Manuel Heitor lecionou a aula inaugural do curso de Engenharia Aeroespacial da UM
O ex-minstro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior salientou a importância deste ramo do conhecimento para resolver os problemas que se colocam à humanidade
Na tarde desta sexta-feira, no auditório nobre do campus de Azurém, em Guimarães, teve lugar a primeira aula do novo o curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho. Na sua palestra, “O Espaço e nós: pensar e construir o futuro”, Manuel Heitor partiu do que a “geração Apollo” alcançou para lançar desafios aos alunos da “geração James Webb”.
“Sabem o que há em comum entre esta imagem e os extintores no teto desta sala?” – perguntou o ex-ministro, logo no princípio da aula, com uma imagem capturada pelo novo telescópio James Webb em fundo. Ninguém respondeu.
“Foram ambos criados por engenheiros aeroespaciais. Estes extintores automáticos foram criados pelos engenheiros das primeiras missões Apollo”, esclareceu.
Na plateia, além dos alunos estavam o presidente da Escola de Engenharia da UMinho, Pedro Arezes, o diretor dos ciclos de estudo em Engenharia Aeroespacial da UMinho, Gustavo Dias, o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, do presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança e do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro.
Criar um mundo melhor
Manuel Heitor, que viajou dos EUA para vir dar esta aula inaugural, orientou toda a sua palestra para a ideia de que os engenheiros têm ajudado a “criar um mundo melhor”. Segundo o ex-ministro, deve continuar a ser assim e a Engenharia Aeroespacial tem um papel fundamental a desempenhar. “Sejam ambiciosos, mudem o mundo”, desafia. “Digam aos vossos pais que estão a fazer coisas que eles não entendem. É um sinal saudável”, acrescenta.
O ex-ministro, reconhecido como um dos impulsionadores do novo curso de engenharia da UMinho, mencionou os desafios que se colocam a uma nova geração de engenheiros aeronáuticos, entre os quais o aumento do número de objetos em órbita e o consequente risco de colisão e a questão do lixo espacial que se acumulou nas últimas décadas.
Para Manuel Heitor, esta será a geração da fábrica no espaço, “aproveitando as vantagens da microgravidade”, nomeadamente ao nível da produção de novos fármacos.
Oportunidade para novos atores
As novas gerações de satélites serão capazes de gerar tanta informação que não teremos capacidade de fazer o download de toda esta informação, por isso, “esta será geração dos satélites com capacidade computacional”, vaticinou. O ex-governante, agora novamente professor do Instituto Superior Técnico, afirma que economia do espaço vai ter um aumento de 74% até 2030. Ricardo Conde, diretor da Agência Espacial Portuguesa, já antes tinha deixado o repto aos alunos: “Sejam empreendedores”. Há oportunidades para novos atores”, assegurou este responsável aos caloiros de Engenharia Aeroespacial.
Manuel Heitor foi no mesmo sentido quando afirmou que o “novo espaço” não será dominado pelo Estado e pelos grandes monopólios, haverá uma abertura a novos atores e à iniciativa privada. O professor lembrou que esta geração enfrenta desafios como a miniaturização e a redução dos custos por quilo colocado em órbita.
Continuando a falar de desafios, Manuel Heitor aventou a possibilidade da criação de um gémeo digital de todo o território, combinando as possibilidades geradas pelos novos sensores a georreferenciação e modelação gráfica. Isto significaria que os decisores políticos passariam a dispor de um modelo digital de todo o território, com as consequências que esta tecnologia traria para a prevenção, por exemplo, de fogos, cheias e outras catástrofes, mas também na planificação urbana e rodoviária.
“Sejam humanos e solidários. Reconheçam o vosso privilégio e aprendam com os erros das gerações passadas”, sinalizou. Para o ex-ministro a solução para o crescimento esperado da humanidade dos 7 biliões atuais para os 11 biliões esperados, em 2100, passa pela Engenharia Aeroespacial.
Novas instalações arrancam em 2023
O presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, falando antes da aula de Manuel Heitor, confirmou o compromisso com a Universidade do Minho de criar instalações para este curso na Fábrica do Arquinho, no campus de Couros. “Está a ser elaborado o projeto. Espero que possamos abrir o concurso para a obra, em 2023”, afirmou.
A licenciatura em Engenharia Aeroespacial entrou direta para o top 10 nacional dos cursos com notas mais elevadas de entrada. Foi o 8º curso com a melhor nota do último aluno colocado e o primeiro na academia minhota.