O homem que pagou 2500 euros a um médico de Barcelos para que este metesse uma “cunha” para a filha, enfermeira, entrar no Serviço Nacional de Saúde ficou sem o dinheiro, já que o mesmo, apesar de devolvido pelo clínico, foi declarado perdido a favor do Estado.
O cidadão vai, agora, meter uma ação cível de restituição do dinheiro ao médico, e este corre o risco de voltar a devolvê-lo.
O caso prende-se com o recente acórdão do Tribunal de Braga que condenou Afonso Martins Inácio a dois anos de prisão, com pena suspensa por ter recebido 2.500 euros de um doente depois de lhe ter prometido meter a filha nos serviços públicos de saúde. Afonso Martins Inácio, ex-diretor do Centro de Saúde, foi condenado por tráfico de influência. A suspensão da pena depende do pagamento de 3.000 euros à Amnistia Internacional.
Em declarações a O MINHO, solicitando o anonimato, o pai da enfermeira disse que foi o médico que o abordou e sublinhou que foi ele que avisou a Polícia Judiciária, tendo uma brigada aparecido quando o médico devolveu o dinheiro, dado que a promessa não tinha sido cumprida.
“Não houve detenção de nenhum dos dois, mas a PJ apreendeu o dinheiro”, frisou.
O cidadão foi, então, constituído arguido e acabou por deixar de o ser já que o Ministério Público lhe aplicou a medida de “suspensão provisória do processo” por não ter antecedentes criminais.
“Tive de fazer 100 horas de trabalho a favor da comunidade e ainda fiquei sem o dinheiro. Se soubesse o que sei hoje tinha-o recebido e não falava à Polícia”, lamenta-se.
No julgamento, o médico confessou que prometeu, em 2015, influenciar, a troco de 5.000 euros, um concurso público e assim arranjar emprego para uma enfermeira, filha de um paciente.
Declarou que apenas recebeu 2.500 euros, garantindo que não veio a fazer qualquer diligência para influenciar o concurso.
Explicou que os 5mil seriam pagos em duas prestações: a primeira “à cabeça”, para “mexer os cordelinhos”, e a segunda após a colocação da enfermeira.