A empresa Continental, com sede em Famalicão, está a recorrer a fornecedores alternativos para abastecer algumas das matérias-primas que vinham primordialmente da Rússia, como é o caso do “negro de fumo”, um material feito de derivados de petróleo com combustão incompleta.
Ao que O MINHO soube, essa matéria-prima era uma das mais importadas do mercado russo, mas a fábrica do grupo alemão, ainda antes da invasão da Ucrânia, já tinha desenvolvido contactos para assegurar o fornecimento desse e de outros materiais, em mercados alternativos.
Em resposta escrita a O MINHO, a Continental de Famalicão salienta que, “ainda antes da guerra na Ucrânia, e motivado pelos efeitos da covid-19, ativou os seus planos de contingência para garantir alguns stocks de segurança de matérias-primas e fornecedores alternativos, localizados por exemplo, nos países asiáticos”.
Esta contingência, portanto, não decorre da guerra, embora esteja a mostrar-se bastante útil durante este período onde sanções internacionais são impostas quase diariamente aos russos, vindas um pouco de todo o Ocidente.
Na mesma resposta, a empresa salienta que “o Grupo Continental tem fábricas de pneus em 17 países” e que, “por uma questão de princípio, a Continental tenta minimizar os potenciais riscos da sua cadeia de abastecimento alocando as suas necessidades de matérias-primas e outros materiais, tanto pela geografia, como pela localização dos seus fornecedores”.
Produção diminuiu, mas deverá normalizar no final do mês
O MINHO questionou ainda a Continental se os efeitos da guerra têm sido sentidos com impacto significativo na empresa de Famalicão, algo que a Continental admitiu, adiantando que a produção tem reduzido, mas que deverá regressar à normalidade “no final deste mês” de abril.
“Naturalmente que este conflito na Ucrânia tem prejudicado a nossa empresa. Atualmente ninguém pode prever quais serão os efeitos económicos desses impactos, na economia mundial”, considera o grupo.
E prossegue: “Na nossa empresa a produção diminuiu, primeiro pela redução de volume de produção das linhas de montagem da indústria automóvel na região EMEA, e depois para garantir stocks de matérias-primas que nos permitam assegurar os volumes contratados para a ÁSIA e NAFTA”.
“Para já e até à data”, a Continental assegura que não foi dispensado “nenhum colaborador”, tendo a empresa tomado a opção de “realizar algumas ações de formação que fazendo parte da nossa estratégia, é feita habitualmente de forma faseada ao longo do ano”.
Salienta que, “este ano, a partir de março, passamos a ter ações de formação de forma mais concentrada”.
Mas o grupo assegura que até final do mês, a produção deverá regressar à normalidade, “à medida que as cadeias logísticas alternativas vão surtindo efeito”.
O objetivo é regressar “aos volumes inicialmente previstos que contamos devem ficar normalizados até final do mês corrente”.
“Realçamos, contudo, que não podemos prever quais os efeitos económicos adicionais para a nossa empresa”, salvaguarda a empresa na resposta enviada ao nosso jornal.
Continental parou produção na Rússia em março
Entretanto, o grupo alemão suspendeu as atividades de produção na Rússia, devido à invasão daquela Federação à Ucrânia.
De acordo com o alemão European Rubber Journal, a empresa parou a produção em Kaluga, na zona oeste da Rússia, mas também bloqueou as importações e exportações a nível mundial, englobando, por isso, a fábrica de Famalicão.
Segundo o mesmo jornal, que chegou à fala com a administração central do grupo, a empresa que a Continental detêm na Rússia produz cerca de três milhões de pneus para carros de passageiros e para camiões leves. Emprega 1.000 pessoas naquele país.
“Tomámos esta decisão como resultado da guerra e das sanções”, disse Nikolai Setzer, CEO e administrator da direção da Continental, no passado dia 09 de março, durante a apresentação dos resultados financeiros de 2021.
O CEO assegura, no entanto, que todos os trabalhadores da fábrica russa estão a ser assistidos pela empresa em “todas as necessidades”.
O mesmo responsável tinha avisado que a produção na Europa poderia sofrer um atraso, devido aos bloqueios de materiais provenientes da Rússia: “Esperamos que a situação dos fornecedores por matérias-primas para a produção de pneus na Europa se vá deteriorar à luz das sanções impostas”, disse.
Em linha da resposta dada a O MINHO pela Continental em Portugal, o CEO da empresa também elucidou que os planos de contingência estavam ativos e que incluem “stocks e fornecedores alternativos”.
A Continental mostrou-se ainda solidária com o povo ucraniano, pois, embora “não tenha nenhuma fábrica na Ucrânia”, tem trabalhadores ucranianos, particularmente nos países vizinhos. “Estamos em contacto próximo com esses trabalhadores e a ajudá-los sempre que possível”, concluiu.
Sobre a apresentação dos resultados de 2021, a Continental espera atingir um crescimento entre 6 a 9% já em 2022, apesar da guerra em curso.