Forjados no Minho. Queirós (Viana) e Hélder (Barcelos) dão cartas na cutelaria artesanal

Vão participar, este fim de semana, na Feira Internacional de Lisboa

A cutelaria artesanal está longe de ter tradição no Minho, mas Carlos Queirós, de Viana do Castelo, e Hélder Pinheiro, de Barcelos, abraçaram o ofício pela “paixão” de trabalhar o aço e já dão cartas nas respetivas especialidades. Os dois cuteleiros minhotos vão estar presenteas na 4.ª edição da Feira Internacional de Cutelaria Artesanal, no sábado e domingo, em Lisboa, entre 45 participantes de vários países.

Carlos Queirós, que dá a conhecer os seus trabalhos através da Queirós – Knives, começou nesta arte por iniciativa própria, uma vez que “o Minho não tem tradição nenhuma de cutelaria artesanal”, a qual está mais presente nas Caldas da Rainha e em algumas regiões de Trás-os-Montes.

“Sou gerente numa empresa de cabos para ferramentas e, como temos muito desperdício de aços e eu tento rentabilizar tudo, comecei a ver o que era possível fazer com os aços que sobravam e, numa pesquisa online, deparei-me com os fornos de cutelaria artesanal”, recorda Carlos Queirós, notando que logo se deu conta de “não há maneira de reaproveitar o aço”.

Essa pesquisa online incutiu-lhe o ‘bichinho’ por um mundo novo. “Desconhecia por completo o mundo da cutelaria artesanal”. Começou a fazer alguns trabalhos, o interesse foi aumentando e o entusiasmo também. A evolução foi-se notando, sendo que, para tal, também valia o facto de já ser “dedicado às artes”.

“Desde 2016 tive um evolução enorme, ao pé de outros que já são cuteleiros há 20 anos. Hoje felizmente sou reconhecido, mais a nivel internacional do que nacional”, avalia Queirós, dando conta de quem Portugal “não há muito mercado” para o que faz.

Canivetes podem chegar a milhares de euros

Especializado em canivetes artísticos, o seu cliente é sobretudo o “colecionador”. E dentro dos colecionadores há diferentes tipos: “Há os que compram canivetes entre os 300 e os 500 euros, entre os 500 e os 1.000 euros, entre os 1.000 e os 3.000 euros, entre os 3.000 e os 6.000 euros. E depois é por aí acima. É um mundo que muita gente desconhece. Há canivetes que se vendem a partir de cinco, seis, 10, 20 30 mil euros”, realça o artesão, dando conta que estes artefactos são mais encarados como arte e não como um objeto do quotidiano. “Mas há gente que usa canivetes dispendiosos no dia a dia”, ressalva.

A maior parte dos trabalhos que faz começam nos 300/350 euros. “A partir daí não tenho limite de preços”, diz, acrescentando que, devido aos valores envolvidos, a cutelaria artesanal é já não só um ‘hobbie’ mas um ‘part-time’, que o levou a coletar-se.

Além das redes sociais, as montras para os seus canivetes são as feiras. Já esteve em Espanha, França e espera vir a participar na “maior feira de cutelaria artesanal do mundo”, nos Estados Unidos.

O que o atrai neste tipo de arte é, em primeiro lugar, “o gosto pelo canivete”. “A gente mais antiga andava sempre com a sua navalhinha no bolso, perdeu-se isso, mudaram-se os tempos também, mas ainda há zonas que ainda têm bastante incutido o canivete no dia a dia para cortar seja o que for, para comer, descascar uma maçã. Sempre gostei da ferramenta em si”, sublinha. E além disso dá-lhe “gozo” o “criar de raiz”. “Perco horas a fazer o design e, daí até ao produto acabado, faço tudo”, acrescenta, destacando que o ‘feedback’ que recebe internacionalmente também o “motiva muito”.

“Sempre tive a paixão das facas”

Na freguesia de Carapeços, em Barcelos, Hélder Pinheiro, de 34 anos, dedica-se a outra especialidade: facas de cozinha, de caça e cutelos.

“Sempre tive a paixão das facas”, conta a O MINHO, mas o ‘clique’ chegou mesmo em 2016 com o programa “Forjados no Fogo”, do Canal História, em que os concorrentes são avaliados pelas suas qualidades de cuteleiros. “Comecei a ver a esse programa e despertou-me a curiosidade”.

Em 2017 começou a fazer uns trabalhos em casa “na brincadeira”, mas depois foi percebendo que “isto tem muito que saber”. “Encontrei um mestre nas Caldas da Rainha e comecei a ir para lá aos sábados. Fazia 300 quilómetros para lá e 300 quilómetros para cá, por gosto mesmo”, assinala.

A trabalhar numa empresa têxtil, é de tarde que, na oficina de casa, se dedica a fazer as facas que, através da sua página HP – Cutelaria Artesanal, já vendeu para muito lado, do Minho ao Algarve, mas também países como Espanha, França, Suíça ou País de Gales.

Viver só da cutelaria artesanal “era um sonho”, mas reconhece que, em Portugal, “é difícil”. “Ainda não temos a mentalidade de dar o valor às facas. A faca artesanal é um item que pode ir de geração em geração, porque em termos de durabilidade é completamente diferente das facas banais que se compram dez euros um conjunto de sete”, considera, acrescentando que também faz afiações. “Aí sim, pode dar outra possibilidade de, no futuro, viver disso. Todas as semanas tenho facas para afiar para talhos, restaurantes e particulares”, aponta Hélder Pinheiro.

O seu tipo de cliente “é mais chefes de cozinhas”, para quem cria “facas personalizadas”.

A peça mais cara que vendeu chegou aos 300 euros, mas assinala que não há preço máximo, tudo “vai depender do que o cliente quiser, da tipologia do aço, do que quiser pôr no cabo. Há materiais para cabos que 200 euros não chegam”.

Quanto ao “segredo para fazer uma boa faca”, responde que é preciso “muito conhecimento sobre o aço”. “Cada aço exige os seus processos térmicos”, explica Hélder Pinheiro, que se irá estrear, no fim de semana, numa feira de cutelaria artesanal, fazendo parte do lote de 45 participantes, tanto nacionais como oriundos de Espanha, França, Alemanha, Holanda e Roménia.

Nesta 4.ª Feira Internacional de Cutelaria Artesanal, em Lisboa, tem como obetivo mostrar e dar a conhecer o seu trabalho: “Se vender, é perfeito”.

 
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