O ex-pároco de Canelas (Gaia) Roberto de Sousa disse hoje que “não muda uma vírgula do que escreveu” numa carta que enviou ao bispo do Porto em 2014, onde relatou que um colega abusou sexualmente de um menor.
“Não mudo uma vírgula do que escrevi, não difamei ninguém, estava a falar verdade”, afirmou durante uma conferência de imprensa, dois dias depois de ter estabelecido um acordo com o antigo padre de Fafe, Abel Maia (visado no conteúdo da carta), que havia apresentado queixa por difamação e cujo julgamento iria iniciar-se na segunda-feira, no Tribunal do Bolhão, no Porto, acabando por não se realizar fruto deste entendimento.
Segundo o padre Roberto e o seu advogado, Armandino Lopes, o acordo não envolvia qualquer pedido de desculpas, mas a desistência da queixa-crime e do pedido de indemnização cível, a publicação de uma declaração nos diários Jornal de Notícias (JN) e Correio da Manhã (CM) a “manifestar solidariedade” ao colega e a prestação de declarações à Comunicação Social apenas por parte dos advogados.
A ata relativa ao acordo, a que a agência Lusa teve acesso, refere: “expresso publicamente a minha solidariedade ao padre Abel Maia, lamentando todos os transtornos causados a si, à sua família, amigos e, muito particularmente, às várias paróquias por onde passou nestes últimos anos, pelas muitas e dolorosas consequências que todos nos sofremos ao longo de todo este processo”.
“Nunca foi minha intenção, por qualquer forma, denegrir o direito ao bom nome do padre Abel Maia, até porque esses pretensos factos por mim relatados referentes ao ano de 2003 não passam de um depoimento indireto”, vincou.
Contudo, à saída do tribunal, o padre Abel Maia afirmou que o seu nome “andou na lama” quatro anos, tendo a verdade sido resposta.
“Claro que perdoo, se perdoo toda a gente, não ia agora perdoar um padre”, salientou, na altura.
Perante isto, o padre Roberto considerou ter havido “oportunismo” por parte do seu colega porque o combinado foi não falarem.
“Eles desistiram [da queixa] por iniciativa própria, não houve caridade ou misericórdia para comigo, houve foi oportunismo por parte do padre Abel Maia, ele foi desonesto porque o combinado é que não falávamos, mentiu porque subverteu os factos, a justiça faz-se dentro do tribunal e não na praça pública. Ele disse que o nome dele esteve na lama e que agora se fez justiça, mas pôs o meu nome na lama”, adiantou.
Frisando que quem pediu o acordo foi o padre Abel Maia, o sacerdote realçou que “nunca” pediu desculpa porque não tem de o fazer, não podendo passar por “mentiroso”.
Além disso, asseverou que foi constituído arguido e acusado de difamação com base numa carta que escreveu ao bispo do Porto que era “privada”.
“Tornou-se pública porque houve uma fuga de informação, algo que lamento”, recordou.
Por seu lado, o advogado de Roberto de Sousa insistiu que o acordo nunca pressupôs um pedido de desculpa, tendo esse sido proposto pela defesa do padre Abel Maia.
O causídico garantiu que estava preparado para ir a julgamento e com a convicção de que o padre Roberto de Sousa sairia absolvido.
“Tinha essa convicção, tinha a minha defesa, as minhas provas ou contraprovas, tinha a estratégia e, na minha convicção, tínhamos tudo para pensar que saíamos de lá absolvidos”, sublinhou.
Contactada pela Lusa, o advogado do padre Abel Maia, Nélson Domingues, asseverou que há por parte do sacerdote Roberto de Sousa o compromisso de publicar uma declaração no JN e CM para que todos possam ler, considerando que essa será clara para os leitores.
Na altura, o falecido bispo do Porto António Francisco dos Santos remeteu a carta para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto e, após investigação por parte do Ministério Público (MP), o caso foi arquivado.