Fotógrafo holandês captou as primeiras eleições livres em Portugal. As imagens podem ser vistas em Braga

Exposição na livraria Centésima Página
Foto: DR

A Livraria Centésima Página e a Comissão de Homenagem aos Democratas do Distrito de Braga associam-se à evocação das primeiras eleições livres em Portugal, a 25 de Abril de 1975, com a exposição de fotografias e vídeos do fotógrafo holandês, Eric Van de Belt, a ser inaugurada no próximo dia 24, pelas 18:00.

Fonte do organismo adiantou, hoje, que a inauguração será acompanhada pelos comentários de Alfredo Cunha, fotógrafo português, autor do livro “25 de Abril de 1974-5ª feira”, cujas fotografias estão resumidas em vídeo, podendo ser apreciadas, igualmente, na abertura desta exposição.

Eric Van de Belt tinha 19 anos quando decidiu viajar para Portugal. No seu testemunho, enviado à Livraria, o autor descreve o ambiente que então se vivia e porque decidiu viajar para Portugal: “Estudei Fotografia e Cinema na Academia St. Joost, em Breda, Holanda. Durante todo o ano após a Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974, houve muita atenção na Rádio Vara para as eleições livres prometidas para 1975. Isso chamou-me a atenção. Fiquei curioso. E, em vez de um estágio num estúdio fotográfico, foi-me permitido ir a Portugal durante três meses para fazer uma reportagem fotográfica sobre as eleições. Na verdade, fui para lá completamente impreparado. Não falava a língua, não tinha feito qualquer pesquisa e não tinha um passe de imprensa”.

Empresas tomadas pelos trabalhadores

E, prosseguindo, relatou: “Tudo o que sabia era que Portugal tinha sido durante muito tempo governado por um regime ditatorial e que estava a travar uma guerra colonial sangrenta em África, nomeadamente na Guiné-Bissau. Militares de alta patente tinham-se revoltado contra esta guerra sem sentido e eram maciçamente apoiados pelo pobre povo oprimido e explorado de Portugal”.

Apanhei boleia para Portugal, – continua o autor – “com uma máquina fotográfica e talvez 30 filmes a preto e branco. Uma vez lá, viajei, visitando Lisboa, Coimbra, Porto, Chaves, Évora e o Alentejo. Por todo o lado havia comícios eleitorais dos partidos políticos, manifestações. Tudo respirava desejo de liberdade e de mudança. Entusiasmo. Tudo ia melhorar. Agentes da Pide / DGS, os serviços secretos, eram abordados. As empresas estavam a ser tomadas pelos trabalhadores”.

“Tinha liberdade para fotografar em todo o lado, ninguém me perguntava nada, sentia-me bem. Também eventualmente em gabinetes eleitorais e em conferências de imprensa da Junta Militar”, recorda o fotógrafo.

“Nos Países Baixos, revelei os filmes, fiz uma seleção de 90 fotografias e fiz um esquema em 42 cartolinas de 30 por 30 centímetros. De forma totalmente intuitiva, não por local ou tempo, mas por imagem. Assim era há quase 50 anos, não víamos os resultados até que os filmes fossem desenvolvidos. As fotos nunca foram publicadas. As 42 páginas ficaram comigo todo este tempo e sustentam a minha memória de três meses fantásticos, otimistas e acolhedores em Portugal. O plano agora é reproduzir as páginas, na íntegra, em alta resolução para que sejam preservadas e mais fáceis de compartilhar”, conclui.

 
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