Galegos cúmplices de quadrilha italiana já foram expatriados para o Minho

Envolvidos no caso do suspeito que foi baleado durante assalto a ourivesaria em Valença
Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

Os quatro galegos indiciados pela cumplicidade com a quadrilha italiana em que um dos cinco assaltantes foi baleado por um magistrado do Ministério Público, em Valença, a 14 de novembro de 2024, já foram todos expatriados para o Minho, tendo o último suspeito ficado esta terça-feira em prisão preventiva, segundo decidiu o juiz de instrução criminal de Viana do Castelo.

É o alegado líder da célula espanhola, Jaime Pazo Orge, o único dos quatro espanhóis, todos da província de Pontevedra, na Comunidade Autónoma da Galiza, que se tinha oposto à expatriação entretanto decretada pela Audiência Nacional de Espanha, apesar do suspeito argumentar insistentemente, através do seu advogado galego, temer entrar no sistema prisional português.

A questão continua a não ser pacífica, uma vez que os seus advogados em Portugal, João Magalhães e Luís Morgado Correia, de Braga, ponderam agora recorrer da expatriação do seu cliente para o Tribunal da Relação de Guimarães, aguardando apenas pela formalização de todos os despachos judiciais espanhóis e portugueses, bem como das cartas rogatórias entre os dois países.

O advogado João Magalhães, contactado ao princípio da noite desta terça-feira por O MINHO, limitou-se a confirmar que ao contrário daquilo que pugnou, o cliente do seu escritório, em Braga, ficou em prisão preventiva, a mesma medida que já tinha sido defendida pelo Ministério Público, mas não revelou qualquer pormenor, remetendo-nos para o DIAP de Viana do Castelo.

O advogado João Magalhães não se conforma com a expatriação do seu cliente. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

Já estavam presos em Portugal os outros três suspeitos de apoio logístico à quadrilha italiana, desmantelada aquando de um assalto frustrado à ourivesaria Cachos, em Valença, a 14 de novembro de 2024, quando um dos assaltantes foi baleado na parte lateral do tronco, por um magistrado do Departamento de Investigação e de Ação Penal (DIAP) do MP da Comarca de Braga.

Jaime Pazo Orge, Marcos Maurício Pereiro Barros e César António Donaire Gregório, assim como Mónica Barciela Barros, a companheira de Jaime Pazo Orge, já estão todos em prisão preventiva, em Portugal, por decisão do juiz de instrução criminal, proferida durante a tarde desta terça-feira, no Palácio da Justiça de Viana do Castelo, estando já presos em território português.

Jaime Pazo Orge, o alegado líder de célula espanhola, cuja base de apoio se situava numa moradia em Vilanova de Arousa, na Província de Pontevedra, Galiza, tinha-se oposto à expatriação, alegando temer pela segurança, no sistema prisional português, mas o Ministério Público, em Portugal, insistiu na sua vinda para Portugal, uma medida que concretizou há poucas horas atrás.

Uma carrinha BMW italiana apreendida à quadrilha pela Polícia Judiciária de Braga. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

A Audiência Nacional de Espanha, sediada em Madrid, através do juiz Luis Francisco de Jorge Mesas, decidiu recentemente a expatriação para o Minho, de Jaime Pazo Orge, por terem sido cumpridos todos os requisitos legais, depois da ordem europeia de detenção e entrega a pedido das autoridades portuguesas, que se concretizou após solicitação da Polícia Judiciária de Braga.

Confiscados mais de 500 mil euros

A PJ de Braga está com toda a investigação, tendo detido, aquando do recontro, em Valença, os cinco italianos, Nori Shehaj, Abdlali Slimani, Badr El Haij, Fábio Frasca e Aleandro Frasca, o primeiro dos quais ainda está no Hospital Prisional de Caxias, na sequência de um disparo que o atingiu, da parte do magistrado do MP de Braga que superintendia toda a operação policial.

Na ocasião, Nori Shehaj, sentindo-se encurralado num corredor sem saída do centro comercial, em Valença, ameaçou logo o procurador do Ministério Público, com um barra de ferro, tentando agredir aquele magistrado, mesmo depois do procurador o ter advertido, com um disparo para o ar, acabando por se ver obrigado a disparar para uma parte não letal daquele assaltante.

