O Festival Política, que começa na sexta-feira em Lisboa sob o signo da “pós-democracia”, quer refletir sobre autoritarismos e sobre o papel dos cidadãos na construção democrática, disse à agência Lusa Bárbara Rosa, da direção artística. O festival realiza-se em Braga, de 04 a 06 de maio.
Durante três dias, no cinema São Jorge, o Festival Política acolhe cinema, concertos, exposições e debates que pretendem promover uma reflexão sobre democracia e “fomentar o empoderamento do cidadão”.
“Como o Festival Política continua a ser espaço de discussão e reflexão sobre o papel que temos individualmente como cidadãos nesta construção democrática – os valores da democracia estão constantemente ameaçados, os valores de abril [25 de Abril de 1974] estão por consolidar -, é preciso refletirmos e discutir qual o caminho para esta revolução que é preciso ocorrer para que o autoritarismo não saia vencedor”, sublinhou Bárbara Rosa, jurista, cofundadora e codiretora artística desta iniciativa.
Nesta edição, o festival conta, por exemplo, com a participação da artista portuguesa A Garota Não, que se apresenta no palco do São Jorge na sexta-feira com “uma conversa cantada” na qual abordará as mudanças em que acredita, como se lê no programa.
Destaque para um debate sobre empreendedorismo, ativismo e participação cívica, com o investigador António Brito Guterres, Maria João Rodrigues, da Associação Viver em Sociedade, e Nuno Varela, do projeto Kriativu.
Este projeto comunitário, Kriativu, que nasceu no bairro de Chelas, faz ainda curadoria da exposição de fotografia “Institucionalizado”, de Isa Marques e Airton César Monteiro.
“Damos sempre palco àquelas pessoas que pertencem a coletivos e que têm sido votados à invisibilidade”, sublinhou a diretora artística.
Este ano volta a acontecer o “Cara-a-Cara”, momento em que os espectadores do Festival Política podem conversar individualmente com deputados, mediante inscrição prévia.
Segundo a organização, está confirmada a presença dos deputados Alexandre Poço (PSD), Duarte Alves (PCP), Miguel Costa Matos (PS), Pedro Filipe Soares (Bloco de Esquerda), Rodrigo Saraiva (Iniciativa Liberal) e Rita Matias (Chega).
Sendo um festival para todos os públicos, haverá ainda programação para os mais novos, nomeadamente uma oficina de pensamento sobre liberdade, para pessoas entre os sete e os doze anos, conduzida por Rita Pedro, investigadora em Filosofia.
Todos os dias haverá ainda sessões de cinema.
O Festival Política aconteceu pela primeira vez em 2017, integrado no programa municipal de Lisboa das celebrações do aniversário da revolução de 25 de abril de 1974, e a cada ano há um tema dominante.
A propósito da pós-democracia, Bárbara Rosa considera que remete “para o sistema em que, na aparência, não há nada de diferente em relação à democracia ocidental clássica, com eleições livres, com justiça independente, mas não passa de uma fachada, porque o poder real tem residido noutros lugares, nas grandes empresas, nos mercados, nas agências de classificação”.
A jurista lamenta a existência de uma “desconexão entre cidadãos e coletivos sociais e os partidos de massas” que contribuíram para a construção da democracia.
“Vemos correntes menos democráticas, como a extrema-direita xenófoba nacionalista na Europa, a crescerem como resultado deste desalento com esta forma de democracia”, disse.
Apesar de o Festival Política ser uma iniciativa agregada à atividade cultural de Lisboa, haverá outras edições fora da capital, estando confirmada a realização em Braga, de 04 a 06 de maio. Este ano, também vai passar por Loulé e Coimbra.
Toda a programação, que é de entrada gratuita, está disponível em festivalpolitica.pt.