A 11.ª edição da festa transfronteiriça da caça no Xurés/Gerês, que vai decorrer no fim de semana em Melgaço, no Alto Minho, e em Lobios, Galiza, pretende harmonizar a gestão cinegética no parque e desmistificar a figura do caçador.
“O objetivo desta festa transfronteiriça é refletir sobre a forma de harmonizar a gestão da caça numa zona raiana, em que a regulamentação muda com um simples passo. Na floresta, numa jornada de caça, podemos passar a fronteira e estarmos sujeitos a regras diferentes”, explicou hoje à agência Lusa, Horácio Cerqueira, da organização.
O também presidente da União de Freguesias de Ermelo e São Jorge, em Arcos de Valdevez, adiantou que a festa pretende demonstrar “a importância da caça no controlo das espécies e o impacto económico que a atividade tem no território”.
Criado em 1971, o único parque nacional em Portugal abrange 22 freguesias e situa-se no extremo noroeste de Portugal, na zona raiana entre Minho, Trás-os-Montes e a Galiza, atravessando os distritos de Braga (Terras de Bouro), Viana do Castelo (Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca) e Vila Real (Montalegre), tendo uma área total de 70.290 hectares.
Classificado desde 2009 como Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, o parque é constituído pelos territórios que integram o Parque Natural da Baixa Limia-Serra do Xurés, na Galiza, Espanha, e o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), no distrito de Viana do Castelo.
“Atualmente, a população de javalis está descontrolada. Se não for através da caça, dificilmente se consegue resolver esse problema. Além da destruição de culturas agrícolas, o aumento de exemplares desta espécie pode transformar-se num problema sério de saúde pública se esta população vier a contrair a peste suína africana, um pesadelo que já sofremos anteriormente. As espécies selvagens sempre passaram a fronteira sem mostrar passaporte. Circulam num território que é comum e partilhado pelos dois países. Se tivermos uma população descontrolada, com maior rapidez se propaga a doença”, destacou Horácio Cerqueira.
O elemento da organização portuguesa da festa referiu que se essa propagação acontecer, “as fronteiras fecham-se à exportação de carne suína, que é a base de subsistência de muitas famílias portuguesas e a economia sofrerá um forte impacto”.
Para o autarca, que é caçador no PNPG, “a caça pode coexistir com as mudanças introduzidas no único parque nacional do país” e é necessário “desmitificar a figura do caçador”.
“A caça deve ser pensada, reajustada e tornar-se uma mais-valia, até para prevenir situações mais graves que de outra forma não seriam possíveis resolver. Os caçadores são pessoas de bem, cidadãos cumpridores, que querem estar de bem com a sociedade”, sublinhou.
Do lado espanhol, adiantou Horácio Cerqueira, a gestão cinegética “faz-se melhor, com envolvimento do Estado, e há regras em vigor que representam uma mais-valia para a caça”.
Do lado português o mesmo não acontece porque “o Estado despiu-se da responsabilidade de gerir quando criou as zonas de caça e atirou essa responsabilidade para as reservas de caça que não têm formação para o fazer”.
“As reservas de caça têm de contratar pessoas especializadas para assegurar essa gestão, mas não têm receitas porque parte do dinheiro que se produz nessas reservas tem de ser dado ao Estado. Ou seja, o Estado deixou de gastar dinheiro e, ainda recebe por ter entregado a gestão aos caçadores”, apontou.
O evento é organizado pela Xurestec, associação galega de zonas de caça do Parque Natural Baixa Limia – Serra de Xurés, e começa, no sábado, na Porta de Lamas de Mouro do PNPG, em Melgaço.
O programa inclui uma conferência moderada pelo social-democrata Luís Campos Ferreira e que terá como oradores a eurodeputada do PS Isabel Carvalhais, Álvaro Amaro, ex-eurodeputado do PSD e caçador, Nuno Melo, eurodeputado e líder do CDS-PP, o presidente do conselho de administração da AGROS e presidente da CONFRAGRI, Idalino Leão, e Juan José Gomez, veterinário e chefe de divisão do Património Natural da Junta da Galiza.
“Este encontro vai permitir-nos trocar ideias e opiniões sobre a atual regulamentação do setor, o impacto económico que tem nos territórios e de que forma é que a caça pode ser importante para o controlo de determinadas espécies como, por exemplo, o javali. Sabemos que atualmente há opiniões contraditórias acerca deste tema, mas também temos consciência que, por isso mesmo, é necessário debater e conhecer melhor os efeitos da caça em territórios como os nossos, de baixa densidade populacional”, explicou José Carlos Pires, presidente da União das Associativas do PNPG.