Foi para Düsseldorf assentar azulejo e hoje sacia milhares de alemães com caldo à moda de Vila Verde

Empresário José Esteves espera servir 2.000 litros de sopa durante o festival anual de Dusseldorf

A cidade de Düsseldorf, na Alemanha, volta a ser palco da Festa Anual da Sopa, com caldos feitos no pote, à moda portuguesa, a serem servidos a milhares de pessoas, na sua grande maioria naturais daquele país. O evento acontece no próximo domingo, dia 20 de novembro, e já estão a caminho alguns ‘especialistas’ na confecção do “caldo no pote”, provenientes da freguesia de Sabariz, concelho de Vila Verde, local onde também decorre, anualmente, uma festa deste género.

Caldo é servido à moda antiga. Foto: DR
Caldo é servido à moda antiga. Foto: DR
Caldo é servido à moda antiga. Foto: DR

E como é que num país que, ao contrário de Luxemburgo, França ou Suíça, não tem por hábito adotar costumes levados pelos emigrantes portugueses, decidiu contrariar a tendência e abraçar este? É tudo graças a José Esteves, um empresário de 54 anos que se mudou para a Alemanha em 1991 para “assentar azulejo” e acabou por construir um pequeno império gastronómico português na Alemanha. Natural precisamente de Sabariz, concelho de Vila Verde, José Esteves escolheu aquela cidade para buscar uma vida mais confortável. O trabalho na construção civil deu-lhe meios e engenho para aquilo que, mais tarde, seria a sua obra de vida.

José Esteves. Foto: DR

Grego ‘viu-se grego’ com aposta e perdeu restaurante

Mas recuemos no tempo. Ao fim de quase uma década e meia na Alemanha, já devidamente integrado, José e um amigo de nacionalidade grega, que possuía um restaurante, decidiram apostar em quem seria o vencedor do Euro 2004. Aposta: caso fosse a Grécia a vencer, o amigo grego cedia o ‘passe’ do restaurante ao português. E assim foi.

“Estávamos a trabalhar em Wolfsburgo quando foi a final, e passadas umas semanas entregou-me o restaurante, mas antes esteve dois dias lá dentro a despedir-se (risos)”, contou José, que juntou mais dois amigos, “um eletricista e outro decorador”, que “também não percebiam nada de restaurantes”, e decidiram trocar a temática da Grécia e criar aquele que foi, provavelmente, o primeiro espaço comercial de comida típica portuguesa em Düsseldorf – o Frango Português.

Restaurante Frango Português. Foto: DR
Restaurante Frango Português. Foto: DR
Restaurante Frango Português. Foto: DR

Só presunto de Vila Verde, e o sumo é Sumol, não há cá ‘fantas’

A partir do frango, vieram as tapas e um mini-mercado, dois novos espaços comerciais abertos pelo português e, em 2013, abriu novo restaurante e uma loja, esta última encerrada durante a pandemia e que não chegou a reabrir. Em comum, todos os espaços vendem comida ou produtos tipicamente portugueses, vindos de Portugal, na sua grande maioria de produtores locais, como é o caso da charcutaria, toda comprada no Talho Vilaverdense

Cardápio Restaurante Frango Português. Foto: DR

“A carne vende-se bem, mas a maioria dos nossos clientes são alemães, gostam de coisas diferentes, mas tudo o que servimos é comida portuguesa, vinda de Portugal, até a bebida é portuguesa, desde os vinhos, a água e até os sumos, aqui vendemos Sumol, não é Fanta (risos)”, salientou.

Esta ano já não há ‘corona’, vai ser uma ‘enchente’

José Esteves espera vender perto de 2.000 litros de sopa, uma vez que “este ano já não há ‘c0rona'”, e lembra o período da pandemia, onde teve de fechar os negócios durante ano e meio. “Mas conseguimos segurar, este ano já celebramos o Dia de Portugal, em junho, e juntamos aqui cerca de seis mil pessoas”, lembra, com entusiasmo.

Equipa do SL Benfica que disputou UEFA Youth League, em 2019, esteve no Frango Português. Foto: DR

O empresário destaca o apoio dado pelo governo alemão na sequência da pandemia, onde todos os funcionários dos seus negócios foram abrangidos por um subsídio igual ao salário durante cerca de um ano e meio. “Depois regressaram todos”, revelou. Esse apoio continua, agora, face à inflação e subida do preço da energia. “Já nos deram 300 euros para apoiar a subida dos custos com a energia, que deverá rondar os 400%, e sei que em breve vão entregar mais 1.000 euros, para além de manterem o IVA da restauração nos 7% que é mesmo muito importante”, destacou.

Caldo é servido à moda antiga. Foto: DR
Evento replica um do mesmo género, organizado anualmente em Sabariz, Vila Verde. Foto: DR
Evento replica um do mesmo género, organizado anualmente em Sabariz, Vila Verde. Foto: DR

Cônsules e autarcas de Vila Verde também vão à sopa

Voltando à grande festa anual da sopa, José Esteves confia que, por entre os milhares de visitantes, a grande maioria vão ser alemães, sempre ávidos pelas sopas de Vila Verde.

“Estão sempre a ligar a pedir a sopa – Tens sopa? Tens sopa? Ninguém os pára (risos)”, brinca José Esteves, adiantando que, para a festa, deslocam-se a Düsseldorf o vice-presidente da Câmara de Vila Verde, Patrício Araújo, o cônsul português em Dusseldorf e outros dois diplomatas portugueses, um vindo da Sérvia e outro dos Estados Unidos da América.

 
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