Se quem a construiu tinha bom gosto, é discutível. Mas criatividade e ousadia não lhe faltaram. A histórica Quinta do Bom Gosto, em Seara, Ponte de Lima, está no mercado por 2,1 milhões de euros, negócio a cargo da imobiliária Remax. Construída no final do século 19 por um excêntrico limiano que fez fortuna no Brasil, inclui um solar revivalista e uma área verde de 10 hectares totalmente murada, representando em cheio a caricatura de Camilo Castelo Branco aos emigrantes portugueses, sobretudo das zonas de Minho e Douro litoral, que regressavam ricos do Brasil, chamados de “brasileiros de torna-viagem”.
Sobre a quinta, diz um apontamento biográfico disponibilizado no portal da Câmara de Ponte de Lima que a mesma primou pela falta de enquadramento na arquitetura civil que vigorava então, mas hoje já é considerada parte integrante de “um estilo próprio, digno de estudo e de apreciação”, até porque, um pouco por todo o Minho, mas sobretudo em Ponte de Lima, vários emigrantes regressavam e construíam estes palacetes amalgamados de diferentes estilos arquitetónicos e rodeados por vinhas para demonstrar a prosperidade alcançada no estrangeiro.
Na nota da Câmara de Ponte da Lima é referida precisamente essa característica, destacando-se o portão da entrada principal da quinta, um “exemplar interessantíssimo de um certo gosto, de características neobarrocas, que um brasileiro de torna-viagem fez construir em 1891. Gostemos ou não, é um documento precioso, mais de carácter sociológico que artístico, sobre um determinado momento da história da arte portuguesa”, lê-se na mesma nota.
Na Dissertação de Mestrado em Arquitetura de Margarida Travanca, “A Memória e a Transformação – A quinta do Bom Gosto”, datada de 2011, é referido que o solar foi mandado construir “por volta de 1896” por José Maria Cerqueira, benemérito local. Três anos depois, requereu à Câmara de Ponte de Lima licença para prolongar a obra, que ficou finalizada em 1900, conforme mostra a placa do portão, situado à face da estrada que liga a Darque. Fora do muro, mas ainda em sua propriedade, construiu também uma ‘villa’ chamada Marieta, dedicada à sua amante, chamada Marieta, que lá residia. Essa casa encontra-se em ruínas.
Entretanto, na década de 1950, a quinta foi vendida a um empresário do Porto, muito graças às excentricidades do criador, que decidiu implementar todos os estilos culturais de que gostava, não só naquele imóvel, como em outros que, entretanto, foi adquirindo, provocando assim uma mistura de estilos gótico, muçulmano e brasileiro, mas também chegando rapidamente à bancarrota, obrigando-se a vender o património construído e adquirido.
Foi, naquela década, comprada por uma família de Ponte de Lima que a utilizou como casa de férias, num período inicial, e depois como quinta de produção de vinho, situação que durou até há bem pouco tempo, com o vinho a ser comercializado pela Adega de Ponte de Lima.
A quinta tem 1.146 metros quadrados, solar, edifícios de apoio e uma “vasta área de vinha, pomares e jardins”. Está circundada na totalidade por um muro de granito e existem vários percursos pedonais ao longo das vinhas no interior. A Remax destaca os “engraçados trabalhos de cantaria e carpintaria, organizado em três pisos de características muito distintas”.
O piso térreo servia para adega e garrafeira, mas também para armazenar frutas e cereais. O primeiro piso é constituído pelo átrio, a cozinha tradicional e a luminosa sala principal (com onze janelas), outras salas de menor dimensão, um quarto e a casa de banho. No segundo piso, agora bastante devoluto, só existem quartos, mas também uma “bela clarabóia que teria vidros coloridos”. O acesso vertical interior entre pisos é feito através de duas escadas de tiro sobrepostas, a do piso térreo em pedra e a segunda em madeira.
Segundo a imobiliária, “a quinta reúne um potencial fantástico para quem deseja investir num projeto com todas as condições certas para se transformar em turismo de habitação”.
A quinta está localizada na freguesia de Seara, à face da Estrada Nacional 203, a cerca de cinco quilómetros do centro de Ponte de Lima. É ladeada pelo Caminho de Santiago e fica a dois quilómetros do rio Lima.