Nori Shehaj, que a seguir foi operado de emergência no Hospital de Viana do Castelo, ainda fugiu do magistrado do Ministério Público e de militares da GNR de Braga, cujo comandante operacional, um jovem sargento-ajudante responsável por todas as investigações criminais no Minho desta quadrilha, já tinha advertido o mesmo Nori Shehaj, antes, com dois disparos para o ar.

As autoridades espanholas e portuguesas apreenderam mais de meio milhão de euros, em dinheiro, ouro e joias à quadrilha de assaltantes de ourivesarias que cometeu 23 roubos no Minho, nomeadamente Vila Verde, Vila do Conde, Monção e Valença, sendo que o grupo de assaltantes italianos apostava especialmente em desferir os seus golpes em ourivesarias do Alto Minho.

É o balanço da operação Alpina-Rasteiro da Guardia Civil de Pontevedra, com a GNR de Braga e a Polícia Judiciária de Braga, tendo-se recuperado 118 mil euros em dinheiro e mais de 400 mil euros, em joias e ouro, roubadas em ourivesarias do Minho, levando já a uma Decisão Europeia de Investigação (DEI) Penal, através das autoridades judiciárias de Espanha e de Portugal.

A operação, envolvendo as autoridades policiais e judiciais de Espanha e de Portugal, desmantelou uma quadrilha responsável por cometer pelo menos 23 assaltos, contra ourivesarias, todos na Região do Norte de Portugal, mas principalmente no Minho, que nunca hesitavam em disparar, à mínima contrariedade, segundo as investigações criminais iniciadas pela GNR de Braga.

Segundo o processo, atualmente na Polícia Judiciária de Braga, com tutela do Departamento de Investigação e de Ação Penal (DIAP) da Comarca de Viana do Castelo, a quadrilha é suspeita da autoria de roubos nos concelhos de Vila Verde, Vila do Conde, Monção e Valença, que vinham causando avultados prejuízos e também grande inquietação entre os ourives da região.

O grupo de nacionalidade espanhola (galega) proporcionava todo o apoio logístico necessário para serem cometidos os roubos, arrendando vivendas e veículos, inclusivamente proporcionando-lhes armas de fogo e ferramentas adequadas para os assaltos, estando agora, como os cinco assaltantes italianos, ainda os seus quatro cúmplices galegos presos preventivamente no Minho.

A estrutura espanhola também faria uma recolha de informações quanto às joalharias com um potencial interesse para serem assaltadas, assim como as suas caraterísticas e as rotinas dos seus responsáveis, que até vigiavam durante os próprios assaltos, assim informando em tempo real o quinteto italiano sobre as movimentações em redor dos locais que estavam a ser assaltados.

Ao final da tarde desse dia, em 14 de novembro de 2024, a quadrilha acercou-se da Ourivesaria Cachos, no Centro Comercial Farruco, da Avenida Miguel Dantas, no centro de Valença, onde estava já a ser monitorizada pela GNR de Braga, que teve de intervir, quando um dos dois irmãos seus proprietários, Dinis Pereira Cacho, foi agredido à coronhada, por um dos assaltantes.

Dinis Pereira Cacho sofreu diversos ferimentos graves designadamente três golpes no crânio, outro no cotovelo esquerdo e um outro ainda na mão direita, tendo de ser operado no Serviço de Urgência do Hospital de Viana do Castelo, para onde foi logo transportado pelos Bombeiros Voluntários de Valença, que, ainda no local da ocorrência, lhe prestaram os primeiros socorros.

Depois das detenções e com base nas ordens de investigação e detenção europeias, foram detidos os quatro espanhóis, com a base logística em Vilanova de Arousa, da província de Pontevedra, na Galiza, através de seis buscas domiciliárias, nessa e em outras localidades de Pontevedra, além de uma busca num estabelecimento hoteleiro, nomeadamente em Vilanova de Arousa, Redondela, Pazos de Borbén e Porriño, tendo sido recuperados na ocasião 118 mil euros, em notas do Banco Central Europeu.

Nas investigações criminais tiveram também um papel decisivo militares da Guardia Civil, através do Comando Provincial de Pontevedra, mais concretamente da sua Unidade Orgânica de Polícia Judicial, com o Grupo de Património, que trata dos casos de roubos e de furtos e que também investigava a quadrilha italiana em parceria com o Comando Territorial de Braga da GNR.

 
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