No dia 04 de fevereiro, O MINHO deu voz a um apelo do movimento “Servir sem Olhar”, para angariar 500 quilos de tampinhas para adquirir uma cadeira de rodas para o Tiago, um jovem de 33 anos, de Famalicão, sem mobilidade. Entretanto, na quarta-feira, surgiu um benemérito que ofereceu uma cadeira.
O Grupo Oliveira e Fernandes resolveu, depois visitar a casa da família e verificar no local a falta de mobilidade do Tiago, oferecer a cadeira de rodas. “Depois de visitarmos o Tiago, resolvemos oferecer a cadeira. Apelamos a outras empresa e entidades que tenham a possibilidade de ajudar o Tiago, que o façam. No século XXI, não é compreensível, é desumano que alguém possa viver como esta pessoa”, refere um administrador do Grupo Oliveira Fernandes, que prefere ficar anónimo.
Tiago vive com a mãe e o padrasto na freguesia de Ruivães, em Famalicão, numa casa rural com muito poucas condições de habitabilidade. A cozinha, no rés-do-chão é escura e húmida e tem uma porta que dá para um curral, onde o senhorio cria porcos. Para chegar aos quartos e à casa de banho é preciso subir um lanço de escadas em granito pelo exterior da casa. Tiago não consegue segurar-se de pé, para se deslocar, ou usa a cadeira de rodas ou caminha sobre os joelhos. Todos os dias, para se movimentar em casa, tem que subir e descer as escadas de pedra dessa maneira.
Obrigado a caminhar de joelhos
Os joelhos de Tiago são duas enormes bolas de líquido, à força de serem usados como ponto de apoio para caminhar, há tantos anos. Não há dúvida que umas articulações naquele estado devem doer muito, contudo, Tiago não o sabe dizer, porque não fala e, apesar de todas as dificuldades que enfrenta, tem sempre um sorriso no rosto.
O problema de Tiago desencadeou-se aos três meses, quando teve uma meningite. Segundo a mãe, ainda terá caminhado um pouco, nos primeiros anos da infância, mas foi perdendo gradualmente essa capacidade, até ficar com o uso das pernas, abaixo dos joelhos, completamente comprometido.
Uma onda de solidariedade que deixa a família feliz
Paula, a mãe, conta que ainda trabalhou alguns anos, quando a sua mãe era viva e o menino era pequeno, mas quando ela ficou muito idosa e fraca e o rapaz cada vez maior, teve que se tornar numa cuidadora a tempo inteiro. “Até porque, quando lhe davam as crises, na escola, chamavam-me e nenhum patrão está para aturar isso”, queixa-se.
A família está muito feliz com a onda de solidariedade que se formou à volta do seu caso. Já estão envolvidas várias associações, clubes de futebol e particulares. Além da cadeira de rodas, o agregado familiar já recebeu um novo esquentador e uma máquina de lavar roupa. “Estamos muito agradecidos a todas estas pessoas boas que nos ajudaram”, diz Paula.
A cadeira rodas estraga-se no mau caminho de acesso a casa
Tiago, sem falar, tem uma forma de se expressar por gestos que a mãe compreende. “Ele está a queixar-se que a cadeira é nova, mas que se vai estragar toda no caminho”, explica. Na rua das Bouças, 50 metros antes da casa desta família, o alcatrão acaba e dá lugar a um caminho de lavoura. “Parece que ali vive gente e aqui vivem bichos”, queixa-se Paula, apontando para os calhaus do caminho. Para uma pessoa com pouca mobilidade, como Tiago, enfrentar as pedras daquele caminho, numa cadeira de rodas, é quase impossível. “Agora tem a cadeira e está preso em casa”, ironiza a mãe.
O presidente da Junta de Freguesia de Ruivães, Duarte Veiga, reconhece o problema. “Já há algum tempo que andamos a tentar pavimentar aquela rua, mas sem a colocação do saneamento que é responsabilidade da Câmara, não podemos executar. Também há dificuldades junto do proprietário do terreno (que é o senhorio da casa da família) para cedência de terreno para alargamento da rua. Entretanto, estamos a estudar, com o presidente da Câmara a possibilidade de criar ali um corredor de acesso para facilitar a deslocação do Tiago”, afirma Duarte Veiga.
A Câmara de Famalicão afirma que já tem este caso sinalizado, embora reconheça que era um caso escondido, antes de O MINHO dar nota da situação. O Município está a fazer um diagnóstico da situação e pretende fazer uma intervenção mais abrangente que vá além da resposta aos problemas mais imediatos.
Depois de satisfeita a necessidade da cadeira de rodas, o “Servir sem Olhar” está a trabalhar no sentido de melhorar ainda mais a vida o Tiago. Jorge Santos, responsável pelo movimento, adianta que está a trabalhar para conseguir uma cama articulada e há esforços de pessoas que preferem ficar no anonimato para colocar uma plataforma elevatória na casa. Há também uma tentativa de orientar Paula no sentido de obter outros apoios que pode não estar a receber por mau aconselhamento, afirma um dos particulares que prefere não ver o seu nome revelado.
Tiago é um grande apaixonado pelo futebol e algumas das suas alegrias, numa vida carregada de espinhos, são as vitórias do seu clube, o FC Porto. Há já quem esteja a trabalhar na possibilidade de o levar ao Estádio do Dragão.