Foi há 104 anos que o menino pastor Severino Alves diz ter avistado uma aparição de Nossa Senhora no lugar de Barral, freguesia de Vila Chã (São João), em Ponte da Barca. O avistamento terá ocorrido dois dias antes das aparições da Cova da Iria, em Fátima, e ainda hoje este pequeno santuário minhoto parece caído no esquecimento do imaginário católico, dada a força que a história de Lúcia, Jacinta e Francisco granjeou na comunidade portuguesa.

Foi no dia 11 de maio de 1917 que o jovem pastor avistou um relâmpago, como dá conta Luíz Arezes, historiador que escreveu o livro “Centenário das Aparições no Barral”, editado em 2017. Terá então ouvido uma voz a pedir para que não se assustasse. À semelhança de Fátima, pediu a Severino para “rezar” e contar a todos a “boa nova” de que o lugar era sagrado.

E assim fez o jovem pastor, recolhendo incredulidade de uns e devoção de outros. O caso depressa chegou à arquidiocese de Braga, mas o arcebispo de então achou por bem não se fazer nada e esperar para que o milagre fosse comprovado. A história acabou por cair no esquecimento geral e apenas os habitantes daquele pequeno lugar iam colocando “umas velinhas” para recordar o fenómeno.
Em Fátima desobedeceram à Igreja
De acordo com a Confraria de Nossa Senhora da Paz, o possível motivo das aparições de Ponte da Barca não serem tão conhecidas prende-se pela construção tardia de uma capela ou imagem que assinalasse as mesmas.

Gabriel Souta, da confraria, explicou que em Fátima, as pessoas desobedeceram às ordens da Igreja Católica e construíram logo uma capela.
O santuário barquense existe há cerca de 50 anos, quando em 1967 aqui foi colocada uma imagem. Dois anos depois, a 24 de junho, foi inaugurada a capelinha e só nos anos 70 foi construída a cripta subterrânea que assinala o local exato da aparição.


O ‘milagre’ de Barral só ganharia força aquando do cinquentenário das aparições de Fátima, quando o cónego Avelino Costa, natural da freguesia, foi convidado pelo santuário mariano para fazer uma conferência e disseram-lhe lá que havia uma noticia num jornal da época que dava conta da aparição se ter realizado primeiro em Ponte da Barca.

E só aí se iniciou todo o processo para tornar o lugar de Barral numa nova rota mariana e durante os anos 70 e 80 houve uma grande afluência, mas com o virar do milénio, começou a decrescer, depois da morte do cónego.
A partir do ano 2000 começou a ter mais gente ao longo do ano. Atualmente, e foram do contexto pandémico, cinco mil pessoas passam pelo Barral na altura das peregrinações de maio. Em 2019, cerca de 10 mil peregrinos assinaram o livro de visitas.





Para com Fátima, a confraria da Senhora da Paz assegurou não existir rivalidade: ”Nós também lá vamos em peregrinação, mas aqui é diferente, é mais recatado e acolhedor, com mais sombra e mais verde”, à boa maneira do Minho.


O santuário da Senhora da Paz conta hoje com uma capela, uma igreja, um museu, espaço de merendas e várias imagens que recordam Nossa Senhora, o pastor Severino e o cónego Avelino, com o ponto alto das celebrações a dar-se precisamente a 11 de maio.
A Eucaristia Comemorativa tem início pelas 19:30, na Igreja do Imaculado Coração de Maria.