Esterilizar ou matar? Uma caixa de Pandora aberta por cada animal de rua que nasce

Opinião de Sónia Marinho
Esterilizar ou matar? Uma caixa de pandora aberta por cada animal de rua que nasce

Esterilizar ou matar? Uma caixa de pandora aberta por cada animal de rua que nasce

Sónia Marinho, presidente da direção Associação Para a Proteção de Animais Errantes de Braga

“E tudo o vento levou (ou a falta de esterilização matou?)”

Com a domesticação de cães e gatos, o homem assumiu a responsabilidade pelo bem-estar destes animais. Seja ele qual for! Não pode haver, à partida, uma desigualdade em função do tipo de animal.

Nos últimos anos temos assistido a progressos louváveis ao nível legislativo e, sobretudo, ao nível da sensibilidade da população portuguesa para os direitos dos animais. O caminho faz-se caminhando, mas ainda há muito para percorrer.

A verdade é que, como a evolução histórica nos ensina, em tudo na vida, não se poderá agradar a gregos e troianos e teremos, sempre, os vulgarmente conhecidos como velhos do Restelo que ao invés de contribuírem para uma evolução societária, sendo treinadores de bancada, contribuem, antes, para um fenómeno grave que nos urge tutelar.

A superpopulação de animais de rua é um problema que apresenta riscos para a população, através da potencial transmissão de zoonoses, acidentes de viação e outros inconvenientes mas, também, para os animais que nascem nas ruas, pois cães e gatos errantes vivem nas ruas muitas vezes em situações de precariedade e vulnerabilidade. A maior parte dos animais que nascem nas ruas morre em poucas semanas. Os que resistem, reproduzem-se rapida e descontroladamente.

A esterilização apresenta-se como a única alternativa eficaz no controle populacional de animais errantes, pois reduz a natalidade sem agredir os direitos e bem estar animal.

Em Portugal, a lei obriga, desde 2016, as câmaras municipais a implementar programas CED (capturar-esterilizar-devolver) para gatos errantes e proíbe o abate de animais saudáveis.

Mas, a verdade, é que esta lei não define metas. Não diz quantos animais devem os municípios esterilizar, nem em número, nem em percentagem, nada. Cada um faz o que quer, Ad libitum. E andamos assim, numa roleta russa, numa montanha de diversões em que não sabemos com o que contar.

A lei é, nesse aspecto, totalmente omissa e há até municípios que não têm em curso qualquer programa CED para gatos de rua, estando há anos a ignorar a lei. Outros há que vão encetando timidamente programas de esterilização pontuais, sem no entanto se inteirarem da real dimensão do problema e da forma apropriada para o resolver.

Mas também temos bons exemplos – municípios como Sintra, Cascais e Matosinhos – onde se desenham estratégias, onde os munícipes reportam as colónias descontroladas e são ouvidos, onde o número de animais esterilizados é significativo e que se espera em breve terem todas as colónias de gatos de rua controladas, sem animais a procriar.

Outro aspecto importante que urge implementar é a obrigatoriedade de esterilização de todos os gatos domésticos que têm acesso ao exterior. Não é admissível que o governo gaste milhões de euros em campanhas de esterilização e depois qualquer cidadão seja livre de permitir que a sua gata venha dar uma voltinha e vá parir ao quintal da vizinha ou que o seu gato vá emprenhar uma série de gatas de rua. Não é compreensível nem aceitável. Sobretudo num país onde a sobrepopulação de errantes constitui um problema sério para todos e onde milhares de animais morrem numa jaula sem encontrar um lar. Porque cada um que permitimos que nasça, um outro deixará de ser adotado.

Importa que o legislador encare estas questões com seriedade. Uma verdadeira mudança de paradigma faz-se com empenho e planeamento, não com leis e medidas avulsas só para dizer que se está a fazer alguma coisa. E a mudança tem que começar em cada um de nós, pois temos obrigação de exigir ao poder local que se cumpra a lei e que se façam cumprir os direitos dos que não têm voz para falar.

E antes do legislador, cumprirá respeitar a legislação vigente. Ou não?

 
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