Foi há 177 anos que “Maria da Fonte” começou uma revolta popular em Póvoa de Lanhoso

“Revolução do Minho”

Em 23 de março de 1846 deu-se o “enterramento tumultuoso” de Custódia Teresa, naquele que foi o primeiro ato de revolta da população da Póvoa de Lanhoso liderado por uma mulher que ficou para sempre eternizada como Maria da Fonte e que representou o ‘gatilho’ para uma revolução em Portugal.

Também chamada como “A revolução do Minho”, a revolta de Maria da Fonte incidiu sobre o Governo de António Bernardo da Costa Cabral, que proibia a realização de enterros dentro das igrejas.

Descontentes com proibições do Governo, e também com alterações fiscais e novas leis no recrutamento militar, as mulheres saíram às ruas em motins, após instigadas por uma mulher chamada “Maria”, natural da freguesia de Fonteacarda, ganhando assim o apelido de “Maria da Fonte”.

Esta revolução acabou por estender-se a todo o país e provocou a queda do Governo por ordem da rainha D. Maria II. Mais tarde, voltou a haver substituição de Governo e o povo voltou a revoltar-se, originando uma guerra civil que durou oito meses, tendo como base o primeiro motim na Póvoa de Lanhoso.

Após intervenção militar estrangeira, foi assinado um acordo a 30 de junho de 1847.

Maria Angelina

Fazia dois anos que os enterros dentro das igrejas, como era hábito até então, estavam proibidos, com o Governo português a adotar o sistema de enterramento em campo aberto (cemitérios), passando a ser um médico a determinar o óbito da pessoa, e não o clero, algo que, para a população do Minho, bastante entrosada no rito religioso, era um autêntico sacrilégio.

No dia 22 de 1846, a idosa Custódia Teresa, do lugar de Simões, freguesia de Fontarcada, foi mesmo levada a sepultar dentro da igreja por um grupo de vizinhos, onde predominavam mulheres, indo contra às normas da Junta de Saúde e do Governo, que rapidamente enviou a autoridade para travar o funeral.

Inicialmente, o delegado de saúde foi espancado quando tentou atestar o óbito, e a família recusou-se a pagar a também recente taxa para funerais. O padre, com medo do tumulto que poderia originar, recusou-se a conotar qualquer rito religioso com o enterro. Mas, mesmo assim, o grupo de vizinhos sepultou Custódia no interior da igreja.

No dia seguinte ao enterro, as autoridades policiais prenderam várias mulheres tidas como mentoras da revolta, ordenando a exumação do cadáver para ser novamente sepultado, mas no cemitério. Contudo, quando chegaram a Fontarcada, foram recebidos com foices, chuços e varapaus, não conseguindo exumar o corpo de Custódia.

Da revolta, saíram quatro mulheres detidas: Joaquina Carneira, Maria Custódia Milagreta, Maria da Mota e Maria Vidas. A 27 de março, quando iam ser ouvidas pelo juiz, os sinos tocaram a rebate e o povo marchou até à vila da Póvoa de Lanhoso para arrombar as portas da cadeia. Na frente do grupo estava Maria Angelina, vestida de vermelho, procedendo ao primeiro golpe na porta, e logo com um machado. Como as autoridades não conseguiram identificar o apelido da mulher, registaram-na como “Maria da Fonte”, por ser da freguesia de Fontarcada.

 
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