Criado a 25 de abril deste ano, o grupo de Facebook intitulado “Pelo regresso do comboio ao ramal de Monção” já reuniu mais de 1.200 membros em pouco mais de duas semanas. O objetivo da iniciativa é claro: mobilizar a comunidade e sensibilizar as autoridades para a reativação da ligação ferroviária entre Monção e Valença, encerrada em 1990. Os promotores apelam à união de esforços “no sentido de devolver a Monção a ligação ferroviária que com o desenvolvimento tanta falta faz na nossa vila”.
A escolha da data para a criação do grupo não foi inocente. Coincidiu com a inauguração simbólica, em plena Avenida D. Afonso III, de uma obra de arte urbana que retrata um comboio, numa homenagem clara à importância histórica da ferrovia na vila minhota. A memória do ramal, desativado há mais de três décadas, continua bem presente na população local, que hoje assiste à degradação de parte das antigas instalações, apesar de o edifício principal da estação ter sido reabilitado e servir atualmente como sede de uma banda de música.
A estação de Monção foi inaugurada a 15 de junho de 1915, integrando a então Linha do Minho. No final do século XIX, já se reconhecia a importância estratégica de prolongar a linha ferroviária de Valença até Monção e Melgaço, devido à riqueza agrícola da região e à atração das suas estâncias termais. A construção foi longa e envolveu disputas técnicas sobre o tipo de via a adotar, com algumas vozes locais a defenderem a solução de bitola estreita. A decisão final recaiu sobre a via larga, tendo o projeto avançado sob responsabilidade da divisão de Minho e Douro dos Caminhos de Ferro do Estado.
Durante décadas, a linha serviu de elo de ligação fundamental entre Monção e o resto do país, tanto para passageiros como para mercadorias. No entanto, em janeiro de 1990, no âmbito de um plano de reestruturação da rede ferroviária nacional, o troço entre Monção e Valença foi encerrado, juntamente com outros oito lanços considerados deficitários. Desde então, a região ficou privada de transporte ferroviário, uma perda que muitos consideram nunca ter sido devidamente compensada.
Nos anos que se seguiram, surgiram várias propostas para dar nova vida às infraestruturas. Em 2017, a estação de Monção foi parcialmente reabilitada, mas o restante espaço continua devoluto e em processo de degradação. Têm sido sugeridas alternativas como a criação de um museu ou a instalação de um restaurante temático, mas nenhuma proposta avançou até à data.