Chama-se “Memória: Totalitarismo na Europa”. É uma exposição que está patente do átrio do Hospital de Braga, desde o passado dia 16 de fevereiro, e que invoca a memória das vítimas do “fascismo”, do “nazismo” e do “comunismo” no território europeu no século XX. E está a gerar polémica. A União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) exige a retirada da “funesta” exposição que acusa de ser “anticomunista” e ter “contornos fascizantes inequívocos”. Contactado por O MINHO, o Hospital de Braga rejeita “veemente as insinuações efetuadas” e explica que a exposição foi acolhida “no âmbito de uma iniciativa cultural e democrática”.
O que motiva a indignação da URAP relativamente à exposição é colocar o “comunismo” no mesmo patamar do “nazismo” e “fascismo”. “É absolutamente inaceitável equivaler o fascismo ou o nazismo ao comunismo, e com a cumplicidade da administração de um hospital público é gravíssimo”, declara a O MINHO Jorge Matos, da URAP.
O dirigente considera que a exposição “é uma provocação fascizante (…) aproveitando momentos conturbados como o que se vive, mas que não é responsabilidade de comunistas”. “Nem o Putin, a Ucrânia, nem o Biden, nem a União Europeia, que têm responsabilidades no que se está a passar, são comunistas”, defende.
“A que propósito vai para ali uma exposição destas?”, questiona Jorge Martos, considerando que as mostras naquele local deveriam versar o tema da saúde.
“Único objetivo de incendiar o ódio anticomunista”
Em comunicado, a URAP mostra-se “chocada e indignada e exprime o seu mais vivo protesto contra uma exposição de perfil anticomunista e assente na falsificação histórica, patente no átrio do Hospital de Braga, uma Unidade pública do Serviço Nacional de Saúde”.
“Prestando homenagem a muitos outros democratas”, a URAP realça que “não é possível ignorar ou desmentir que foram os comunistas os lutadores mais destacados na luta de 48 anos pela Liberdade e a Democracia”, pelo que “pagaram com prisões, torturas e a própria vida”.
Portanto, aquela organização afirma que a exposição, “eivada de mentiras, tem neste momento conturbado, o único objectivo de incendiar o ódio anticomunista entre os utentes, profissionais e visitantes do Hospital de Braga”.
“Mais se lamenta ainda, que um local como aquele tenha sido cedido para esta operação de contornos fascizantes inequívocos”, sublinha o comunicado, que exige “não só a retirada imediata de tão funesta exposição, como responsabiliza a administração do Hospital de Braga que, de forma leviana e perigosa, autorizou a utilização de tão nobre e vasto espaço do Hospital para aqueles fins”.
A URAP questiona ainda a Administração Regional de Saúde do Norte, a Administração Central de Saúde, o Ministério da Saúde e o próprio primeiro-minsitro, “se é possível tolerar e deixar passar, sem as devidas consequências, uma tão grave ofensa à Constituição da República Portuguesa que, implicitamente, rejeita acções de difusão e propaganda de ideias fascistas, não as permitindo em estabelecimentos públicos”.
O comunicado termina apela aos “bracarenses e todos os profissionais que trabalham no Hospital, bem como os que o visitam, para não se deixarem enganar por esta perigosa manipulação de consciências. O anticomunismo foi e é um elemento central dos fascismos, às claras ou encapotados”.
“Iniciativa cultural e democrática”
Questionado por O MINHO, o Hospital de Braga respondeu, por escrito, que a exposição “Memória – Totalitarismo na Europa”, exposta na ágora do Hospital de Braga, até dia 03 de março, é dinamizada pela Plataforma Europeia da Memória e Consciência e patrocinada pela Comissão Europeia.
“Esta exposição já passou por 20 cidades de 19 países da Europa e América do Norte desde 2012 e, em Portugal, esteve presente no Palácio da Bolsa e no Palacete da Casa do Vinho Verde, no Porto; na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa; e no Largo de Manuel Teixeira Gomes, em Faro”, salienta a resposta enviada a O MINHO.
E conclui: “O Hospital de Braga recebeu esta exposição no âmbito de uma iniciativa cultural e democrática, rejeitando veemente as insinuações efetuadas”.