Faz hoje 40 anos que Vizela saiu à rua em busca de se tornar concelho

A 05 de agosto de 1982 a GNR tomou de assalto cidade com dezenas de homens, jipes, tanques e camiões de transporte

Em 05 de agosto de 1982, a CP pretendia reparar os 1.800 metros de linha de caminho de ferro que os vizelenses tinham levantado em sinal de protesto. Um enorme contingente da GNR invadiu a vila, supostamente com o objetivo de retirar uma automotora que tinha ficado retida, desde o levantamento da linha, em maio. Os sinos tocaram a rebate e a população enfrentou as autoridades. Os funcionários da CP foram apedrejados. A Guarda respondeu com lançamento de gás lacrimogéneo, mas a carga da força policial não demoveu os populares. Aos tiros das autoridades o povo respondeu com foguetes de romaria. Apesar do carater bem-disposto e de paródia da luta vizelense, a luta era dura e deste confronto resultaram dezenas de feridos, incluindo três militares da GNR.

Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense

Hoje, na data em que se assinalam 40 anos sobre a revolta popular pela independência administrativa do concelho de Vizela, a Câmara Municipal e a Comissão de Festas promovem um programa evocativo do 05 de agosto de 1982. Além da romagem aos cemitérios, às 18:30 e da sessão solene, às 19:00, será descerrado um monumento comemorativo da data e inaugurada, na Loja Interativa de Turismo, uma exposição sobre aqueles acontecimentos. À noite, no largo 05 de agosto (pois claro) há Bombos da Família Peixoto e fogo de artifício.

Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense

A atenção da comunicação social virou o jogo

Segundo, Rita Oliveira, na sua tese de mestrado, na Universidade do Minho, o “processo autonomista de Vizela no contexto das dinâmicas político-administrativas portuguesas (anos 60 a anos 80, do século XX)”, “depois deste dia, devido à grande atenção que a comunicação social dispensou ao assunto, a opinião pública começa-se a interessar pelo evoluir da situação”.

Além do boicote à reparação da linha férrea, nesse 05 de agosto, foi também destruído o posto municipal de cobrança de taxas, ocupada uma agência bancária, foi assaltado o Posto de Turismo e vandalizado o carro particular do presidente da Câmara de Guimarães.

Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense
Foto: Facebook Orgulho vizelense

Os dados estavam lançados e, em ano de eleições autárquicas, a palavra de ordem foi “sem concelho não há eleições”. Não houve de facto eleições porque os sinos voltaram a tocar a rebate e a população ou ficou em casa ou saiu para destruir as mesas e os boletins de voto.

Até Amália Rodrigues se associou à Festa

A luta pela reposição do concelho de Vizela – já tinha sido entre maio de 1361 e fevereiro de 1408 – nunca mais parou, mas ainda vinha longe o desfecho porque ansiavam os vizelenses.

Foto: Facebook Orgulho vizelense

Depois de dois projetos de lei chumbados (1983 e 1986), de manifestações na Assembleia da República, de um corte da avenida da Liberdade, em Lisboa, por ocasião da realização da final da Taça de Portugal, entre o Vizela e o Sporting (vencida pelos Leões), o dia tão esperado, em que Vizela se tornou cidade e sede de concelho, chegou a 19 de março de 1998.

“Nas imediações da Assembleia da República, a Pesada [como chamavam aos elementos da luta autonómica mais agitadores] havia montado uma sirene que tocava de forma estridente, e muitos moradores de Lisboa assistiam com simpatia a todas as manifestações de alegria, tendo até a fadista Amália Rodrigues se associado autografando várias bandeiras do novo concelho”, escreve Rita Oliveira.

Foto: Fernando Silva / Facebook Orgulho vizelense

Guimarães lutou até às últimas consequências

A Câmara Municipal de Guimarães ainda interpôs um recurso sobre a criação do concelho de Vizela para o Supremo Tribunal Administrativo. Contudo, o Presidente da República, Jorge Sampaio promulgou a lei nº63/98, que foi publicada em Diário da República, no dia 01 de setembro. O Supremo Tribunal Administrativo veio a considerar que o processo de criação do Município de Vizela era matéria da exclusiva competência da Assembleia da República. Mais uma vez, a Câmara de Guimarães recorreu, desta vez para o Tribunal Constitucional que recusou a apreciação da constitucionalidade do Concelho de Vizela.

 
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