Um trabalhador despedido há três anos de uma empresa de Vila Verde, ao fim de 42 anos de casa, começou a receber, em janeiro, 28 euros mensais para abater aos créditos com que ficou, no valor de 43 mil euros. Atualmente, José Quintão recebe 69,90 euros por mês.
Os valores, revelados em Braga durante uma conferência de imprensa promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção, Madeiras, Mármores, Pedreiras, Cerâmica e Afins, da Região a Norte do Rio Douro, estão estipulados no Plano Especial de Revitalização (PER) da empresa para a qual José Quintão trabalhava.
“De três em três meses, o valor sobe cerca de 15 euros”, esclareceu o trabalhador, adiantando que, “se tudo correr bem”, só daqui a “10 anos ou mais” terá recebido aquilo a que tem direito.
Para já, José Quintão ainda recebe o subsídio de desemprego, mas este apoio acaba em agosto.
“Depois, vou viver de quê? De 69,90 euros? De 69,90 euros mais 15, se entretanto tiver passado outro trimestre?”, insurgiu-se.
Trabalhava desde os 13 anos de idade numa empresa de construção civil de Prado, Vila Verde, até que há t anos foi um dos trabalhadores abrangidos por um despedimento coletivo de 80 pessoas.Entre salários, subsídios e indemnizações, é credor de 43 mil euros.
A empresa avançou, entretanto, com um PER, para tentar “dar a volta” a uma dívida de perto de 64 milhões de euros, dos quais 3,6 milhões aos trabalhadores.
“O PER fixou dois anos de carência, ou seja, durante esse tempo todo não recebi nada daquilo a que temos direito. No início deste ano, comecei a ver entrar na minha conta 28 euros por mês”, disse José Quintão.
Com 59 anos de idade e sem esperança de encontrar novo emprego, o trabalhador vai pedir a pré-reforma, como “única saída para não morrer à fome”.
Segundo José Maria Ferreira, dirigente daquele sindicato, a culpa destas situações é dos planos de insolvência e dos PER, instrumentos que “não revitalizam coisa nenhuma”, antes “servem para acelerar e facilitar os processos de destruição das empresas”.
Na conferência de imprensa, o sindicato apontou o exemplo de 11 empresas dos distritos de Braga e do Porto, todas com PER e com uma dívida que ascende a 380 milhões de euros. Desse montante, os trabalhadores são credores de mais de 15 milhões de euros.
“Nenhuma, ou praticamente nenhuma, tem viabilidade para prosseguir”, afirmou Alfredo Adão, do mesmo sindicato.
O sindicato sublinhou que naquele lote não estão “umas empresas quaisquer”, mas sim “a fina flor” do setor da construção civil na região, que chegaram a empregar “largas centenas” de trabalhadores.