Os habitantes das uniões de freguesias de Merelim São Pedro e Frossos, em Braga e as freguesias de Galegos Santa Maria, Galegos São Martinho e Lijó, em Barcelos, tiveram direito a uma visita pascal motorizada, apesar das indicações do Arcebispo de Braga para que não o fizessem. De salientar que em nenhuma destas visitas esteve algum sacerdote, esses acataram as ordens hierárquicas de dentro da Igreja.
Naquela união de freguesia de Braga, já às portas da malha urbana da cidade, esta visita foi organizada pela própria junta de freguesia, liderada por Adélia Silva.
Ao longo desta manhã de domingo de Páscoa, e também apontado para o resto do dia, uma carrinha de transporte de mercadorias percorre as ruas em marcha lenta, emitindo não só cânticos e orações pascais mas também avisos para que as pessoas se mantenham dentro de casa: “Fique em casa, o Senhor vai ao seu encontro”.
A O MINHO, a autarca salienta que esta visita serve para “levar uma mensagem de fé à comunidade e transmitir a mensagem cívica para que evitem sair de casa”.
“Principalmente, dizemos às pessoas para cumprirem com o isolamento social e esta é uma boa forma de lhes fazer chegar essa mensagem, mas a também aproveitámos para recordar um pouco da visita pascal, com a cruz a ser transportada na viatura para que possam ver e sentir maior conforto”.
Questionada sobre a proibição do Arcebispo de Braga, Adélia resumiu que as orientações foram dirigidas aos párocos da diocese. “Não houve qualquer alerta civil, apenas pela autoridade eclesiástica”, referiu.
“Não temos tido problema com as autoridades, para já, está tudo a decorrer sem qualquer contratempo”, explicou, cerca das 13:00 horas quando falou via telefone com O MINHO.
Para além da mensagem cívica e religiosa, esta carrinha, conduzida pelos elementos da junta que habitualmente prestam assistência aos mais vulneráveis, leva também medicamentos e mercearia para entregar em algumas casas.
Fátimamobil em Barcelos
Em Barcelos, um jipe com uma estrutura improvisada, similar à do carro que transporta a imagem de Fátima durante as celebrações do 13 de Maio, percorreu as três freguesias já citadas durante a manhã, mas poderá estender o seu território esta tarde, para outras freguesias do concelho.
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David Loureiro é um dos principais impulsionadores. Contactado por O MINHO, cerca das 12:45, o empresário confirmou que a visita foi feita à revelia das orientações das autoridades religiosas, mas preferiu prestar declarações ao final do dia, quando o compasso motorizado estiver terminado. Ao que apurámos, em nenhuma das freguesias existiu controle policial para o evento.
Maria Rita, da freguesia de Lijó, concorda com esta visita organizada pela comunidade civil. “Já nos fecharam as igrejas, os cemitérios, acabaram com o compasso, o que falta mais?”, questionou a devota de Fátima. “Isto trouxe-nos um bocado mais de alegria e de fé, uma esperança que tudo vai correr bem”, acrescentou.
Mas há quem não goste. Beatriz Santos, de Frossos, disse a O MINHO que, mesmo sem proibição pela lei civil, o evento é religioso, logo deve respeitar a lei canónica. “É uma falta de respeito para com o arcebispo e para com os habitantes das aldeias. Os números não param de aparecer todos os dias e ainda fazem este tipo de coisa que pode dar para o torto”, salientou.
PSP não recomenda este tipo de visita
Num despacho remetido pela PSP da Póvoa de Varzim à Paróquia de São João Baptista, da Arquidiocese de Braga, e a que O MINHO teve acesso, não é recomendada a realização deste tipo de visitas durante este domingo de Páscoa.
No comunicado, aquela polícia refere não dispor de viaturas nem de meios humanos para fazer um acompanhamento deste tipo de iniciativas, uma vez que todos os meios estão empenhados na fiscalização das medidas impostas pelo Estado de Emergência.
Após pedido da paróquia de São João Baptista de Vila do Conde, a PSP acrescentou que não seria então “possível afetar um veículo da PSP para o efeito pretendido”.
Aquela polícia destaca ainda que a passagem de um compasso pascal na via pública pode “implicar aglomeração de pessoas, seja nas janelas da residência ou na via pública”, logo não é aconselhável a sua realização.
A PSP demonstrou “preocupação” para este último facto, pois, caso as pessoas desçam para a rua, criando aglomeração, e não existindo um patrulhamento adequado in sito, “poderá implicar uma situação não controlável” e “causa constrangimentos à PSP”.
A polícia aponta mesmo o artigo 43.º n.º 1 al. e) do Decreto n.º 2-B/2020, de 02 de abril, “segundo o qual compete às forças e serviços de segurança o aconselhamento da não concentração de pessoas na via pública e a dispersão das concentrações superiores a cinco pessoas” e o ponto 1 do Artigo 26.º do Decreto n.º 2-B/2020, de 2 de abril de 2020, diz que “fica proibida a realização de celebrações de cariz religioso e de outros eventos de culto que impliquem uma aglomeração de pessoas”.
Visitas pascais canceladas
Recorde-se que, em meados de março, a Arquidiocese de Braga proibiu as visitas pascais no distrito de Braga e nas paróquias de Póvoa de Varzim e Vila do Conde, para “evitar todo o tipo de contacto que possa servir de transmissão”.
“Em momentos de epidemia, compete ao cristão sacrificar tudo para a defender”, disse Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga e das Espanhas.
Já na passada sexta-feira, o líder religioso enviou uma mensagem a todos os párocos da diocese para que não fizessem os compassos motorizados, a conselho dos comandos da GNR e da PSP de Braga.