A 20 de outubro de 1887 foi inaugurada a estátua do primeiro rei de Portugal, em Guimarães. Foi colocada no largo de São Francisco, que, por aquela altura, era conhecido como praça D. Afonso Henriques. O momento teve honras de presença real, com o rei D. Luís I a deslocar-se à Cidade Berço, aproveitando a oportunidade para lançar a primeira pedra da Escola Industrial Francisco de Holanda. Nos dias que correm, a cidade prepara-se para os 900 anos da batalha que opôs o nosso primeiro rei às forças de Fernão Peres de Trava, o amante de sua mãe.
A construção da estátua resultou da iniciativa lançada, em 1882, pelo vimaranense, emigrado no Brasil, João Alves Pereira Guimarães, numa carta endereçada à Câmara Municipal. “Guimarães, o berço da Monarquia Portuguesa, deve dívida sagrada de gratidão, de reconhecimento e patriotismo, ao primeiro rei e fundador da Monarquia Lusitana D. Afonso Henriques”, lia-se na abertura da carta, datada de 17 de julho de 1882.
A missiva instava a Câmara a criar uma comissão central, em Portugal, para a construção do monumento, e a instituição de comissões parciais pelo reino, África e Brasil. “Só do Brasil pode obter-se a importância em donativos para a compra do Monumento em bronze fundido”, assegurava João Alves Pereira Guimarães.
A obra acabou por ser encomendada ao escultor Soares dos Reis, por 7.000$00 ( sete mil réis). Na cerimónia de inauguração, o rei D. Luís afirmou que “o povo português pagava uma dívida sagrada, ainda que tardiamente”. Com base no molde em gesso, produzido pelo escultor, foram feitas mais três cópias, uma está no Regimento de Artilharia de Vila Nova de Gaia, outra no Castelo de São Jorge, em Lisboa, desde 1947 e, mais recentemente, em 1999, foi colocada uma no jardim das Portas do Sol, em Santarém.
Já não haverá vimaranenses vivos que se lembrem da estátua do primeiro rei no largo de São Francisco, uma vez que ela foi mudada para o largo do Toural, em 1911. Inicialmente, o monumento era composto pela figura do rei assente numa base, em mármore branco. Este pedestal foi também levado para o Toural, entretanto, rebatizado pela República, que dava os primeiros passos, como praça do Fundador. Pouco depois, passou a praça do Libertador e, um mês depois, a praça D. Afonso Henriques. Para o povo, foi sempre “o Toural”.
Numa altura em que o Estado Novo se servia da história mitificada para se promover, nomeadamente da fundação da nacionalidade, fixada em 1140, e da restauração da independência, de 1640, a 21 de maio de 1940, a estátua foi movida do largo do Toural, para a sua atual localização, no monte Latito (a colina Sagrada), junto do Castelo Medieval, da igreja românica de S. Miguel (onde terá sido batizado D. Afonso Henriques) e do Paço dos Duques de Bragança. No dia 23 do mês seguinte, foi inaugurada em Lisboa a Exposição do Mundo Português, da qual ficou, entre outras coisas, o Padrão dos Descobrimentos. Nesta segunda mudança, o monumento acabou por ser amputado do seu pedestal em mármore, que hoje não se sabe onde pára.
Símbolo máximo do Vitória
Ao longo dos anos, a estátua tornou-se num símbolo de Guimarães e de algumas das suas principais instituições. O Vitória Sport Clube é o “clube do rei”, o seu estádio é o D. Afonso Henriques e, junto à porta por onde entram as equipas existe, desde 2016, uma outra estátua do fundador da nacionalidade. Esta versão, inspirada na obra de Soares dos Reis, mantém a pose do rei e foi feita em pedra, por uma empresa de Guimarães. Por alturas da inauguração, o Vitória escreveu nas suas redes sociais: “D. Afonso Henriques já tem o seu lugar no castelo”.
Guimarães prepara os 900 anos da Batalha de São Mamede
A Cidade Berço antecipa já os 900 anos da Batalha de São Mamede, que opôs D. Afonso Henriques e os senhores portucalenses às forças galegas do Conde Fernão Peres de Trava, amante de D. Teresa de Leão, sua mãe, que se assinalam em 2028. Para alguns, como a Grã Ordem Afonsina, uma associação sem fins lucrativos, constituída por um grupo de eruditos vimaranenses, 24 de junho de 1128, marca o dia em que Portugal nasceu. Segundo o seu presidente, Florentino Cardoso, a principal atividade da associação, atualmente, é “desenvolver todas as ações necessárias para o reconhecimento do dia 24 de junho de 1128 como o dia da Fundação de Portugal e, ao longo dos anos que faltam para a ocorrência dos 900 anos dessa efeméride, preparar as respetivas comemorações, com o envolvimento do maior número de instituições políticas e culturais, locais, regionais, nacionais e dos Países de Língua Oficial Portuguesa”.
Recentemente, durante uma visita do ministro da cultura, Pedro Adão e Silva, a Guimarães, o presidente da Câmara, Domingos Bragança, lançou o desafio para que se faça um filme épico sobre a fundação da nacionalidade que possa estar pronto a tempo das comemorações dos 900 anos da Batalha de São Mamede, em 2028.