Fotografado a partir de Fafe um cometa verde visto a última vez pelos primeiros humanos

Vai ser possível ver o astro a olho nu em fevereiro

Foi descoberto em março de 2022 e estima-se que a sua última passagem junto à Terra terá ocorrido há 50 mil anos, durante o final do período onde dominavam os neandertais (Homo neanderthalensis) e começavam a proliferar os humanos (Homo sapiens), única espécie da nossa linhagem direta ainda viva. O cometa C/2022 E3 está, novamente, de passagem entre o nosso planeta e o Sol, verificando-se, entre os dias 01 e 02 de fevereiro, a sua aproximação à Terra, posição astronomicamente conhecida com “perigeu”. As informações são disponibilizadas pelo Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e foram consultadas este sábado por O MINHO.

De acordo com as estações de observação da NASA, o cometa já se encontra no chamado sistema solar interno, que é basicamente a nossa ‘vizinhança’ celeste mais próxima, depois de ter sido captado por cientistas, a partir da Florida, quando passava Jupiter. Então, julgaram tratar-se de um asteróide, mas a velocidade, dimensão e brilho rapidamente mostraram que a humanidade estava perante um corpo celestial bastante próximo, quando comparado com os demais.

Passagem do cometa em relação às constelações. Imagem: NASA

Astrofotografado a partir de Várzea Cova

Aproveitando o (raro) céu limpo dos últimos dias, a partir das serras de Fafe, em Várzea Cova, o astrofotógrafo e colunista em O MINHO Miguel Ventura conseguiu registar a ‘bola’ de gelo, poeiras e gases que ‘rasga’ o Sistema Solar a uma velocidade de 39.877 quilómetros por segundo. De notar o seu tom esverdeado na cabeça (e não na cauda), fruto de uma molécula feita de dois átomos de carbono unificados (dicarbono). Essa será, na verdade, uma boa informação a reter para se perceber quais as fotografias verdadeiras do astro que serão partilhadas ao longo das próximas semanas.

C/2022 E3 fotografado por Miguel Ventura a partir de Fafe. Foto: Miguel Ventura

Acredita a comunidade da astronomia que, nos dois primeiros dias (e noites)  de fevereiro, será possível observar o E3 a olho nu, a partir de qualquer ponto do hemisfério Norte (onde se inclui Portugal), sobretudo ao anoitecer ou amanhecer, onde não exista ruído luminoso e desde que as condições climáticas assim o permitam. Por isso, nada como dar um passeio até ao interior minhoto, onde não exista grande poluição luminosa, para testemunhar algo que só os primeiros humanos alguma vez viram. Contudo, recomenda-se a utilização de binóculos, máquinas com lentes próprias para astrofotografia ou, claro, o tradicional e infalível telescópio.

Parece que não anda

Como é sabido, o cometa vai parecer que não anda. Nuno Peixinho, famoso astrofísico português que descobriu um asteróide (que ficou com o seu nome), já tinha alertado, em declarações a O MINHO, sobre uma característica deste tipo de astros, que embora visíveis a olho nu, não são fáceis de descortinar por entre as estrelas, pois são apenas pontinhos brilhantes, menos brilhantes do que uma estrela. Mas com binóculos ou telescópio, e não precisa de ter muito alcance, já dá para ver bem.

No entanto, alguns astrofotografos têm destacado a velocidade com que o cometa se aproxima, mostrando a distância vista a partir da Terra ao longo de pouco mais de uma hora.

Sabemos, no entanto, que este tipo de corpo celeste está perto o suficiente para ser visto a olho nu, mas ainda bastante longe para que não pareça parado, ao contrário das estrelas cuja percepção que temos é a de mudança constante durante a noite.

O que viram os nossos antepassados

Como é óbvio, não sabemos, até porque só 30 mil anos depois, em Foz Coa, é que foram escritas as primeiras gravuras nas paredes das cavernas de que há registo em todo o mundo. Embora o hominídeo  se aproximasse do senso de comunidade com a massificação do humano mais parecido com aquele que hoje conhecemos, há 50 mil anos Portugal era habitado, sobretudo, pelos últimos neandertais, que algumas teorias defendem terem escolhido o nosso país para se refugiar do humano, embora hoje se saiba ter sido normal o acasalamento e cruzamento entre as duas espécies do género Homo, o que poderá ter contribuído para a extinção da primeira.

Naquela altura, ainda vivíamos nas cavernas, embora em locais com temperaturas mais cálidas, como seria o sul de Portugal, houvesse já registo da construção de cabanas ao ar livre. Foi também, nesse período, em que se realizaram os primeiros rituais religiosos e fúnebres, bem como o início do culto ao urso, algo que perdurou durante dezenas de milhares de anos. Possivelmente, e caso o cometa estivesse a uma distância menor da que agora observamos, o astro terá sito notado pelos nossos antepassados, e a cor verde, diferente dos demais, certamente terá contribuído para isso.

 
Total
0
Partilhas
Artigos Relacionados