ícone da identidade local, em que em todas as casas da aldeia havia um tear”, disse a O MINHO o seu presidente, o professor universitário Manuel de Azevedo Antunes.

O campo da Associação AFURNA, onde já cresce o linho. Foto: O MINHO

“O projeto é já uma realidade, visando agora vai inserir jovens no mercado de trabalho, oferecendo assim oportunidades de rendimento a todos aqueles que queiram aprender um novo ofício”, pelo que “o prémio da EDP foi uma mais-valia, porque permitiu modernizar as estruturas existentes, investir na formação de mão de obra local, criar uma identidade própria para o produto e colocá-lo ainda nos mercados internacionais e isto além de fortalecer economicamente esta comunidade local”, acrescentou Manuel de Azevedo Antunes.

A oficina do Centro de Artes e Ofícios de Seixos Brancos. Foto: O MINHO

“O projeto de AFURNA irá ajudar, ainda, no desenvolvimento de pequenas comunidades, a partir de identidades próprias, de forma sustentável, com baixo investimento, mas com grande valor de mercado”, salientou o mesmo responsável, referindo a sua satisfação por “ser executado no Centro de Artes e Ofícios de Seixos Brancos, na freguesia de Covide, em Terras de Bouro, pois foi no Museu de Vilarinho da Furna que este mesmo centro começou a sua atividade, antes de ter instalações próprias”.

 
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