Neste Artigo
ARTIGO DE OPINIÃO
Carolina Vila-Chã
Diretora da Escola Superior de Desporto, Bem-Estar e Sistemas Biomédicos do IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. Docente do departamento de Ciências do Desporto.
Com a chegada da época natalícia somos envolvidos pela magia das festas, pelos encontros familiares e delícias culinárias que invadem as nossas mesas. Muitos acreditam que praticar exercício físico é a solução para compensar os excessos cometidos.
No entanto, esta crença é incorreta e cria falsas expectativas sobre o real valor do exercício. A ideia de que este é a peça fundamental para anular os quilos em excesso, sem alterar a dieta alimentar, é simplista e não reflete a complexidade da regulação metabólica do nosso organismo.
A gestão do peso vai muito além de um simples balanço entre ingestão e consumo de calorias. O exercício, embora importante, contribui menos para este processo do que muitos imaginam.
Não ‘corra’ atrás do prejuízo
Não é incomum haver uma perceção errada sobre a quantidade de calorias queimadas através do exercício físico e a rapidez com que podemos compensá-las.
Imagine uma aula intensa de cycling no ginásio; embora extenuante, pode não queimar mais do que 400-500 calorias, o equivalente a duas rabanadas que se comem num piscar d’olhos. E para queimar as calorias de uma generosa fatia de bolo-rei, ingerida em menos de 2 ou 3 minutos, será necessário caminhar aproximadamente 40 minutos, a um ritmo moderado a vigoroso.
Parece um compromisso injusto entre o esforço exigido e a quantidade de calorias realmente eliminadas. Como se não bastasse, o corpo possui mecanismos de compensação que regulam o gasto energético, reduzindo o impacto do exercício no balanço total.
Estes mecanismos limitam a eficácia do exercício na perda de peso, explicando a razão pela qual muitos dos que iniciam um programa de exercício, sem ajustar o comportamento alimentar, perdem menos peso do que esperavam.
Portanto, quando a perda de peso é o principal objetivo para praticar exercício físico, muitos ficam desmotivados e abandonam a prática regular.
Esta perspetiva acaba por afastar as pessoas dos benefícios únicos que só a prática regular de exercício pode oferecer.
Os estudos epidemiológicos e clínicos são inequívocos: a atividade e o exercício físico têm um impacto importante na prevenção de mais de 25 doenças, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, vários tipos de cancro, depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas.
Para quem já vive com doenças, o exercício atua como um importante coadjuvante terapêutico, ajudando na gestão da doença e reduzindo, em muitos casos, a quantidade da medicação necessária.
Dê uma prenda à sua saúde: pratique exercício físico!
A prática regular de atividade e exercício físico é uma das melhores prendas que pode dar à sua saúde física e mental. E, o melhor de tudo: não precisa gastar dinheiro para dela usufruir. Basta sair à rua, usar as escadas do prédio, ou caminhar no parque, perto da sua casa.
Além disso, não precisa de uma grande quantidade de exercício para começar a ter benefícios reais.
A Organização Mundial de Saúde recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos vigorosa por semana, complementada com fortalecimento muscular e flexibilidade, duas ou mais vezes por semana.
Distribua o tempo de exercício como preferir e ainda assim continuará a obter benefícios. Para quem não consegue cumprir estes requisitos, qualquer atividade física é melhor do que nenhuma, e qualquer acréscimo trará mais ganhos para a sua saúde.
Atividade física: porque nos faz falta?
Alguns benefícios da atividade física podem ser sentidos após uns minutos.
Por exemplo, uma breve caminhada pode melhorar transitoriamente a sensação de bem-estar, humor, qualidade do sono e funções cognitivas, como a memória.
O exercício promove inúmeras adaptações fisiológicas positivas, como a formação de novos vasos sanguíneos, o que melhora a irrigação de diversos órgãos, incluindo o cérebro.
A manutenção de uma boa microcirculação no sistema nervoso é fundamental para preservar as funções cognitivas e prevenir a demência.
Diferentes modos de exercício podem oferecer diversas vantagens.
Além das caminhadas, o reforço muscular é crucial para um envelhecimento com qualidade, preservando a autonomia na realização de atividades do dia a dia, como transportar compras, subir escadas ou brincar com os netos.
Além disso, a contração dos músculos produz moléculas (miocinas) que entram na corrente sanguínea, afetando positivamente a regulação metabólica de diversos sistemas, incluindo o cardiovascular e o nervoso.
O exercício físico não deve ser visto como uma obrigação árdua, mas antes como um presente que damos a nós próprios.
É fundamental mudar a forma como se olha para o exercício, deixando de o ver apenas como uma forma de queimar calorias, e encarando-o como um tempo dedicado ao autocuidado, manutenção da saúde e fortalecimento do bem-estar.
Tal como os melhores presentes, os benefícios do exercício físico são duradouros e têm um impacto positivo em todas as áreas da nossa vida.
Natal em “movimento”
A época natalícia é uma excelente oportunidade para envolver toda a família em atividades físicas. Brincar com as crianças, organizar jogos ao ar livre ou uma dança espontânea na sala de estar são formas divertidas de manter todos em movimento.
Aproveite o ambiente festivo para fazer caminhadas em parques ou zonas decoradas com luzes natalícias. Estas atividades promovem a saúde física e fortalecem os laços familiares, criando memórias inesquecíveis.
Todos os movimentos contam! Para ganhos mais efetivos em saúde e condição física, é importante ser acompanhado por profissionais especializados em exercício físico e saúde, que saibam planear diferentes tipos de exercícios para maximizar os seus benefícios.
Não se esqueça: o melhor presente que pode dar a si próprio é a saúde, e a atividade física é uma peça fundamental para alcançá-la.
Votos de um Bom Natal Ativo!