Numa carta aberta já assinada por mais de 500 subscritores, um grupo de paroquianos de Monção critica a “crucificação pública” do padre André Gonçalves, acusado de abusos sexuais de um menor, por parte da Diocese de Viana do Castelo.
O documento visa o bispo João Lavrador que, em janeiro deste ano, emitiu um comunicado em que confirmou que “proibiu” o padre de Monção de exercer o sacerdócio depois de este ter confirmado um caso de abuso sexual de menor de 14 anos.
Os fiéis lamentam o “comunicado condenatório e pouco esclarecedor” emitido pela diocese em 23 de janeiro. “Importava clarificar que se trata apenas e só, da lei canónica, e é neste campo que o pároco será julgado no tribunal eclesiástico. Importa esclarecer que tratando-se de uma relação consentida, a partir dos 14 anos, civilmente, não é punível”, refere a carta aberta enviada a O MINHO esta terça-feira.
E acrescenta: Ninguém se preocupou em esclarecer e separar a parte canónica, do civil. Preferiram acusar logo o sacerdote de pedófilo. Mais ainda, referem que o pároco, confirmou os abusos. Outro erro crasso. O sacerdote, ao que se sabe confirmou os factos e não os abusos”.
Lamentam ainda a “crucificação pública” do sacerdote levada a cabo pela Diocese de Viana. “Não se perdeu tempo em apontar o dedo e deixar crucificar, achincalhar, julgar e condenar um ser humano em praça pública, sabendo que houve um pecado e que há confirmação do ato”, lê-se.
“Será que este caso isolado, como se consta, foi caso único por estes lados? O jovem só está em pecado e permite-lhe poder continuar a vida religiosa? Haveria ligação destes jovens a outros sacerdotes? Seriam as mensagens e fotografias enviadas por iniciativa própria, ou algum sacerdote ou uma terceira pessoa foi retirar essas informações ao telemóvel do jovem? Não temos aqui abuso de bens pessoais?”, questionam.
Realçam o trabalho desenvolvido pelo padre André Gonçalves nas paróquias e defendem que “merece todo o respeito”, acrescentando que o bispo deveria ter mostrado maior prudência na exposição pública do caso. “Pecou, e é homem para assumir e ser julgado pelo pecado cometido, mas a ele e à família deve-se respeito”, vincam.
Exigem ainda um pedido de desculpas por parte de João Lavrador ao padre visado. Caso o bispo não se retrate, deve abandonar o cargo: “Por tudo isto e caso o sr. bispo não se retrate de toda esta situação, só nos resta concluir que não tem condições para continuar a guiar como Bom Pastor os destinos da diocese de Viana do Castelo”.
“Aceitamos e defendemos a ‘tolerância zero’ nestas matérias, mas jamais aceitaremos, na nossa condição cristã, a forma como o fez, como expôs o padre André Filipe e a sua família, que merecem o direito ao bom nome e ao anonimato próprio das diligências processuais. Onde está a justiça? Onde está o perdão? Onde está a retratação e a reparação? Aguardamos, sr. D. João”, concluem.
O padre ministrava nas paróquias do Divino Salvador de Cambeses, Santa Maria de Abedim, Nossa Senhora das Neves de Bela, São João Baptista de Longos Vales, São João Baptista de Portela e São Miguel de Sago e, era assistente dos convívios fraternos, em Monção.
Como O MINHO noticiou, o Ministério Público instaurou um inquérito à denúncia da diocese de Viana do Castelo de um alegado caso de abuso sexual de menor.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) referiu que o inquérito instaurado pretende “averiguar a prática de factos criminalmente relevantes e o respetivo enquadramento legal”.
Também em janeiro, após serem tornados públicos os factos, a alegada vítima de abuso sexual de André Gonçalves terá confirmado que mantinham uma relação desde dezembro de 2022, mas garante que “houve total consentimento das duas partes”.