O humorista Manuel Cardoso, que integra a equipa de Ricardo Araújo Pereira no programa “Isto é gozar com quem trabalha”, da SIC, debruçou-se sobre a polémica em torno da novela da TVI que levou a Assembleia Municipal de Melgaço a exigir pedido de desculpas ao canal pelo que considera ser uma “ofensa grave” a Castro Laboreiro.
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Na sua habitual crónica humorística no portal Sapo, Manuel Cardoso começa por se referir ao caso como um “cruzamento” entre “o universo da revista TV7 Dias” e o “da revista Caça e Cães de Caça”. Depois, assinala que o caso “foi ponto da ordem de trabalhos na Assembleia Municipal de Melgaço e resultou num comunicado em que o município exige da TVI uma retratação pública por ‘ofensa grave’ a Castro Laboreiro”.
O texto – intitulado “Os cães de Castro Laboreiro ladram e a telenovela passa” – explica a cena que espoletou a polémica, em que uma personagem chama “bandalhos” aos de Castro Laboreiro e outra insinua que os “manhosos” se apropriaram ilegitimamente da raça de cães Sabujo da Serra de Soajo, para fazer a criação do internacionalmente reconhecido Cão de Castro Laboreiro, para concluir: “E pronto, estão encontrados os limites da ficção nacional”.
“Em assembleias municipais é comum discutirem-se assuntos mundanos, como esgotos ou postes de iluminação, mas não tinha noção que os debates sobre ‘o que deu ontem na novela’ eram válidos. O comunicado fala de ‘profundo desconhecimento e ignorância’ sobre Castro Laboreiro, naquilo que é um sinal de profundo desconhecimento e ignorância sobre telenovelas. É que a esmagadora maioria das novelas revela — constante e coerentemente — profundo desconhecimento e ignorância, não só sobre os locais onde se desenrolam, como em relação aos assuntos sobre os quais se debruça. As telenovelas são escritas com os pés: é normal que não se acerte na história de uma prestigiada raça de cães no meio de diálogos rafeiros”, pode ler-se na crónica humorística.
“É bom lembrar que a telenovela é protagonizada por, imagine-se, Diogo Morgado. Que escândalo. Como é que Jesus, o próprio, aceita participar numa novela que faz pouco do Minho, região abnegadamente devota? Para além disso, toda a fatídica cena é representada com a costumeira versão pseudo-rústica do sotaque da Área Metropolitana de Lisboa. É possível que o nome completo do grupo que detém a TVI seja “Media (Só Contratamos Pessoas Que Falam Como Se Fala Na) Capital”. Entendo a fúria das gentes de Melgaço, mas sugiro que guardem a indignação para quando esta novela ofender algo verdadeiramente sagrado. Por exemplo, quando houver uma personagem a falar mal de vinho verde tinto (ou a servi-lo num copo em vez de numa malga)”, conclui o texto de Manuel Cardoso.
Como O MINHO noticiou em primeira mão, a novela da TVI “Para Sempre”, gravada parcialmente no Minho, provocou celeuma por entre os habitantes de Castro Laboreiro, do concelho de Melgaço, porque num dos episódios é possível ver personagens, que interpretam habitantes de Soajo, em Arcos de Valdevez, a criticarem, com insultos, os habitantes castrejos.
Depois de o caso ter sido noticiado por O MINHO, Assembleia Municipal de Melgaço aprovou por unanimidade uma moção de repúdio, proposta pelo PS, em que é exigida a “emissão de um comunicado público” pelo canal generalista do grupo Media Capital, a “repudiar” aquela cena da telenovela, “onde o povo, a história e a cultura de Castro Laboreiro são objeto de difamação”.
A crónica de Manuel Cardoso pode ser lida na íntegra aqui.