Fecho anunciado da Tupperware gera apreensão mas população mantém a esperança

Fábrica empregava 200 pessoas
Foto: Lusa

A população de Montalvo, que acolhe a fábrica da Tupperware há mais de quatro décadas, onde trabalham 200 pessoas, está apreensiva com o anunciado encerramento da empresa na quarta-feira, mas mantém a esperança que tal não se concretize.

“Para muita gente ainda não caiu a ficha e há uma esperança [que a fábrica não encerre]. Há pessoas que, no fundo, no fundo, têm a esperança que não feche totalmente, que se mantenha e que, pouco a pouco, as coisas vão caminhando”, disse hoje à Lusa a cozinheira do restaurante Kais66, o único na aldeia de Montalvo, uma freguesia de Constança, no distrito de Santarém, que conta hoje com pouco mais de 1.200 habitantes, segundo os Censos de 2021.

Mariana Esteves, 52 anos, destacou a importância da fábrica na dinâmica económica e social de Montalvo, e confessou manter também a “esperança que a Tupperware não feche portas totalmente na quarta-feira” e se mantenha a dinâmica do restaurante que, tal como a freguesia, cresceu com a atividade da icónica fábrica de plásticos da multinacional norte-americana.

Lembrado que Montalvo e a Tupperware cresceram de mãos dadas desde a sua implantação na aldeia, a cozinheira contou que “o Kais66 nasceu num espaço que tinha essa designação nos anos 80 e que foi o primeiro local de embalamento e carregamento de camiões para distribuir os produtos da fábrica”.

Carlos Alberto Pires, 73 anos, nascido e criado em Montalvo, disse hoje à Lusa que acompanhou todo o processo de instalação da empresa numa “pequena aldeia rural que vivia da agricultura, das vinhas e dos rebanhos” e que se “modernizou e cresceu com a vinda da fábrica”, nos anos 80.

“O cenário, a concretizar-se o fecho da fábrica, é dramático. Muitas famílias dependem da Tupperware e esta é uma aldeia pequena. Será muito mau para todos”, afirmou Carlos Pires, hoje reformado, e que gere a única taberna de Montalvo.

No Kais66 surgiu a meio da tarde Inês Machado, 53 anos, para beber um café antes de ir “dar o lanche” a dois idosos de quem cuida, que deu conta do “sentimento geral de preocupação” por parte da população.

“A filha e uma neta dos dois idosos trabalham lá na fábrica e estão em vias de ir para o desemprego. O fecho será muito prejudicial para muitas famílias que estão lá há muitos anos e hoje em dia, com 50 anos, são novas para ir para a reforma, mas velhas para trabalhar”, notou.

Para a presidente da Junta de Freguesia de Montalvo, Ana Manique, o fecho da fábrica, “a concretizar-se”, tem efeitos “preocupantes” em termos sociais e em outros setores da dinâmica local”.

Também para a autarca, este eventual fecho “acaba por ser um bocadinho um pau de dois bicos” para os trabalhadores, que “ainda têm idade para continuar a trabalhar, mas para procurar emprego acabam por ser já um bocadinho, digamos, velhos”.

“Fala-se que dia 08 [quarta-feira] é o encerramento mesmo final e que não há volta a dar, mas esperemos que haja aqui uma boa notícia, no fundo que venha qualquer coisa substituir [a Tupperware}, porque estas instalações ficarem aqui, sem ter produção ou sem ter outro caminho, para Montalvo também não é das melhores coisas”, afirmou.

A fábrica da multinacional Tupperware em Portugal, a funcionar desde 1980 naquela aldeia, dependia a 100% da casa-mãe norte-americana.

O pedido de insolvência da casa-mãe teve consequências diretas na unidade portuguesa e vai deixar no desemprego os 200 trabalhadores que ali eram efetivos, a maioria dos quais residente em Montalvo.

A notícia do fecho da Tupperware foi avançada pelo presidente da Câmara de Constância, no dia 20 de dezembro.

“A Câmara Municipal de Constância tomou conhecimento que no dia de ontem [19 de dezembro] foi comunicado aos trabalhadores da empresa que a mesma encerrará a 08 de janeiro de 2025”, escreveu o autarca Sérgio Oliveira, na página oficial do município, tendo deixado uma “palavra de solidariedade a todos os trabalhadores e respetivas famílias”.

Hoje, Sérgio Oliveira, que esteve em Montalvo com a Lusa, disse estar preocupado com o possível fecho da fábrica porque a Tupperware é “o maior empregador” do concelho.

“Acreditámos até ao último instante que isto seria apenas e só mais uma crise pontual e a Tupperware iria conseguir dar a volta por cima e continuar a laborar aqui na freguesia de Montalvo”, afirmou, dando conta da preocupação das famílias “que dependem do sustento que tiram da fábrica” e da falta de informação por parte da empresa.

Segundo o autarca, “o grupo [Tupperware] sempre teve uma postura muito fechada sobre si próprio, nunca teve uma grande abertura à comunidade e aos próprios trabalhadores que, nesta fase, têm poucas informações sobre aquilo que será o futuro, nomeadamente a garantia dos seus direitos”.

Sérgio Oliveira disse que a Câmara Municipal já pediu apoio para os trabalhadores ao Ministério do Trabalho e da Segurança Social, “para que fossem salvaguardados e garantidos os direitos” que têm.

“Há algumas pessoas com 30 anos de casa, que trabalharam sempre aqui (…) e que agora, inevitavelmente, serão obrigados a reinventar-se”, alertou, tendo dado conta que “as pessoas estão preocupadas e entristecidas”.

“É normal que assim estejam, mas também aquilo que me compete transmitir a todos, enquanto concelho e enquanto comunidade, é que estamos todos juntos neste processo e quero deixar uma palavra de esperança de que melhores dias virão e para as pessoas não entrarem num processo de profunda tristeza ou de profunda depressão. Estamos todos juntos e, naquilo que estiver à disponibilidade da Câmara Municipal, estamos cá para apoiar e colaborar com todos”, concluiu.

 
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