A organização ambientalista Greenpeace espera no sábado “dezenas de milhares de pessoas e entre 300 a 500 embarcações” na manifestação “por terra e mar” na Corunha, Espanha, contra a instalação pela portuguesa Altri de uma fábrica de celulose.
Em declarações à Lusa, Manoel Santos, coordenador da Greenpeace na Galiza, explicou que esta é a quinta grande mobilização de oposição ao “projeto industrial mais prejudicial e agressivo das últimas décadas”.
A concentração organizada para sábado, em A Pobra do Caraminhal, na ria de Arosa, Corunha, quer convencer o governo de Madrid “a não financiar o projeto com 250 milhões de euros de fundos europeus” e a Greenpeace alerta que pretende levar a contestação para tribunal.
“Queremos que o governo de Madrid recue. A Altri quer aceder a estes fundos, mas não queremos destinar o dinheiro público, que é de todos, a um projeto tão prejudicial em termos ambientais, sociais e económicos”, esclareceu o responsável.
Questionada pela Lusa, a Altri indicou, através de fonte oficial, que “as manifestações, sendo um direito democrático, não refletem o pensar do povo galego”, acrescentando que “não comenta temas políticos”.
A empresa afirmou também que o projeto de fibras solúveis GAMA, concebido para Palas de Rei, Lugo, através da filial Greenfiber, “recebeu há poucos dias a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) por parte da Xunta da Galiza, um importante reconhecimento de que o projeto industrial cumpre todas as exigências ambientais da União Europeia”.
De acordo com Manoel Santos, a DIA é “fraudulenta”.
“Não aceitamos a DIA e vamos demonstrar em tribunal que é fraudulenta, que não cumpre a diretiva ambiental galega ou europeia”, avisou.
A localização prevista “é uma zona de alto valor ambiental que foi desprotegida pela Xunta tendo em vista a instalação da Altri”, disse.
“É uma zona com pouco desemprego, onde se vive bem, da pecuária, da agricultura e do turismo, porque por ali passam os Caminhos de Santiago. É um modelo económico que precisa da natureza, não de atividades poluentes. As pessoas não precisam de outro modelo económico”, vincou.
Por outro lado, o projeto “precisa de muita água, pondo em causa o rio Ulha e a ria de Arosa, joia da coroa galega, nomeadamente pelo marisco”.
“A Altri quer captar 46 milhões de litros de água por dia, que é o que consome a província de Lugo ou uma cidade como Vigo. Para além disso, está previsto o derrame de 30 milhões de litros de água contaminada por dia”, criticou.
O projeto pressupõe também a plantação de mais eucaliptos, “a única matéria-prima de que a Altri precisa”.
“Os eucaliptos tornam a paisagem mais inflamável e apresentam uma série de riscos ambientais que motivaram, em Portugal, ao estabelecimento de uma moratória até 2030. Na Galiza não precisamos de mais eucaliptos”, sublinhou.
“As pessoas têm direito a escolher o seu modelo de desenvolvimento. E este é um modelo de desenvolvimento do século passado, não do século XXI”, afirmou.
Já a Altri assegura que, “através de um sistema de circuito fechado, irá recuperar mais de 99% dos solventes utilizados, minimizar a geração de resíduos e devolver a água captada ao meio ambiente, cumprindo os mais elevados padrões ambientais”.
A fábrica de fibras têxteis é “um projeto baseado na economia circular, onde tudo é otimizado: água, resíduos e energia”.
“Trata-se de um projeto que estabelecerá um marco na indústria têxtil da Galiza e do Noroeste Peninsular, tornando-se a primeira fábrica no mundo a integrar, num único complexo industrial, os dois processos-chave para a produção de lyocell: a transformação da madeira de eucalipto em fibras solúveis e a sua conversão direta em lyocell”, esclareceu.
O investimento previsto é superior a 1.000 milhões de euros, apontando-se a criação de cerca de 2.500 postos de trabalho, dos quais 500 serão empregos diretos numa fábrica que funcionará 24 horas por dia”.