O Tribunal de Braga vai julgar duas funcionárias da área da Educação da Câmara Municipal de Braga pelos crimes de tráfico de influência, por terem urdido um esquema de cunhas na admissão de novos encarregados operacionais das escolas.
A acusação diz que Ana S., de 55 anos, de Braga, – já despedida pelo Município – encarregada operacional, pediu, em 2020, 700 euros a duas mulheres para lhes empregar as filhas como assistentes operacionais, influenciando, para tal, o respetivo concurso público municipal.
No primeiro caso, pediu 400 euros a Maria C., de 62 anos, de Braga, e que era assistente operacional afeta à Escola Básica 2/3 de Palmeira, a troco da promessa de ajudar a sua filha a ser selecionada num concurso camarário.
Esta funcionária, acabou por denunciar o caso no departamento de Recursos Humanos (DRH), onde explicou que entregou a quantia no gabinete da encarregada em envelope onde escreveu os dados da filha: nome e telemóvel.
Referiu que a filha entrou num concurso para Assistente Operacional – serviços gerais, sendo que na prova de conhecimentos obteve 13 valores, sendo excluída.
Acrescentou que, no dia 27 de julho, confrontou Ana S. com a exclusão da filha, tendo esta dito que “não se preocupasse, que estava tudo tratado e que os candidatos que tinham 18 ou 19 valores não iam entrar porque eram licenciados”.
Confirmou ter recebido
Aquando da denúncia – prossegue o Ministério Público -, a diretora do Departamento de Recursos Humanos (DRH) chamou Ana S., que confirmou ter recebido 400 euros “para a ajudar a sua filha a encaixar-se” na Câmara, ou seja, para “meter um pedido”.
No segundo crime, no dia 29 de julho, compareceu no DRH Isaura V., assistente operacional dos Transportes Urbanos de Braga (TUB), tendo dito ter sido contactada por Ana S., que lhe pediu 300 euros a troco da promessa de ajudar a filha a ser selecionada num concurso para Assistente Operacional – Área Educativa.
Disse que, em novembro de 2019, num café, a Ana S., prontificou-se para entregar os formulários na Câmara, afirmando que “trataria de tudo para a filha entrar”. Cerca de 15 dias depois deslocou-se à residência da Isaura V. e, na frente do marido e da filha, disse “já está tudo tratado”. Vais receber prenda de Natal pequenina mas adiantada”, disse.
A seguir, no mesmo café, disse à jovem que estava tudo tratado, que iam ser realizadas entrevistas na Universidade do Minho, afirmando que “não se afligisse, que era tudo a fingir e que o lugar era dela”.
Em abril de 2020, enviou-lhe uma mensagem para o telemóvel: “O concurso das escolas, já só entram cinco em vez de 40 chega-te à frente. Mete 300 euros no envelope e dá a quem tem a lista. Não esperes para terça porque já vai ser tarde, mais vale dar agora mas também a tua filha fica com emprego garantido para a vida. Agora é contigo. Bjs”.
A denunciante afirmou que desconfiou do teor da mensagem e não entregou o dinheiro.