“Estamos a importar mão-de-obra que muitas vezes não consegue ler. Isto não vai dar certo”

Isabel Furtado
Isabel Furtado. Foto: DR / Arquivo

Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, com sede em Famalicão, deixou algumas criticas à forma como os trabalhadores estrangeiros estão a ser recebidos, uma vez que a indústria “manda vir”, mas não tem como os acolher, apontando também que, na indústria, há necessidade de formações mais extensas, e que só assim essa mão-de-obra se poderá tornar qualificada.

A industrial famalicense falava de mão-de-obra qualificada num evento promovido pelo Jornal de Negócios, apontando um dos problemas que os empresários da indústria estão a sentir, e sugerindo a robotização e automação das tarefas “mais repetitivas”, enquanto se dá oportunidade de formação à mão-de-obra que chega do estrangeiro.

“Temos o flagelo da mão-de-obra que entra em Portugal, e digo flagelo não pela entrada, mas pela forma como quando chegam, encontram o país. Mandamos vir e não temos acolhimento sequer. Depois estes problemas sociais aparecem, mas não aparecem por acaso, estamos a exportar mão-de-obra qualificada, e a importar mão-de-obra não qualificada, que muitas vezes mal consegue ler. Isto não vai dar certo”, considerou.

Conferência Local “Indústria” | Prémio Portugal Inspirador / Jornal de Negócios

Isabel Furtado explica que há problemas de recrutamento para funções “menos nobres”, algo que obriga a “pensar de outra forma”, questionando se a “escassez de mão de obra vai continuar, principalmente para funções menos qualificadas”?

“A minha obrigação como industrial é tentar automatizar e robotizar ao máximo tudo o que são tarefas repetitivas que até sob o ponto de vista humano e social, não fazem sentido – são chatas, não acrescentam valor, são desmotivantes -, portanto, tudo que se consiga fazer automaticamente, devo fazê-lo, e pegar nessas pessoas, qualificá-las muitas das vezes, e ninguém é impossível de qualificar, nem mesmo quem tenha mais de 50 anos. É sempre qualificar pessoas e pô-las a fazer tarefas mais nobres e até de controlo às tarefas repetitivas”, afirmou.

Ainda na defesa da automação, a gestora considerou que “revistar um artigo durante oito horas nem sequer tem socialmente interesse, é quase desumano, estar ali a ver aquilo a passar”.

“Temos obrigação de pensar de outra forma. Indústrias de futuro. O que pensamos: temos de ter uma indústria eficiente, inteligente, baseada no conhecimento, com recolha de dados e análise de dados, com decisões tomadas sobre esses mesmos dados, automatizada, conectada e limpa. Isto é que é indústria de futuro. Porque toda a outra indústria já era. Não é possível trabalhar como há 30 anos, porque não temos pessoas”, concluiu a propósito desse tema.

 
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