A lotação do cemitério municipal de Braga está condicionada desde esta segunda-feira a 250 pessoas em simultâneo, medida imposta pela Câmara de Braga que vigora até ao próximo dia 06 de novembro.
Esta condicionante insere-se nas medidas restritivas da autarquia para tentar conter o elevado número de contágios da doença covid-19 registados ao longo das três últimas semanas.
Cada pessoa só poderá estar dentro do cemitério no máximo de uma hora, com obrigação de utilização de máscara, e a autarquia vai disponibilizar meios próprios para assegurar que as regras serão mantidas.
O MINHO esteve a cerca de 50 metros do cemitério, em Monte de Arcos, para ouvir os comerciantes de flores que se localizam naquele espaço em stands durante todo o ano.
A maioria acha que o cemitério tem condições para receber mais gente em simultâneo, mas há quem ache que o melhor seria nem abrir.
“O cemitério equivale a quatro estádios do Braga”
António Braga, de 74 anos, é já um decano no negócio. Com stand aberto há 45 anos, já “do tempo da sogra”, o bracarense residente em Cividade acha que nem sequer deveriam existir restrições, apontando que o cemitério equivale a “quatro estádios do Braga”.
“Estivemos dois meses parados e esta altura era boa para podermos correr atrás do prejuízo, mas decidiram limitar as entradas e isso só nos vai prejudicar porque as pessoas não estão para vir para a fila como já aconteceu uma vez”, disse o comerciante.
É que no passado dia 05 de maio o cemitério reabriu portas depois de quase dois meses encerrado face à pandemia, mas a lotação máxima era de 20 pessoas e geraram-se filas intermináveis à porta daquele equipamento municipal, conforme noticiou o nosso jornal.
Confusão à porta do cemitério de Braga no primeiro dia de desconfinamento
António queixa-se de falta de apoio, embora a autarquia tenha ‘perdoado’ três meses de renda [cada stand paga 260 euros mensais]. Mas o comerciante diz que não é suficiente, uma vez que perderam todas as flores que tinham encomendado na altura e ainda tiveram de pagar a água, “cerca de 40 euros por mês”, aponta.
“Tivemos muito prejuízo e quase nenhuma ajuda. Do Governo não recebemos nada apesar de já termos pedido. Da Câmara também disseram que iam dar alguma ajuda financeira mas ainda não disseram nada”, lamenta.
António confessa que tem vendido “alguma coisa” nos últimos dias, mas “nem metade” do que vendia em outros anos.
“Este ano encomendei menos de metade das flores, porque para além do vírus também veio a chuva e o pessoal não aparece para comprar”, desabafa. “Vai valendo os arranjos que as pessoas podem comprar agora e que se aguentam bem até ao Dia de Todos os Santos”, assegura.
“Acho que podiam ser 500 pessoas de cada vez”
Pedro Duarte, no stand ao lado de António, concorda que a limitação a 250 pessoas é “exagerada”. Familiar da proprietária, queixa-se de “menor afluência” e, consequentemente, “menos vendas” ao longo dos últimos dias, quando comparando a anos anteriores.
“Acho que em vez de 250 pessoas podem estar 500 à vontade, e isso faria com que viesse mais gente, pois sabiam que não vinham para ficar em filas”, assegura.
Pedro já vende para o Dia de Todos os Santos, mas “é pouca coisa”. “Pensámos que as pessoas fossem antecipar a compra de flores por causa da pandemia mas isso não se tem visto muito, as pessoas não estão a vir”, aponta.
O comerciante diz-se satisfeito com o apoio da Câmara em relação aos três meses de ‘perdão’ de renda, mas isso por si só não é suficiente para manter o negócio.
“As pessoas têm medo do vírus, é normal, mas o cemitério é ao ar livre, há mais segurança do que em outros espaços onde deixam entrar mais gente”, destaca.
Pedro dá mesmo exemplo do centro comercial Braga Parque, onde podem circular no interior mais de mil pessoas em simultâneo.
“O Braga Parque é um sítio fechado e está sempre cheio de gente enquanto que o cemitério é ao ar livre e as pessoas conseguem distanciar-se melhor”, assevera.
Pedro queixa-se ainda relativamente aos cemitérios fechados em várias freguesias do concelho. “Nas freguesias estão a fechar muitos cemitérios entre 31 de outubro e 02 de novembro e isso também nos prejudica porque as pessoas vinham cá comprar as flores”, explica.
Sobre apoios do Governo, Pedro diz que são ilusões. “Eles dão apoio e não temos de pagar agora, mas vamos ter de pagar depois, por isso acho que nem vale a pena pedir alguma coisa”, confessa.
Sobre o vírus, o comerciante é ciente que se as pessoas utilizarem máscara e desinfetante enquanto mantém a distância, nem sequer seria preciso limitações no cemitério. “Daqui a pouco não podemos sair de casa”, finaliza.
“Limitação de circular entre concelhos vai prejudicar o negócio”
Cláudia Faria, outra comerciante de flores, concorda com a lotação de 250 pessoas no cemitério, mas aponta uma nova dificuldade que os colegas não mencionaram: a limitação de circulação entre concelhos no fim de semana dos Finados.
“Eu concordo com a limitação de pessoas dentro do cemitério porque se elas não existissem, de certeza que as pessoas iam acumular-se lá dentro e aumentar os contágios”, começa por dizer.
No entanto, acha que a limitação de circulação entre concelhos não é uma medida útil, “porque vinham pessoas de todos os lados, desde Famalicão, Trofa, Vila Verde, e até Vila Real, para comprar flores”.
Cláudia explica que alguns desses clientes, que já vinham em outros anos, “não estão a aparecer”. Eram clientes fiéis e este ano não vão vir porque não podem sair do concelho e a justificação de que vão comprar flores não colhe por entre as autoridades.
A comerciante conta que alguns desses clientes têm familiares no cemitério de Braga e aproveitavam o dia de Finados para fazer uma visita. Outros desses clientes vinham a Braga comprar as flores para levar para os cemitérios onde residem, fora de Braga.
As quebras são de 50% nas vendas, até agora, mas Cláudia acha que ainda vão descer mais nos próximos dias. “Tenho notado que algumas pessoas se anteciparam e comprar flores antes dos dias do costume, com medo de multidões”, reforça.
“Estamos a vender menos 50% do que o habitual, mas isso já desde o início da pandemia, não é só de agora. Estávamos era a contar com os Santos para recuperar um bocadinho nestes meses difíceis”, lamenta.
Um despacho assinado pela vereadora Olga Pereira, da Câmara de Braga, limitou o acesso ao cemitério de Monte de Arcos para 250 pessoas em simultâneo. A medida entrou em vigor na segunda-feira e termina apenas no próximo dia 06 de novembro.
Acesso ao cemitério de Braga limitado a 250 pessoas em simultâneo no Dia de Todos os Santos
Devido ao fim de semana dos Finados (Dia de Fiéis Defuntos e Dia de Todos os Santos), o Governo deliberou uma resolução, aprovada em Conselho de Ministros e publicada esta segunda-feira em Diário da República, que obriga os cidadãos a permanecerem nos seus concelhos de residência entre as 00:00 do dia 30 de outubro até às 06:00 do dia 03 de novembro, de forma a travar contágios de covid-19, sobretudo no Norte, como referiu na altura a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
O concelho de Braga registava, no passado sábado, 2.460 casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus, segundo apurou O MINHO junto de fonte local da área da saúde.
No último balanço, registavam-se 74 óbitos, número que se mantinha igual desde 16 de junho.