Um casal de idosos foi despejado, esta quarta-feira, da habitação onde residia desde o início de 1994, na freguesia de Guilhofrei, em Vieira do Minho. A ação de despejo foi executada a meio da tarde pela comarca de Braga apoiados por militares da GNR.
José Fernando Castro, presidente da Junta de Guilhofrei, disse a O MINHO que a família perdeu a ação em tribunal perante outros herdeiros e não tem recursos para encontrar uma nova habitação. Realça ainda que os advogados “não fizeram um bom trabalho” ao defender o interesse da família.
“Há cerca de 30 anos, a paróquia ajudou a comprar esta casa e a família foi fazendo várias obras. No início só tinha quatro paredes e agora é uma habitação normal”, explica o autarca.
“No início deste ano ia ocorrer o despejo, mas a Junta conseguiu interceder junto dos atuais proprietários para que adiassem alguns meses de forma a que a família encontrasse outro local para viver, mas isso não aconteceu, porque veio a pandemia e o casal não encontrou outro local”, acrescentou José Castro.
Mulher oferece habitação gratuita a família que foi despejada em Vieira do Minho
Explica que o casal vai passar as próximas noites com uma filha, mas esta tem uma “casa muito pequena”, pelo que não poderá receber os pais a tempo inteiro.
Fonte da Câmara de Vieira do Minho disse ao nosso jornal que há um hostel na freguesia que está disponível para receber o casal, em último recurso, mas que, em conjunto com a ação social, estão a tentar encontrar uma casa para arrendar.
A mesma fonte salienta que se trata de um casal “muito pobre” e que gastou todas as economias de uma vida a fazer construção na habitação da qual foram agora expulsos.
O MINHO sabe que a família já colocou uma ação em tribunal, com apoio de terceiros, para conseguir, pelo menos, reaver o investimento feito ao longo das últimas décadas naquele espaço.
Em declarações à rádio local Ondas da Cabreira, uma das filhas do casal explica que os pais nunca ligaram às convocatórias do tribunal por considerarem que fizeram as obras ao longo dos anos e “nunca ninguém se importou”.
“Os meus pais compraram isto e há documentos de promessa compra e venda, mas o tribunal não se importou com isso”, lamenta a filha, residente em Barcelos, acrescentando que o tribunal “nunca ouviu as testemunhas” do casal.
“Os pobres estão lixados”
Em declarações ao nosso jornal, o padre Alcino Xavier da Silva, pároco de Guilhofrei, conta que foi ele que ajudou a família, há 27 anos, a adquirir a casa e um terreno anexo, fruto da solidariedade da então proprietária, de nome Alzira.
“A senhora Alzira teve pena da família e acordou comigo a venda da casa e do terreno ao lado pelo valor de 80 contos. Eu ajudei a família a pagar às prestações e ficou toda paga, temos os recibos de tudo, mas, infelizmente, ninguém apresentou a compra nas entidades competentes e agora os herdeiros agarraram-se a isso para reclamar a propriedade”, explicou o pároco.
Parde Alcino realça que a casal “é muito pobre” e que não conseguiu pagar a um advogado, tendo “deixado andar”. “O tribunal apresentou uma advogada mas esta rapidamente abandonou o caso e entregou a outra que também só fez figura de cera”, denuncia o padre.
Para o pároco, este terreno e a casa nunca deveriam ter sido anexados às partilhas dos herdeiros da dona Alzira, que faleceu em 2001 e “já não está cá para dizer como as coisas foram feitas”.
“Durante todos estes anos, e enquanto ela esteve viva, nunca reclamaram de nada, viram as obras a serem feitas, a família a viver lá, e nunca disseram nada. Agora, com as partilhas, resolveram tirar estas pessoas”, reforça o pároco, indicando ainda que “poderiam ter adquirido o terreno de forma legal através de usucapião, mas são pessoas pobres e iletradas e não o fizeram”.
O pároco termina a conversa com O MINHO a dizer que “todos os pobres estão lixados”, deixando ainda um apelo ao empresário Armando Pereira, natural daquela freguesia, para que ajude a família a regressar a casa.